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Financês

Maldito petróleo!

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Sabe o que é que mais me surpreende no escândalo de corrupção na Petrobras? A demora em aparecer. Aos defensores da Petrobras, uma observação preliminar: sou fã da empresa. Sei que é um dos principais núcleos de excelência em engenharia do país e que a companhia faz pesquisa de primeiro time, se comparada com qualquer outra instituição do mundo – pública ou privada, qualquer que seja o setor.

INFOGRÁFICO: Veja o crescimento do PIB do Brasil

O problema não é a empresa, mas a área de atuação, e o momento histórico. A extração de recursos naturais, e, especificamente, a indústria de petróleo, são fontes de corrupção por todo o mundo. Ou seja: ao contrário do que pode sugerir este momento eleitoral, a corrupção não foi inventada no governo do PT (nem no do PSDB, que o antecedeu).

Há diversos estudos sobre o assunto, abordando o desenvolvimento social, econômico e institucional dos países ricos em petróleo a partir dos anos 80. Em geral, costuma-se apontar que esses países têm um desempenho econômico mediano, quando deveria esperar-se deles um crescimento superior à média, dadas as receitas extraordinárias da exploração de óleo. Além disso, eles têm desempenho inferior em diversos outros quesitos, desde a colocação das mulheres no mercado de trabalho até a transparência das contas governamentais. É mais ou menos como se você, leitor, achasse um tesouro enterrado em seu quintal. A possibilidade de você torrar parte do dinheiro rapidamente seria grande, não é mesmo? É isso que ocorre em muitos desses países.

Obviamente, não me passa pela cabeça comparar o Brasil com a Guiné Equatorial ou com a Líbia. Tudo aqui é diferente e, pelo tamanho e pela diversificação econômica, nosso país se assemelha mais a economias maduras como as do Reino Unido e da França, que nunca sofreram com a "maldição do óleo", como se costuma chamar esse fenômeno. Mas o que ocorreu com a empresa foi um processo impressionante, que a fez passar de uma estatal de importância regional para protagonista no mercado global em cerca de 20 anos.

A empresa colheu os frutos do bom trabalho de pesquisa das últimas décadas, foi beneficiada pelo aumento dos preços no mercado internacional e pelas descobertas do pré-sal (cuja exploração seria economicamente inviável se o preço do óleo estivesse na faixa dos US$ 15 a US$ 30, como na virada do século). Ninguém estava preparado para algo tão intenso, e os mecanismos de controle disponíveis se provaram insuficientes – isso ocorre mesmo com observadores internacionais considerando que o sistema brasileiro, em que a estatal petrolífera não tem poder regulatório, é menos favorável à corrupção que aquele vigente em outros países.

A companhia precisa agora escolher seu caminho e, para isso, precisa de ajuda do governo e do Congresso. O futuro não depende tanto do resultado da eleição, mas da capacidade de o Brasil desenvolver métodos de fiscalização adequados a uma empresa deste tamanho. A própria Petrobras, como empresa meio estatal, meio privada, precisa se armar internamente para não correr o risco de descambar. Há por aí dúzias de exemplos do que não fazer. O desafio é tornar-se (de novo) um exemplo de boa conduta.

Economia no debate

Lamentável a conversa sobre economia no encontro dos candidatos a presidente, no último domingo. A manipulação de informações foi uma coisa assombrosa – a ponto de ser difícil chamar, a sério, aquele programa de debate.

A certa altura, citou-se uma comparação entre o crescimento econômico de países próximos ao Brasil, como Chile e Peru. A resposta foi que o Brasil não deveria ser comparado com países como esses, mas com economias maduras, como a Alemanha, "que está em crise, como todo mundo sabe".

O gráfico ao lado mostra expectativas de crescimento econômico e desemprego para algumas economias selecionadas, tanto maduras como em desenvolvimento. O leitor pode comparar – aliás, esse é o caminho: os candidatos estão lançando meias verdades e informações incompletas para manipular o seu entendimento. Nada melhor que informação de verdade para acalmar a alma...

Mais?

Há diversas obras escritas a respeito do problema da corrupção na indústria do petróleo. Uma das mais novas e mais interessantes é The Oil Curse: How Petroleum Wealth Shapes the Development of Nations, publicação da editora da Universidade de Princeton, de 2009. O e-book sai por coisa de R$ 50.

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