Domingo à tarde, parei para abastecer o carro em um posto perto de casa. Queria pôr gasolina. A resposta do frentista me surpreendeu há anos eu não ouvia nada assim. "Acabou a gasolina. Vendeu tudo", ele disse.
A explicação que veio depois também surpreendeu. Segundo o rapaz, o posto praticamente não vende álcool (ou etanol, como quiser) há dias, por causa dos recentes aumentos de preço. Quem tem carro flex e eles têm respondido por mais de 80% das vendas de veículos novos já há alguns anos, segundo a associação dos fabricantes agora só abastece com gasolina. O resultado é que o posto que tiver um controle de estoque menos eficiente corre mesmo o risco de ficar sem produto. Ressalto isso porque a imensa maioria das empresas tem estoque de gasolina. Nas distribuidoras, a demanda cresceu, mas não há falta do produto. Não há, portanto, razão para temer desabastecimento.
Cabe, entretanto, uma reflexão a respeito de uma armadilha em que nos metemos. Como qualquer produto agrícola, a cana-de-açúcar tem seu preço influenciado pelo ciclo de produção. Quando chega a entressafra, o preço sobe, da mesma forma como acontece com os morangos quando termina a temporada da fruta. Petróleo e derivados não têm entressafra. Seus preços são mais influenciados por eventos políticos, como temos percebido com a situação da Líbia, nas últimas semanas.
Por aqui, a Petrobras tem adotado a política de "retificar" os preços do combustível. Se eles caem no mercado internacional, o litro da gasolina na bomba se mantém. Se eles sobem, a empresa também preserva os preços. Assim, o preço interno não muda tanto.
Nunca tivemos um mecanismo semelhante de manutenção dos preços do álcool combustível. E isso é plenamente possível porque, ao contrário dos morangos e de outros produtos agrícolas, o etanol não é perecível. Mais: a entressafra da cana é um evento plenamente previsível (mais uma diferença em relação ao petróleo; quem imaginaria, há um ano, que Muamar Kadafi estaria agora lutando para se manter no poder?).
Essa imprevidência afeta diretamente o bolso do consumidor e mexe com os índices da inflação, inclusive. Em janeiro e fevereiro, de acordo com o IBGE, o preço do álcool subiu 9,62% em Curitiba. No mesmo período, a inflação acumulada na capital ficou em 1,61%.
Na bolsa
Com o preço do petróleo em alta no mercado, as empresas do setor ganharam fôlego extra na bolsa de valores. A OSX valorizou-se 12,4% nos últimos 30 dias. A HRT, cujo IPO ocorreu em outubro do ano passado, ganhou 4,4% no mesmo período. Já o Ibovespa perdeu 2,2% nesse intervalo. As preferenciais da Petrobras subiram 2,7% uma valorização mais comedida, mas ainda assim muito interessante, em se tratando de período tão curto. Vale lembrar que blue chips como a estatal não costumam dar saltos tão intensos nem cair muito fortemente em momentos de crise.
Também é bom observar que, em momentos de crise, o mercado quase sempre reage estipulando preços segundo o pior cenário nesse caso, de um petróleo muito caro por um período muito longo. Esses cenários raramente se confirmam. Em consequência, os preços retornam a patamares bem próximos dos anteriores. Entre um momento e outro, os investidores mais antenados vendem seus papéis e embolsam a diferença (esse é o movimento conhecido no mercado por "realização de lucros", que é quando os ativos são vendidos e se transformam em dinheiro de verdade no bolso de alguém, gerando como efeito a queda nos preços).
Se quiser se arriscar, portanto, conheça os riscos.
Melhor cenário
Deixe o carro em casa e ande um pouco mais a pé. Pontos positivos: menos gasto com gasolina; colesterol e glicose sob controle; alívio para o estresse. Conseguir ganhos na bolsa é bom. Mas uma vida saudável é o melhor resultado para qualquer investimento.
Apimec
Investidores e curiosos a respeito do mercado de ações terão uma oportunidade interessante durante a ExpoMoney, evento de educação financeira que ocorre em Curitiba nos dias 5 e 6 de abril. O Itaú Unibanco realizará durante a programação uma reunião de apresentação da empresa, em parceria com a Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais (Apimec), aberta aos interessados. Esses encontros normalmente são fechados aos analistas. Na ExpoMoney do ano passado, a Apimec-Sul realizou um encontro com a Petrobras. Desta vez, o banco fechou acordo com a organização da feira e fará reuniões em todas as 13 edições regionais que ocorrerão em 2011.
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