Vários anos atrás entrevistei um economista estrangeiro que vivia no Brasil. Admirado, ele dizia que o tecido social brasileiro era “mais duro que couro de anta”, porque não se rompia com a intensa crise que se abateu sobre o Brasil nos anos 80/90. Lembrei disso quando via as notícias sobre a queda de 3,8% no PIB de 2015.

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Não sei muito bem como é couro de anta, mas entendo o que ele queria dizer: por menos do que isso, países vizinhos enfrentavam protestos que duravam dias, muitas vezes controlados à custa de força bruta. No Brasil nada de tão drástico jamais aconteceu.

Mas não dá para dizer que tudo ficará como está. Depois do “duplo mergulho” de 1930-1932 – até hoje, o único período de dois anos de recessão já enfrentado pelo país – veio a Revolução Constitucionalista de 1932. As recessões de 1981 e 1983 levaram à virada que deu ao antigo MDB a proeminência na política nacional e abriu caminho para a redemocratização. O recuo de 1988 certamente ajudou a consolidar os sentimentos que levaram à eleição do outsider Fernando Collor, no ano seguinte. Os encolhimentos de 1990 e 1992 romperam o apoio popular a Collor e facilitaram a queda de um governo atrapalhado e corrupto.

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Vai demorar alguns anos para que a gente possa ligar os pontos e entender de que forma as recessões de 2015 e 2016 mudarão a história deste país. Mas alguns personagens serão enterrados. Em caixões de couro de anta.

Vizinho saudável

Na semana passada, uma missão do Fundo Monetário Internacional visitou o Paraguai e emitiu um relatório sobre a situação econômica do país vizinho. “Contra o pano de fundo de uma desaceleração regional prolongada, a economia do Paraguai permanece relativamente resistente”, diz o documento – aqui, entenda-se a “desaceleração regional prolongada” como “profunda recessão brasileira”. Essa é uma observação importante porque a economia paraguaia acostumou-se a ser bastante dependente dos vizinhos Argentina e (principalmente) Brasil.

O FMI elogiou o fato de a lei de responsabilidade fiscal local estar “pegando” – embora haja riscos de os limites serem excedidos em 2016 – e o fato de o país estar organizando os fundos de pensão, uma área “fragmentada e desregulamentada”, que vem falhando em mobilizar a poupança nacional para financiar os investimentos e o mercado de capitais. Além disso, o fundo destaca o fato de o país estar reorientando seu programa de transferência de renda para os mais pobres (o Tekoporã, similar ao Bolsa Família), que passou a incluir programas destinados a levar a população mais pobre a gerar sua própria renda e, consequentemente, depender menos do auxílio governamental.

Talvez devêssemos olhar com mais atenção o que os paraguaios fazem.

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