A semana começa em clima de conquista e expectativa para o agronegócio do Paraná. São demandas relacionadas ao transporte ferroviário de cargas e à política nacional de produção de trigo. Nos dois casos o debate interessa diretamente ao setor produtivo do estado, que discute o impacto dos trilhos no custo de produção, assim como a sua relação de custo-benefício com o modal rodoviário. O momento também é de reflexões e definições sobre a próxima temporada do cereal, que nas duas últimas safras perdeu espaço significativo, ampliou a distância entre produção e consumo e, como consequência, a dependência do produto importado, basicamente da Argentina.
A partir de um movimento liderado pela Federação da Agricultura (Faep), Organização das Cooperativas (Ocepar) e Associação de Produtores de Bioenergia do Paraná (Alcopar) o setor conseguiu prorrogar a Consulta Pública da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) que coloca em discussão as tarifas-teto que podem ser praticadas pelas concessionárias de ferrovias do país. O prazo que venceria na última sexta-feira foi prorrogado até 16 de março. O período não foi estendido pelos 90 dias como solicitado pelo setor, que ganhou pouco mais de um mês. Um posicionamento que revela certo endurecimento e até indisposição da ANTT, a considerar que fevereiro está em parte comprometido pelo feriado de carnaval ou pelo simples fato de o mês ter apenas 29 dias.
A alegação é de que a consulta ocorreu diante de continuas reclamações dos usuários de transportes não apenas do agronegócio, mas de diversos setores econômicos. Do pedido de prorrogação consta a necessidade de um prazo maior para que sejam examinadas inúmeras dúvidas que constam do modelo atual de revisão da tarifa. Segundo o documento, a ANTT precisa disponibilizar informações que permitam análises mais consistentes do modelo. As entidades pedem ainda uma reunião técnica para explicação do modelo matemático apresentado e apuração dos dados referentes aos anos de 2009, 2010 e 2011. Esses esclarecimentos são necessários porque não há clareza no modelo desenvolvido para a fixação das tarifas-teto.
Os usuários do agronegócio defendem que na revisão das tarifas a ANTT considere o fato que ao optar pelo transporte ferroviário o produtor está sujeito a outros modais, com custos adicionais à operação. Para colocar uma carga de soja ou açúcar no vagão de um trem é preciso movimentar caminhões, usar a rodovia e uma logística de transbordo. São os gastos envolvidos na solução logística intermodal, para a qual o frete ferroviário não é o único determinante na utilização do modal e no impacto das despesas com escoamento no custo de produção.
Estudo encomendado pela Faep no ano passado mostra que as empresas do agronegócio do Paraná pagam para usar o trem um valor equivalente a aproximadamente 71% do teto determinado pela ANTT. E que mesmo assim o valor do transporte se equipara ao do rodoviário, o que leva a crer que o valor do teto estaria muito alto e, em razão disso, há necessidade de revisão desse limite.
A preocupação das entidades é que por falta de transparência e de uma discussão mais ampla essa revisão que está sob consulta pública não traga nenhuma mudança. Elas citam como exemplo a tarifa-teto atual de R$ 75 por tonelada de açúcar, que com a revisão seria reduzida para R$ 63. Ocorre que a América Latina Logística (ALL) já cobra R$ 58 por tonelada entre Maringá e o Porto de Paranaguá. A ALL continua respeitando o limite e o produtor continua refém do sistema, pagando uma tarifa que é balizada mais pelo frete rodoviário do que necessariamente pela planilha de custos do ferroviário. Vale então cobrar da concessionária que pelo menos reduza o valor cobrado proporcionalmente à redução da tarifa-teto da ANTT.
Trigo
O Ministério da Agricultura (Mapa) anuncia amanhã o plano agrícola da próxima safra de trigo, que começa a ser plantada em março. O grande desafio será convencer o produtor a investir na cultura. A situação alarmante do Paraná, que é o maior produtor, com 50% da produção, expõe a crise da triticultura nacional. Nos últimos dois anos a área destinada ao cereal no estado encolheu 300 mil hectares. A depender do anúncio de mudanças radicais na política pública de incentivo ao cultivo o que é pouco provável , o trigo paranaense deve sofrer um novo revés e recuar para uma área de 900 mil hectares. Ruim para o estado, que se torna cada vez mais vítima da monocultura da soja (verão) e do milho (inverno). Ruim para o Brasil, que não trata com a devida importância um tema tão estratégico, de soberania, de sustentabilidade agrícola e segurança alimentar.
Antes do anúncio oficial, o Mapa reúne em Brasília as lideranças da cadeia produtiva do cereal. Tomara que seja para dar uma boa notícia. De repente surpreende e passa a encarar o trigo como gente grande. É esperar para ver.
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