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Giovani Ferreira

O frango nosso de cada dia

O mercado não é mais o açougue ou o supermercado da esquina, mas o Brasil e o mundo. O granjeiro não é mais aquele cara matuto, que criava frangos em galpões improvisados – quando não no fundo do quintal. Ele agora tem aviários modernos, climatizados, com capacidade não mais para centenas, mas para milhares de aves. Tornou-se um empresário do setor avícola. Os abatedouros, responsáveis pelo fomento a essa expansão e qualificação, também ganharam escala, agora industrial. Abatem milhões de cabeças por dia, empregam dezenas de milhares de pessoas e chegam a produzir frangos inteiros ou em cortes sob encomenda, ao gosto do freguês.

Com um consumo estimado em 44 quilos per capita, a carne de frango é a proteína animal mais consumida no país. É saúde, qualidade de vida e inclusão social na mesa dos brasileiros. Transformação no campo e nas cidades. Uma mudança recente no perfil da atividade, que ocorreu de forma mais consistente e estruturada somente na última década. Criar aves deixa de ser uma atividade de subsistência ou complementar para se tornar a principal, se não a única atividade. Mais presente entre os pequenos, a avicultura virou negócio de gente grande. Tanto é que médios e até grandes produtores de outras áreas, como de grãos, por exemplo, passam a investir na avicultura.

Criar, abater e consumir frango torna-se, então, interessante no Brasil. O que pouca gente se dá conta, em especial o consumidor, é de que o Paraná tem muito ou tudo a ver com isso. O estado é o maior produtor e exportador nacional de carne de frango. A produção abastece o mercado local, outros estados e cidades brasileiras, como a distante Manaus – para onde o frango paranaense é despachado via cabotagem –, e dezenas de países. Sem atravessadores e com elos bem definidos e até certo ponto autossuficientes entre si, a produção avícola talvez seja a que mais distribuiu renda entre seus agentes.

Como em qualquer outra cadeia, é evidente que do ponto de vista técnico o desempenho e a rentabilidade estão relacionados à tecnologia, eficiência e gestão do processo. Mas o grande desafio, ao qual todos estão sujeitos, é a volatilidade do mercado, que provoca oscilações de preço e custo, do produtor ao consumidor. O câmbio, então, numa combinação com a alta dos grãos, a principal matéria-prima do setor, pode ser desastroso e provocar um efeito dominó negativo na equação produção, indústria e consumo. Isso significa que, como qualquer outro segmento da economia, a avicultura cresce e, com esse movimento, também amplia seus riscos. O resultado disso é que associados, integrados, cooperados ou independentes, os avicultores e abatedouros ainda estão em busca do modelo ideal de negócio.

Além dos riscos mais inerentes à atividade, que entre outras variáveis tem seu desempenho altamente impactado pelo humor da economia mundial, a demanda trouxe consigo a concorrência. Os abatedouros do Paraná continuam sendo empresas genuinamente paranaenses, mas não se sabe por quanto tempo. As fusões, as multinacionais e a concorrência começam a mudar essa realidade, e de maneira muito rápida. O estado continuará a ser o grande player do setor, mas a concentração desse mercado tende a ser cada vez maior. Eficiência, competitividade e escala não serão apenas diferenciais, mas condição à sobrevivência. Será cada vez mais difícil sobreviver sozinho.

Pelo menos em tese, na analogia da economia globalizada, os grandes vão engolir os pequenos. Na prática, porém, o Paraná se esforça para manter o protagonismo e ditar os rumos dessa história. Coincidência ou não com o período de mudanças estruturais no setor, há dez anos que um grupo de 20 empresas do estado criou a holding Unifrango. O objetivo era atuar em conjunto, primeiramente na compra de insumos. Hoje elas são 17, que têm suas marcas próprias, mas também desenvolveram uma marca coletiva, comum a todos os associados. Eles também começam a comercializar juntos, estratégia adotada para diluir custos de logística e produção.

Não resta dúvida de que foi uma iniciativa de visão. Mas imagino que nem mesmo eles tinham dimensão do tamanho e da importância que essa união teria uma década depois. Eles consideram que ainda precisam evoluir no modelo para fazer frente aos desafios da globalização. Mas reconhecem que estão mais preparados para se manter competitivos e enfrentar a concorrência, para manter a liderança não apenas do Paraná, mas das empresas paranaenses na produção e exportação de frango.

Nem todos, porém, seguem a mesma direção. Hoje a Unifrango responde por 25% do abate no Paraná, com 2 milhões de cabeças/dia. Outros 26% estão nas mãos das cooperativas – que também são marcas paranaenses. A outra metade é partilhada entre a gigante BR Foods e os abatedouros independentes, como a norte-americana Tyson Foods, que chegou timidamente e prepara sua expansão no estado.

Então, tem gente que saiu na frente, é verdade. Mas, para aqueles que resistem ou apenas começam a se dar conta dessa nova realidade, ainda é possível rever estratégias. Mas que sejam rápidos, porque daqui a pouco pode ser tarde demais.

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