O artigo de hoje envolve um assunto que a maioria das pessoas, em algum momento, já vivenciou. Seja no trabalho, em uma entrevista ou numa conversa entre amigos. Afinal, quem nunca flagrou alguém falando algo que não sabia ou que não conhecia? Ou ainda, quem nunca presenciou uma pessoa falando sobre assuntos totalmente inoportunos em momentos inadequados? Esses, que falam sem pensar, acabam prejudicando a própria imagem dentro da companhia. Além de tudo, algumas vezes causam constrangimentos em colegas e abalam o convívio com o superior.
Uma colega de trabalho, Juliana, certa vez abordou um candidato informando-o sobre uma oportunidade profissional. Sem pensar muito, e com muita inconveniência, o indivíduo logo respondeu "Olha, não sei se você tem problema de dicção ou a ligação que está muito ruim, mas não entendi a que se refere essa vaga." Sem se importar com o comentário, Juliana, que tinha a dicção muito boa, fez algumas perguntas sobre as funções que o candidato já havia exercido na carreira, além de perguntas técnicas de seu trabalho. Em alguns momentos da pré-entrevista, ele valorizou excessivamente seus "pontos fortes". Denotou que tinha exigência excessiva com a equipe, alto comprometimento, que detinha informações privilegiadas sobre a empresa, relacionamento extremamente bom com todos da companhia em que trabalhava e incontáveis outros fatores. Disse inclusive que possuía outras competências que o currículo não apresentava e que Juliana não encontraria candidato igual a ele. Pergunto-lhe: será que esse cidadão pensou antes de falar tanta bobagem? E ainda, será que Juliana o manteve no processo? Certamente não, para ambas as perguntas.
Falar uma vez ou outra sem pensar, acontece com qualquer um. O problema é quando esse comportamento torna-se excessivo, acaba influenciando sua personalidade e, futuramente, garante apelidos como "chato", "mentiroso" ou "inconveniente" da turma. Há vários motivos que podem levá-las a se comportar desse jeito: estresse, ansiedade e anseio em chamar atenção estão entre eles. Como no exemplo de Juliana, o candidato não possuía autoconhecimento, nem percepção do que estava falando. Os pontos fortes passaram a ser pontos fracos, e seu comportamento acarretou em comentários inoportunos, prepotentes e que constrangeram a recrutadora.
Mas não é apenas em entrevistas que essas situações acontecem, o desencadeamento da fala por impulso, sem filtro, está presente na maioria das organizações. Quanto maior a companhia, maior é a diversidade de perfis presentes. E pessoas que possuem grandes chances de crescimento acabam acuando na carreira por possuir esse perfil extravagante e sem controle. Muitas vezes, inclusive, elas não sabem que esse é o motivo pelo qual não passam num processo seletivo ou não ganham uma promoção. Afinal, quanto maior o cargo, maior é a influência e peso de tudo o que diz. Por isso, a consciência sobre o que é dito precisa também ser aperfeiçoada.
Causas e características
Algumas características específicas que podem levar as pessoas a falar desta maneira são a desatenção, a hiperatividade e a impulsividade.
A pessoa impulsiva frequentemente dá respostas precipitadas antes mesmo das perguntas terem sido completadas ou de refletir sobre o assunto. Também possuem dificuldade para aguardar sua vez e ainda interrompem ou se metem em assuntos dos outros. A hiperatividade, por sua vez, também pode se revelar pela fala em demasia e em situações inapropriadas, além de uma agitação constante, como se estivesse sempre "a todo vapor".
Já deve ter passado pela sua cabeça que tudo isso está ligado ao "ser espontâneo" e que espontaneidade é bom. E certamente é, mas a ponderação é necessária. As pessoas que possuem algumas dessas características possuem a ansiedade de preencher um vazio, de quebrar o silêncio e chamar a atenção do grupo.
Algumas vezes, os outros podem passar a ver essa pessoa como superficial, que quer conhecer e falar de tudo um pouco, acredita que sabe de todas as coisas, mas na verdade não tem profundidade em nenhum assunto. Acabam, então, falando tanta bobagem.
Soluções
Para evitar que as palavras ganhem vida e saltem da boca, é preciso desenvolver a autopercepção, o autoconhecimento e o autocontrole. Conhecer os seus anseios para entender de que maneira eles estão prejudicando, ouvir mais as pessoas, ler mais sobre os assuntos que quer tratar, além de aprender melhor a se comunicar. No caso dos gestores que possuem esses perfis em sua equipe, uma prática essencial é o feedback. Ser transparente com o funcionário ajuda muito, pois sem esse retorno, dificilmente o profissional saberá o que incomoda os demais.
Além de tudo, é de praxe que o respeito às pessoas que estão ao seu redor seja praticado. Por fim, o bom e velho "pense duas (ou mais vezes) antes de falar" é um hábito saudável em qualquer situação.