Não encontrei até hoje um profissional que tenha ficado feliz após ser demitido. Por mais desmotivado que possa estar com sua empresa ou emprego, a demissão é uma separação forçada entre funcionário e empresa, e que tem um peso moral e simbólico por trás da ação em si. E, desse modo, podemos dizer que precisa ser considerado com os mesmos cuidados de um divórcio. Afinal de contas, é um momento de fragilidade tanto para quem vai quanto para quem fica, e é natural que nenhum dos dois esteja 100% preparado para ouvir ou falar a respeito.
No artigo de hoje conto a história de Celso, que mesmo após 25 anos de casa acabou sendo desligado. Celso começou como office boy da empresa, aos 17 anos, e ao longo desse tempo trilhou uma trajetória interessante. Uma graduação e duas especializações na área contábil o impulsionaram nesse percurso, conduzindo-o pelas posições de analista, coordenador e gerente na área de controladoria.
No alto de sua senioridade, um erro ocorreu. Alguns documentos foram enviados erroneamente a um cliente, o que causou um enorme prejuízo à empresa, moral e financeiro. A partir desse momento, o vínculo de Celso com a empresa ficou fragilizado e começou a se romper, até que a direção da empresa optou pelo seu desligamento.
Diante da situação, Celso se viu perdido, sem chão. Parte de sua vida havia passado ali. Toda sua carreira fora construída lá. Não conhecia outro ambiente de trabalho senão aquele.
Relutante, negou a si mesmo a situação em um primeiro momento e não quis revelar à família. Como Celso, é comum profissionais nessa conjuntura omitirem o ocorrido das pessoas mais próximas. Para muitas, contar aos familiares é mais difícil do que ouvir a própria notícia da demissão. Esconder o fato de outros é como se a pessoa ainda não aceitasse a situação para si, como se também acreditasse na possibilidade de reverter o fato - o que não é verdade. Essa reação e sentimento também são popularmente conhecidos como o "tempo de cair a ficha".
Sendo assim, Celso saía, todos os dias, com o traje formal de trabalho e "cumpria expediente" fora de casa para que ninguém percebesse. O disfarce porém, não durou muito tempo. Em função de seu comportamento e humor naturalmente alterados, sua esposa descobriu e, obviamente, prestou-lhe todo o suporte necessário.
Aquela era a força que ele precisava e, após ter deglutido a situação e terem conversado muito sobre a situação, Celso começou a prospecção de uma nova oportunidade. Para seu contentamento, conseguiu se recolocar em uma consultoria aproximadamente três meses depois.
A adaptação à nova vida não foi fácil. Sua trajetória na antiga empresa foi focada em uma única área, para os mesmos clientes, realizando os mesmos processos por muitos anos. Diante do novo cenário, a primeira reação foi a de resistência à mudança. Conforme se deparava com novos clientes, viagens, casos e histórias diferentes, pensou que não iria conseguir.
Com o passar do tempo, reparou o quão desafiador o novo emprego era e viu que ali encontraria uma ótima chance de crescimento pessoal e profissional.
Com as novas demandas, o aprendizado sobre o funcionamento de outras áreas, o aumento do networking, a participação em eventos e a experiência de novas situações, percebeu que não havia perdido sua vida ao sair da antiga empresa. Tinha conquistado a possibilidade de construir uma boa e nova história.
Desligamentos são momentos tempestuosos que eventualmente profissionais acabam passando. Eles podem ser vistos, entretanto, como um momento de transformação, atualização, de novas oportunidades para explorar ou um sinal de que chegou o momento de tirar aquele antigo projeto do papel. E nestas situações, a vontade de reconstruir a carreira e buscar uma condição nova e melhor é determinante para aumentar as chances de sucesso.
Na Coluna Talento em pauta desta terça-feira darei dicas diretas e práticas do que fazer quando se está nessa situação. Até lá!
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