Dos aconselhamentos de carreira que realizei nesses 30 anos, posso citar alguns que me deixaram uma marca especial. O de Silmara está entre eles. Ela chegou até mim a pedido de seu então gestor. Ele estava um pouco preocupado com a ansiedade de sua funcionária e me pediu que eu a aconselhasse em alguns fatores. Como é muito comum atender clientes para aconselhamento de carreira, concedi uma data com normalidade. No dia marcado estava eu esperando Silmara em uma sala de reunião, como de costume. Assim que ela adentra a sala, acabo entendendo a preocupação de seu chefe. Silmara era extremamente bonita, uma beleza de cegar os olhos. Porém, seu vestuário não combinava com o ambiente de trabalho e, francamente, chegava a ser considerado vulgar.

CARREGANDO :)

Quando começamos a conversa, Silmara me contou sobre sua desmotivação com a carreira. Seu maior desejo era tornar-se executiva e, cada vez mais, percebia que isso fazia parte de uma realidade distante na empresa em que trabalhava, sentia que os colegas e gestores não acreditavam em seu potencial e não imaginava o motivo disso. Sem titubear, disse a Silmara que para tornar-se uma executiva, primeiro é necessário portar-se como uma. O papel de uma executiva exige uma imagem pessoal que transmita seriedade, credibilidade, confiança - e não sensualidade.

Quatro meses após esse aconselhamento recebo uma ligação do pai de Silmara, pedindo para conversarmos. O assunto: ela mesma, mais uma vez. Estranhei esse pedido, afinal, nunca aconteceu nada parecido anteriormente, mas aceitei. Jorge, pai de Silmara, contou-me que depois da conversa que tivemos sobre sua carreira, ela agiu estranhamente. Ficou uma semana trancada em casa, triste. Após esse período, contratou um personal stylist , renovou seu guarda-roupa com trajes de aparência (agora sim) verdadeiramente executiva e pediu transferência para trabalhar em São Paulo. O que Jorge queria era entender como eu havia transformado a sua filha, em todo caso, não havia feito nada de mais, apenas segui meu papel de aconselhador e apontei seus erros mais visíveis que notoriamente a atrapalhavam em sua trajetória.

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Alguns anos depois, em um jantar de negócios em Caxias do Sul, encontro-me inesperadamente com Silmara, que me aborda com um grande abraço. Na conversa, contou-me que acabara de ter sido nomeada diretora do banco em que trabalhava. Embora ela pensasse nisso, eu não havia feito nenhum milagre. Silmara possuía todas as qualificações necessárias para assumir um papel de gestão. Percebi isso claramente durante nosso primeiro encontro. Faltava apenas essa "sintonia fina" entre a expressão corporal e a imagem pessoal, que estava prejudicando todo seu potencial.

Muitas pessoas possuem potenciais grandiosos, mas não têm a percepção para atentar-se a detalhes como esses, que fazem toda a diferença na carreira, sim. Pode ser que esses profissionais estejam satisfeitos ou mesmo acomodados com suas rotinas, ou por serem impermeáveis a mudanças. Por isso, é sempre interessante procurar outra opinião quando não conseguimos chegar a uma conclusão sozinhos - seja quando não estamos entendendo uma situação ou quando não está claro onde estamos errando. No caso de Silmara, o pedido de transferência também pode ter influenciado em suas conquistas.

Depois de muito tempo em uma empresa, convivendo com as mesmas pessoas, dificilmente conseguiremos reverter uma imagem já concebida e formatada de nós mesmos. Isso é natural. Pode-se dizer que a imagem pessoal possui três aspectos. A conhecida "primeira impressão" é o primeiro deles, e ocorre naqueles primeiros segundos em que uma pessoa é apresentada à outra. O segundo aspecto é a imagem considerada inicial, que acontece nos primeiros contatos e encontros. A última e mais importante, que é a imagem de fato, é aquela que devemos procurar manter e em difíceis casos, melhorar.

Em algumas etapas da vida, alguns profissionais sentem-se estagnados em sua posição, e esperar por um reconhecimento futuro é considerado quase um milagre.

Nesses casos, geralmente recomendo que uma transferência, ou mesmo o desligamento, sejam considerados. Isso pode ser um grande passo, como aconteceu com Silmara, que com a sua transferência teve a oportunidade de renovar a sua imagem e transmitir o que realmente era necessário para ser promovida. Muitas vezes, podemos não ser os melhores para nossas empresas e posições atuais, mas sempre podemos buscar o melhor em outro lugar. Basta coragem de arriscar. Finalizando, é importante lembrar que a imagem pessoal se faz com clareza de objetivos, integridade, ética, comprometimento e muitos outros fatores. Para saber mais sobre a construção dessa imagem pessoal corporativa não perca a coluna de terça-feira.

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