Uma das qualidades comportamentais mais admirada no mercado de trabalho é a proatividade. E não é para menos. Se pararmos para pensar, com o mundo tão corrido em que vivemos, se não nos adiantarmos e criarmos ideias para resolver os probleminhas que aparecem, alguém, certamente, fará isso e receberá os méritos disso no nosso lugar. Paula, porém, era uma moça que parecia não entender isso.
A moça trabalhava em uma agência de publicidade, onde lidava diariamente com clientes e fornecedores dos mais diversos tipos. Possuía excelente desenvoltura para interagir com essas pessoas, o que causava admiração por parte de seus superiores. Eles diziam, inclusive, que quando o "pepino" era grande, era melhor passar a ligação para Paula, pois, com seu jeitinho persuasivo, certamente ela acalmaria a pessoa do outro lado da linha.
Talvez seja por isso que a moça acabou esquecendo o real escopo de seu trabalho. Ela, que entrou na empresa para dar suporte à área de criação, depois de algum tempo ficou conhecida por essa facilidade em driblar a insatisfação de clientes. Com isso, seu verdadeiro trabalho não era executado, já que ela ocupava todo o seu tempo resolvendo probleminhas de outros setores.
O mais curioso é que ela se divertia com isso. Não se importava em deixar de se desenvolver em sua área, muito menos de atrasar suas entregas por conta dos favores que fazia a seus colegas. A moça, simplesmente, estava satisfeita da forma que estava e não fazia absolutamente nada para mudar a situação.
Certa vez, quando já se passavam de dois anos que a moça estava na empresa sem nenhum crescimento na hierarquia ou no salário, uma colega lhe questionou sobre o desenrolar de sua carreira dentro daquela empresa. A moça chamou sua atenção para a forma que os diretores da organização a enxergavam, sem lhe atribuir muitas perspectivas de expansão profissional. Paula, por sua vez, também não fazia muito para que isso acontecesse. Simplesmente recebia os pedidos das outras áreas, e os executava sem pestanejar.
Sua amiga sugeriu que ela fizesse algo. Poderia ser um curso de aperfeiçoamento de criação, ou então um plano de criação de uma nova área de SAC, já que a empresa não tinha, e pela qual Paula seria a responsável, ou, simplesmente, uma conversa franca com seus superiores, a fim de lhes dizer que trabalhar "dobrando" clientes não era o que ela queria para o resto da vida. A moça, porém, respondeu à amiga de forma curta e grossa: o simples fato de ter um salário que pagasse suas contas no fim do mês já era o bastante e ela não sentia a mínima vontade de mudar isso.
Era lamentável ver o que acontecia com a moça. Pior ainda era ver que seus gestores não faziam absolutamente nada para contribuir com seu crescimento profissional, nem mesmo conselhos de quem possui mais experiência.
Paula ficou dessa forma por quase quatro anos. Colaboradores entravam, eram promovidos, saíam, formavam-se, faziam cursos de aperfeiçoamento e a moça, simplesmente, continuava da mesma forma que havia entrado ali. Até que um dia (finalmente), com o crescimento da empresa, os diretores optaram por criar uma área de SAC. Porém, ao contrário do que muita gente imaginava, a moça sequer foi cogitada para trabalhar lá. Seus superiores a consideraram acomodada demais para gerir aquela equipe, e colocá-la como atendente seria dar um passo atrás na carreira da moça, o que, definitivamente, não era o caso.
Menos de seis meses depois da criação do SAC, Paula já não era tão útil à empresa. Seu verdadeiro trabalho, o de suporte à área de criação, nunca fora executado com real eficiência e ela só era mantida na empresa pela facilidade em atender às reclamações dos clientes. Agora que existia uma área especialmente montada para isso, ela havia se tornado dispensável. E adivinha o que aconteceu? O mais óbvio! Foi demitida sem dó nem piedade, pois seus serviços já não eram tão relevantes para a empresa.
E, o que é pior, o comodismo da moça não só a empurrou para fora da empresa, como fez seu nível de empregabilidade permanecer lá embaixo, sem chance de conseguir uma recolocação rápida e satisfatória.
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