A morte não é um item que costumamos colocar na agenda. Não planejamos, não esperamos. Não queremos. Porém, é inevitável. Funcionários, empresários e executivos, saibam que ela pode aparecer a qualquer momento – inclusive durante o trabalho. E deixar a empresa preparada para um momento como esse é importante para evitar um segundo impacto na vida dos que ficam – nas poupanças da família, no trabalho dos colegas e funcionários, e por que não, na sobrevivência da empresa.

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No artigo de hoje conto a história de um empreendedor que conheci há muitos anos e de quem tive o prazer de acompanhar a trajetória. Valter iniciou sua carreira de comerciante aos 26 anos. Abriu uma pequena loja de varejo em uma das esquinas do centro de Caruaru, no estado de Pernambuco. Seu negócio começou tímido, no começo ele trabalhava apenas com eletrodomésticos consignados de uma fábrica do interior. Aos poucos seu negócio cresceu, e de uma maneira lógica e natural sua empresa foi tomando a forma de uma grande organização.

Valter era um grande mestre da argumentação, um vendedor nato. Bastava alguém estar indeciso para que o seu dom da persuasão entrasse em cena e convencesse quem estivesse por perto. Além disso, o que muitas pessoas hoje consideram como estratégia, Valter carregava como um dom. Priorizava a manutenção de um bom relacionamento com todos os seus stakeholders – um dos princípios para o desenvolvimento e fortalecimento de grandes marcas.

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Com seu espírito empreendedor intrínseco, vivia buscando melhorias para o modo como geria a empresa e toda sua equipe. Foi por essa iniciativa constante de buscar melhorias que ele veio até mim. Após alguns aconselhamentos, acabamos nos tornando grandes amigos. Valter era casado e tinha três filhos – justamente como eu. Apesar de ter três herdeiros, nenhum deles demonstrava interesse de assumir os negócios do pai. Nesta situação, disse-lhe que a melhor opção era contratar um alto executivo do mercado, afinal, seu negócio precisava continuar prosperando e quanto antes ele fizesse isso, mais tempo teria para preparar o sucessor. Tendo isso em vista, decidiu contratar o executivo – pelo bem do futuro da empresa e de sua família.

Sua companhia estava vivendo uma ótima fase. Ao todo, suas filiais já alcançavam o número de 156 lojas em todo o estado. Pela dimensão dos negócios, já fazia parte de sua rotina passar horas e horas viajando para visitar todas as suas lojas e fornecedores. Pensando em reduzir o tempo gasto nessas viagens e o desgaste físico causado por elas, Valter decidiu fazer um grande investimento: comprar um pequeno avião.

Foi a melhor compra que Valter já havia feito. Nada poderia agilizar mais os negócios e seu trabalho do que esse avião. Além de atravessar grandes distâncias em um tempo muito menor, era também mais econômico do que viajar de carro – e ainda podia fazer reuniões durante os trajetos. Porém, mal sabia ele que essa decisão, em pouco tempo, teria um preço bem mais alto.

Em uma sexta-feira, Valter e seu executivo estavam indo juntos ao Recife em mais uma dessas rotineiras viagens quando, por uma falha do motor, o avião caiu. Infelizmente ninguém sobreviveu. Nem ele, nem seu sucessor e, depois desse acidente, nem a empresa.

Por mais que a rede de varejo estivesse em um período de muito sucesso, Valter falhou em não ter elaborado um plano estratégico. Seu filho mais velho, que não conhecia nada sobre o negócio do pai e tampouco tinha suas vocações, assumiu a empresa às pressas. Infelizmente, e como já era esperado, pouco mais de um mês depois a companhia teve que fechar suas mais de cento e cinquenta portas e demitir outras tantas centenas de funcionários.

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Calculistas, é isso que precisamos ser. É preciso pensar no pior cenário – por mais improvável que ele pareça. Essa não é a única história de empresa que faliu por não ter uma lista completa de atribuições, funções, planos, seguros, diretrizes estratégicas e outros documentos. Na coluna desta terça-feira darei as dicas sobre o preparo de uma empresa para casos como esse. Até lá!