Marcas nacionais e importadas sofrem com a alta de impostos e do dólar.| Foto: Brunno Covello/Gazeta do Povo

A combinação de impostos maiores com a alta do dólar impactou em cheio o mercado de vinhos neste ano. De um lado, os importadores estão apostando em vinhos mais simples e baratos em substituição a rótulos mais caros para driblar o câmbio elevado. Do outro, os produtores nacionais, que poderiam se beneficiar da alta do preço do importado, enfrentam o aumento de impostos e a quebra na safra gaúcha.

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Com o repasse dos custos para os preços, os consumidores estão optando por um vinho internacional mais barato ou por marcas nacionais. Em ambos os casos, precisam desembolsar mais dinheiro se quiserem levar um vinho para casa.

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Segundo o presidente do Instituto Brasileiro do Vinho, Dirceu Scottá, em média, 67% do preço de uma garrafa é formado por impostos, já contando com os recentes aumentos nas alíquotas do Imposto Sobre Produtos Industrializados (IPI) e Imposto Sobre Circulação de Mercadoria e Serviços (ICMS).

O presidente do conselho deliberativo da Associação Brasileira de Exportadores e Importadores, Adilson Carvalhal Júnior, afirma que o produto importado está saindo até 50% mais caro, influenciado pela alta do IPI e do dólar.

As mudanças devem resultar em uma queda nas vendas do vinho nacional, que tiveram crescimento de 6,93% em 2015. No ano passado, foram comercializados 19,8 milhões de litros de vinhos finos, 207,6 milhões de litros de vinhos de mesa e 18,8 milhões de litros de espumantes. Para 2016, a projeção é que não será possível atingir o mesmo volume. Com relação ao produto importado, a expectativa da Associação Brasileira de Exportadores e Importadores é de queda de 10% a 15% nas vendas.

Paraná

No estado, produtores, importadores e comerciantes reclamam do aumento do ICMS e da Substituição Tributária. Segundo eles, o vinho do Paraná é um dos mais caros do país. O secretário estadual da Fazenda, Mauro Ricardo Costa, afirma que o ICMS cobrado sobre o vinho é de 29%. No ano passado, havia um benefício fiscal que reduzia a alíquota para 25%. Esse benefício foi retirado e passou a valer o valor integral. Segundo o secretário, o vinho é o produto que tem a maior alíquota de ICMS no Paraná porque não é um item essencial, ao contrário de remédio que tem alíquota de 12% e dos itens da cesta básica que são isentos.

Custos em alta

O cenário começou a mudar a partir de 2015, com o aumento dos impostos e a disparada do dólar. “Era um momento para estarmos [produtores nacionais] nadando de braçada, porque temos uma alta do dólar que, teoricamente, nos dá uma competitividade. Mas isso não está acontecendo”, explica Scottá.

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O primeiro imposto a ser reajustado foi o IPI, que se aplica tanto para produtos nacionais quanto importados. Até o fim de 2015, era cobrada uma taxa fixa sobre a quantidade produzida. Com a nova lei, o imposto passou a ser de 10% sobre o valor unitário de cada garrafa. O aumento foi significativo. Para ilustrar, antes era tributado R$ 0,73 sobre uma garrafa de vinho de 750 ml que custava R$ 10. Com a alteração, o valor do tributo passou a ser de R$ 1 para o mesmo caso.

As entidades que representam o setor até tentaram diminuir a alíquota do IPI para 6%, mas a proposta não passou pelo ajuste fiscal do governo e foi vetada.

No início deste ano, veio ainda o aumento do ICMS em alguns estados, como é o caso do Paraná, que manteve a alíquota de 29%, mas retirou o benefício fiscal. “Para uma compra que eu fiz ano passado de R$ 7.300, eu paguei R$ 2.233 de ICMS. O mesmo lote, em 2016, paguei R$ 4.244”, diz Luiz Groff, proprietário da importadora e adega In Vino Veritas. Ele afirma que o custo com todos os impostos chega a 71% no estado.

Custo ficará alto mesmo com queda do dólar

A disparada da moeda americana em 2015 também prejudicou as importadoras e vinícolas. Trazer o vinho de fora ficou mais caro por causa da desvalorização do real, ao mesmo tempo em que os custos para os produtores internos aumentaram, já que muitos insumos são comprados em dólar, como os defensivos agrícolas.

Colheita

Nem mesmo a colheita deste ano ajudou o mercado nacional de vinhos. As perdas com a safra de uva do Rio Grande do Sul foram de 57%, com colheita de 301,7 milhões de quilos. A instabilidade climática, que antecipou o período de brotação e trouxe geadas, foi o principal motivo para a quebra da safra gaúcha. Na opinião do presidente do Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin), Dirceu Scottá, o que ameniza a quebra da safra é alta qualidade do volume colhido e os estoques da safra anterior.

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O presidente do conselho deliberativo da Associação Brasileira de Exportadores e Importadores (Abba), Adilson Carvalhal Júnior, afirma que mesmo com o pequeno recuo do dólar neste ano, o custo permanecerá elevado para os importadores. Eles ainda estão repassando a alta da moeda americana para os clientes.

O resultado, segundo Carvalhal Júnior, é o empobrecimento do mix de vinhos importados nas prateleiras das adegas e restaurantes. “O consumidor está trocando um produto de maior valor agregado para o de mais baixo.” Ele diz que a entidade observa o aumento no volume de vendas, mas que há uma queda na receita, já que estão sendo comercializadas garrafas mais baratas.

Para manter as vendas, a importadora e adega In Vino Veritas repassou de 40% a 45% do aumento dos custos para o consumidor. A empresa também está reduzindo custos operacionais, diminuindo as margens e garimpando marcas mais baratas e de qualidade. “Minha venda de varejo caiu 40% em valor”, diz. “Tenho minha loja há 14 anos e, pela primeira vez, não pude tirar pró-labore. Hoje, eu pago os impostos e funcionários”, diz o proprietário, Luiz Groff.