O dólar despencou mais de 3% nesta sexta-feira (23), a maior queda diária em quase dois anos, derrubado pelo plano do Banco Central (BC) de intervir diariamente no mercado de câmbio até o final do ano, por meio de um programa de 60 bilhões de dólares. O plano aliviou a pressão sobre o câmbio brasileiro, que tem sofrido com a expectativa de retirada de estímulos monetários nos Estados Unidos e com a incertezas em relação à economia do país.
O dólar caiu 3,2%, a maior queda diária desde 23 de setembro de 2011, para R$ 2,3534 na venda. Segundo dados da BM&F, o giro financeiro ficou em torno de 870 milhões de dólares. "A medida é muito boa. O BC garantiu muita liquidez para o sistema de câmbio, e ainda disse que pode fazer mais", disse o economista sênior do Espírito Santo Investment Bank, Flavio Serrano, para quem a disparada do dólar havia levado a divisa para níveis "exagerados".
Na noite de quinta-feira, o BC anunciou um programa de leilão cambial que terá um cronograma diário de intervenção por meio da venda de swap cambial tradicional --equivalente a venda no mercado futuro-- e oferta de linha, ou venda de dólares com compromisso de recompra. O objetivo, segundo o BC, é "prover hedge cambial aos agentes econômicos e liquidez ao mercado".
O programa já começou a ser tirado do papel nesta sexta-feira, por meio de um leilão de linha realizado entre 11h15 e 11h20 com data de recompra 2 de janeiro de 2014. O BC também divulgou durante a tarde os detalhes do primeiro leilão de swap tradicional do programa, que ocorrerá na segunda-feira entre as 9h30 e as 9h40. A autoridade monetária ofertará 10 mil contratos com vencimento em 2 de dezembro de 2013, sem finalidade de rolagem, e o resultado será conhecido a partir das 9h50.
A avaliação inicial de analistas é de que o programa não deve reverter a tendência de desvalorização do real em relação ao dólar, mas servirá para realinhar a moeda brasileira à de outros países emergentes. O real vinha sofrendo mais com a perspectiva de mudança da política monetária dos Estados Unidos por conta da deterioração das expectativas dos investidores com a condução da política econômica brasileira.
Para o Barclays, a tendência é o dólar passar a variar em uma banda de 2,35 a 2,40 reais. "A medida deve ajudar a conter a deterioração excessiva do real e até mesmo trazer a cotação para uma faixa de variação de 2,35 a 2,40 (reais). Mas a medida não deve reverter a tendência de desvalorização do real, que tem sido guiada pela política monetária dos EUA e pela política fiscal brasileira."
O dólar ultrapassou o patamar de R$ 2,45 na quarta-feira, atingindo a maior cotação desde 9 de dezembro de 2008, com a maior pressão vinda do mercado futuro.
Analistas agora veem um pouco menos de pressão advinda do mercado futuro, já que investidores estrangeiros estão reduzindo as apostas na valorização da moeda. Depois de atingir o recorde em quase cinco anos na sexta-feira da semana passada, quando os estrangeiros tinham posição líquida comprada de 10,9 bilhões de dólares no mercado de dólar futuro, esse valor caiu para 6,3 bilhões de dólares na última quinta-feira, o dado mais recente disponibilizado pela BM&F. A expectativa é de que esse valor diminua ainda por conta do programa do BC.
"Se os estrangeiros continuarem nesse movimento e aumentarem a ponta vendedora, a moeda pode seguir derretendo", afirmou o gerente de análise da XP Investimentos, Caio Sasaki, sobre um cenário de curto prazo. "No longo prazo, a tendência ainda segue compradora apesar da bela queda de agora", emendou.
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