O gerente administrativo Eduardo Meroti já estava de viagem marcada para Orlando, nos Estados Unidos, onde vai curtir as férias com sua mulher, Lilyane Meroti, e alguns amigos. Mas, ao ver a queda do dólar comercial — que, depois de atingir R$ 4,16 em 21 de janeiro, fechou a última sexta-feira cotado a R$ 3,29 —, Meroti decidiu incluir alguns serviços em seu pacote de viagem. Ele ainda comprou US$ 3 mil a mais do que o originalmente planejado.
“Há poucos meses, comprei a moeda por uma média de R$ 3,65 para pagar as passagens e a reserva do hotel. Com a queda, consegui comprar por R$ 3,49 e adquiri três diárias para a Disney e mais alguns passeios extras que não iríamos fazer. Só com os ingressos, eu e minha esposa vamos economizar cerca de R$ 900. Também vamos levar mais dinheiro para compras, o que também não estava nos nossos planos”, conta Meroti, que embarca no próximo dia 25.
Do pico de janeiro até agora, o dólar comercial acumula desvalorização de 20,9%. Já o turismo, que na ocasião era negociado a R$ 4,36, recuou 21,3%. A cotação do câmbio turismo é, em média, 5% superior à do comercial.
Segundo especialistas em câmbio, quem planeja fazer uma viagem ou um intercâmbio no exterior no fim do ano tem, atualmente, uma boa chance para comprar dólares a uma cotação mais atraente. Eles veem tendência de baixa, pelo menos a curto prazo. Com o cenário político mais calmo, as empresas voltando a captar recursos no exterior e juros baixos na Europa e nos EUA, o fluxo de dólares para o país deve aumentar no segundo semestre.
“O dólar está num patamar razoável, já que havíamos chegado aos R$ 4 em janeiro. É um bom momento para compra para quem está pensando em viajar ou estudar no exterior em breve”, afirma Marcos Trabbold, da corretora de câmbio B&T.
Olho no calendário político
Essa tendência de queda já mostra seus efeitos: nas casas de câmbio, a procura pela moeda americana registrou aumento de até 70%. Já a demanda nas agências de viagem e por intercâmbio cresceu 10% e 25%, respectivamente.
Na casa de câmbio Cotação, a busca por dólar na segunda quinzena de junho saltou 70% em relação aos 15 primeiros dias do mês. O tíquete médio também passou de US$ 2 mil para US$ 3 mil no período. Já na DG Câmbio, nas últimas semanas, a procura pelo dólar mais que dobrou, afirma o diretor da corretora, Valdir Junior, que recomenda fazer compras fracionadas.
“A média do dólar na Cotação vinha sendo de R$ 3,75 e chegou a R$ 3,40, por isso, a demanda cresceu tanto”, explica o operador de câmbio Cauê Piccoli.
Na DG Câmbio, nas últimas semanas a procura pelo dólar mais que dobrou, afirma o diretor da corretora, Valdir Junior. Para quem deseja aproveitar o recuo da moeda, Junior orienta a fazer compras fracionadas. João Paulo de Gracia Corrêa, operador de câmbio da corretora SLW, concorda.
“Quem vai levar US$ 2 mil, por exemplo, deve comprar US$ 500 a cada mês. Com isso, terá o dinheiro por um dólar médio. Se comprar tudo de uma vez, pode perder um pouco se o dólar baixar ainda mais”, afirma.
Junior, da DG, ressalta, porém, que momentos de queda brusca são bons para adquirir quantias mais altas. Essa avaliação é compartilhada pelo operador de câmbio da corretora H. Commcor, Cleber Alessie. Para ele, se o viajante precisa comprar US$ 10 mil para embarcar no fim do ano, este pode ser um bom momento para adquirir pelo menos US$ 5 mil, se o caixa permitir.
“Eu esperaria o fim do processo de impeachment para comprar o restante, já que o senso comum sinaliza que o dólar pode perder força frente ao real caso o governo em exercício atualmente seja mantido”, explica Alessie, que não vê o dólar voltando ao patamar de R$ 4 a curto prazo, apesar da incerteza decorrente da decisão do Reino Unido de deixar a União Europeia. “Nestes momentos de estresse, a tendência é que o investidor busque ativos mais seguros como o dólar. Por isso, a divisa pode chegar ao patamar de R$ 3,40, mas não acredito em um dólar a R$ 4”, reforça.
Viagens
De acordo com o presidente da Associação Brasileira de Agências de Viagens (Abav) nacional, Edmar Dull, a procura por pacotes de viagens aumentou pelo menos 10% em junho em relação a maio. Ele observa que as passagens aéreas estão atraentes.
“Com a crise, a menor procura e a maior oferta das companhias, os preços estão muito mais baixo do que em 2014. Além disso, a queda do dólar faz com que a passagem fique ainda mais barata”, diz.
Magda Nassar, presidente da Associação Brasileira das Operadoras de Turismo (Braztoa), afirma que este é um ótimo momento para viajar para o exterior: “Eu, por exemplo, comprei um bilhete para Las Vegas, em julho de 2014 por US$ 2.500. Hoje a mesma passagem está a US$ 800.”
Vantagem também em euro
Já o crescimento na busca por intercâmbio, de 25% na segunda quinzena de junho, é apontado por Allan Mitelmão, diretor de operações da Brazilian Educational & Language Travel Association (Belta). Ele destaca a procura maior por Estados Unidos e Europa, que haviam perdido espaço para destinos como Canadá e África do Sul.
“Houve um corre-corre grande. Vários estudantes que tinham engavetado o projeto nos procuraram, e outros que iriam parcelar os pacotes decidiram quitar a viagem”, conta.
Assim como o dólar, o euro também registrou uma baixa considerável nas últimas semanas. A estudante de moda Isabelle Santos aproveitou para realizar o sonho de fazer um curso de moda em Paris. Sua mãe, a estiticista Erika Gomes, também não quis deixar passar o momento favorável do câmbio e vai junto, para fazer um curso de maquiagem. Erika conta que a viagem, que acontecerá em dezembro, não estava em seus planos.
“A Isabelle sempre teve esse sonho. Mas não tínhamos nada planejado. Quando meu marido, que é administrador e acompanha as cotações, viu o valor do euro, nos incentivou a comprar a viagem, porque avaliou que a moeda não ficaria mais baixa. Além de acompanhar minha filha, vou aproveitar para aprender bastante também”, conta a esteticista, animada.
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