A tarifa de energia elétrica no Paraná vai ser reajustada em 15,32%, na média de todas as classes de consumo, a partir do próximo dia 24. O reajuste anual foi autorizado nesta terça-feira (16) pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Para a alta tensão, que abrange principalmente o setor industrial, o aumento será de 15,61% e, para o consumidor residencial, de 14,62%.
INFOGRÁFICO: Veja a evolução do preço da energia no Paraná
Custo da indústria com energia subiu quase 140% em 12 meses
Somado aos efeitos da bandeira tarifária vermelha, o reajuste de mais de 15% da tarifa de alta tensão da Copel vai aumentar ainda mais o peso da energia nos custos industriais. O Departamento Econômico da Federação das Indústrias do Paraná (Fiep) estima que, com o novo reajuste, a eletricidade passará a responder por 3,35% de todas as despesas do setor. Apenas um ano atrás, antes do reajuste anual de 2014, a participação desse mesmo item era de 1,4%. Ou seja, em apenas 12 meses o peso da energia subiu quase 140%.
O economista Roberto Zurcher, da Fiep, diz que não há ganho de produtividade capaz de compensar um aumento tão forte e rápido. “O faturamento da indústria paranaense hoje está 16% abaixo da média de 2013, o último ano de crescimento do setor. A produção física, nessa mesma comparação, caiu 12,5%. E, ao mesmo tempo, houve esse aumento de custo que ninguém consegue repassar integralmente”, observa.
A Fiep estima que a indústria madeireira seja o segmento mais afetado pelo aumento da tarifa – o peso da energia nesse ramo saltou de 4,42% para 10,61% das despesas em 12 meses. Outras indústrias muito prejudicadas são as de minerais não metálicos, onde o porcentual chegou a 9,85%, metalurgia (9,23%) e produtos têxteis (9,03%).
R$ 900 milhões
é quanto a Copel diz ter deixado de faturar ao não repassar integralmente os reajustes autorizados pela Aneel em 2013 e 2014. Com a alta desta terça (16), esse valor será reposto ao longo dos próximos 12 meses.
O aumento da conta de luz – o segundo neste ano – vai “zerar” a defasagem das tarifas da Copel, que em 2013 e 2014 havia segurado parte dos reajustes aprovados pela Aneel. Com isso, depois de suportar um aumento brutal de 2013 para cá, o cliente da empresa tende a arcar com altas um pouco mais suaves daqui em diante. Mas, uma vez que o setor elétrico nacional carrega um passivo de R$ 65,8 bilhões, que não se sabe como será coberto, ninguém garante que o consumidor – do Paraná e de outros estados – estará livre de sustos no futuro.
Somando o novo aumento ao reajuste extraordinário aplicado em março, de 31,87%, a fatura das residências do Paraná subiu 51% apenas em 2015. Nos últimos dois anos, o valor da tarifa mais que dobrou – mais precisamente, subiu 104%. E essa conta não inclui o impacto da bandeira tarifária vermelha, cobrada quando há restrições na geração hidrelétrica e que hoje impõe um adicional de R$ 5,50 a cada 100 quilowatts-hora (kWh) consumidos.
“Pior já passou”
Para o diretor de distribuição da Copel, Vlademir Santo Daleffe, a companhia entra agora em “um ciclo um pouco mais estável”. “Acho que o pior já passou para o consumidor. O cenário que se desenha indica que podemos esperar para 2016 um aumento não superior à inflação”, diz.
Segundo ele, a demanda da distribuidora está 100% contratada pelos próximos três anos e, por isso, a companhia não precisará recorrer à compra de energia a preços elevados no mercado à vista, como fez até 2013.
Outro ponto positivo é que, com o fim das concessões de uma série de hidrelétricas nos próximos meses – entre elas a Parigot de Souza, da Copel –, a energia dessas usinas deve ser dividida entre as distribuidoras na forma de cotas, a valores bem mais baixos que os atuais, o que tende a aliviar os custos do setor.
Na avaliação de Daleffe, a única fonte de pressão certa para as tarifas a partir de 2016 é o início do pagamento dos empréstimos emergenciais que as distribuidoras contrataram no ano passado.
Menos otimista, o diretor do Instituto de Desenvolvimento Estratégico do Setor Elétrico (Ilumina), Roberto Pereira D’Araújo, observa que ainda não há solução para uma série de “esqueletos” que o setor elétrico vem acumulando por causa dos efeitos da estiagem e, principalmente, da Medida Provisória 579, que baixou por decreto as tarifas no início de 2013.
O passivo inclui indenizações devidas a empresas de transmissão e geração e, pelas contas da consultoria PSR e do Ilumina, soma R$ 65,8 bilhões. “A questão é que não se sabe se no fim esses esqueletos serão repassados ao consumidor nos reajustes anuais das distribuidoras, ou se novamente haverá um reajuste extraordinário, ou o quê. Ninguém sabe.”
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