O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) inicia nesta terça-feira (10) mais uma reunião para decidir os rumos na taxa básica de juros da economia brasileira, a Selic. A aposta da maior parte dos analistas é de um corte de pelo menos 1 ponto percentual no indicador.

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A exemplo da reunião anterior, novamente a expectativa dos economistas é que haja uma redução significativa no índice, atualmente em 12,75% ao ano, para combater a desaceleração provocada pela crise mundial. O novo valor será anunciado na noite de quarta-feira (11) depois do fechamento dos mercados.

A resistência dos preços é o argumento do professor de finanças da escola de negócios Ibmec-SP, Ricardo Humberto Rocha, para um corte limitado a 1 ponto percentual da Selic.

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"Alguns lugares estão falando de um corte mais elevado, mas há um grande incógnita nessa reunião. Na semana passada, o BC soltou um comunicado dizendo que os os preços no Brasil são mais resistentes que nos demais lugares. Ou seja: a inflação ainda preocupa".

Segundo ele, para compensar o corte menor, o BC pode adotar o viés de baixa para a próxima reunião – o que não foi feito pela autoridade monetária até agora.

Já segundo a economista da Tendências Consultoria, Marcela Prada, o aumento do impacto da crise no crescimento doméstico reafirma a necessidade de corte de juros. Na avaliação da consultoria, o corte deve ser de 1 ponto.

De acordo com Marcela, os dados de atividade continuam fracos e desde a última reunião pioraram as expectativas para o crescimento. "Existe espaço para o Copom continuar cortando os juros", diz a economista, que prevê Selic em 10,25% no encerramento de 2009.

Cenário para corte

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O corte de 1 ponto também é a previsão do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças (Ibef). Em comunicado, Walter Machado de Barros, presidente do Conselho de Administração do instituto, diz que a "inflação sob controle, a demanda reprimida e o índice de desemprego em ascensão" reforçam o cenário para que o BC decida pela redução da taxa.

O Ibef ainda avalia que, ao mesmo tempo que promove a redução dos juros, o governo terá de seguir com medidas pontuais para promover o equilíbrio da economia em meio à crise internacional.

"A redução do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) no setor automotivo é um exemplo a ser ampliado. Cremos que serão necessárias mais atitudes do gênero para também estimular outros segmentos importantes para a economia do país", afirma Barros.

Uma redução de 1 ponto na Selic também é a projeção do último boletim Focus – pesquisa semanal promovida pelo BC entre economistas de instituições financeiras. Já para o fim deste ano, a projeção do mercado para a taxa de juros permaneceu estável em 10,25% ao ano.

A taxa Selic mais baixa já registrada foi de 11,25% ao ano, que vigorou entre setembro de 2007 e março do ano passado. Se a estimativa do mercado financeiro se confirmar, portanto, os juros brasileiros cairão ao menor nível da história antes do fim de 2009.

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Queda mais acentuada

Mas há quem espere uma queda ainda mais acentuada. Segundo a consultoria Rosenberg & Associados, a desaceleração da economia deve trazer rapidamente a inflação à meta do governo, permitindo que o Copom seja mais agressivo na flexibilização monetária. "Ou seja, o corte de 1 ponto percentual na próxima reunião é o mínimo que podemos esperar."

Os dados sobre a produção industrial divulgados na semana passada também contribuíram para que o Banco Fibra mudasse sua expectativa de redução na Selic de 1 para 1,5 ponto. "Para o restante do ano, as incertezas no cenário externo dificultam quantificar a magnitude total do ajuste, mas já trabalhamos com uma taxa de juros de um dígito antes do final de 2009", informou o banco em nota.

Para Miguel Daoud, consultor da Global Financial Advisor, a queda deve ficar entre 1 e 1,5 ponto percentual. "Os últimos números sobre a produção industrial vieram muito ruins e o PIB do quarto trimestre (a ser divulgado nesta terça) também deverá vir muito baixo. Isso pode levar o BC a fazer um corte maior que na última reunião", avalia.

No entanto, para Daoud, existe uma limitação para que o BC reduza a Selic. "Ao contrário de outros países, aqui a inflação não caiu na mesma proporção que a atividade. Isso ocorre porque temos deficiências estruturais e características diferentes dos demais países. Por exemplo, se o BC cortar muito os juros, o governo tem dificuldades para rolar sua dívida", analisa.

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Menores da história

Na última quinta-feira, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, disse que os juros de mercado, de 360 dias, assim como os juros reais (calculados após o desconto da inflação), já estão no menor patamar da história.

O presidente do BC também observou, porém, que há um fenômeno mundial em curso, o aumento dos "spreads bancários" (diferença entre a taxa de captação dos bancos e aquela cobrada dos tomadores finais do crédito) por conta da crise financeira internacional.

"Mesmo com a queda dos juros, os spreads subiram muito. É a disfuncionalidade dos mercados", disse Meirelles, acrescentando que os spreads bancários brasileiros têm de voltar aos níveis pré-crise e até abaixo disso.

Corte agressivo

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Na última reunião, realizada em janeiro, o BC optou pela agressividade e reduziu em 1 ponto percentual na taxa de juros. A decisão, porém, não foi unânime. Três diretores do BC queriam um corte menor, de 0,75 ponto percentual, para 13% ao ano.

O Banco Central não reduzia os juros desde setembro de 2007. O corte de 1 ponto percentual foi o maior desde dezembro de 2003, quando a taxa Selic recuou de 17,5% para 16,5% ao ano.

Mesmo com o corte, a decisão ainda não retirou o Brasil da liderança no ranking mundial dos juros reais (calculados após o abatimento da inflação). Para que isso acontecesse, teria sido necessária uma redução de 3 pontos percentuais, para 10,75% ao ano, na taxa Selic.