A primeira coluna que escrevi aqui, em abril do ano passado, continha uma frase que, lida agora, soa estranha. O assunto era o crescimento do mercado imobiliário, reforçado por medidas favoráveis do governo e pelo bom momento do país. "Pela primeira vez em muito tempo o trabalhador tem algum dinheiro no bolso e não vê seu emprego ameaçado", dizia o presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil, Hamilton Franck.
Não havia nada de errado com a constatação. O momento era único e os brasileiros estavam tirando justo proveito disso. Consumiam, compravam imóveis, automóveis, investiam na bolsa, viajavam. Mas 11 meses se passaram e o Brasil é outro, com desemprego em alta, produção industrial em queda livre um clima de fim de festa na economia.
Mas vamos dar uma olhada nas taxas de juros. A taxa Selic, que é definida pelo Banco Central e serve de parâmetro para todo o mercado, está hoje em 12,75% ao ano. Deve baixar o Comitê de Política Monetária reúne-se hoje e amanhã com a missão de estabelecer uma nova taxa , mas precisaria cair 1,5 ponto para chegar ao ponto em que estava naquela primeira semana de abril. Taí algo difícil de acontecer.
Há uma correlação muito simples entre a taxa de juros e a atividade econômica. Quanto mais alta ela é, maior a tendência de empresas e pessoas físicas guardarem o dinheiro no banco, rendendo juros, em vez de arriscar em alguma atividade de maior risco como abrir uma fábrica nova, por exemplo. Com juros baixos, o dinheiro sai da casinha, o que resulta, no fim das contas, em mais consumo e mais emprego. Não assim tão simples, mas é basicamente isso.
O problema é que o Banco Central meteu-se numa sinuca. Sua obrigação é usar a taxa de juros para manter a inflação dentro da meta (4,5% para 2009) essa é a justificativa para a Selic ainda estar nesses 12,75% ao ano. Mas a inflação, teimosa, não baixa nem com a economia devagar-quase-parando como está agora.
O que farão Meirelles e seus colegas? Será que se lembrarão que dessa decisão depende o emprego de muita gente?
Questão de tempo
Quem faz investimento com data marcada para o saque acaba sofrendo um pouco mais. Não quer ver o dinheiro parado, mas encontra dificuldade para selecionar uma aplicação que seja vantajosa. É o caso da leitora Kátia, que está em busca de uma aplicação para os próximos oito meses.
"A solução para ela vai depender do valor disponível e da instituição financeira com que ela trabalha", diz a professora Ana Paula Mussi Cherobim, especialista em finanças pessoais do Departamento de Administração da Universidade Federal do Paraná. Segundo a professora, a alternativa mais indicada para Kátia é um fundo de renda fixa conservador. Aí é que as coisas se complicam, por duas razões. A primeira é a tributação: as aplicações em renda fixa seguem uma tabela regressiva, e quem mantém a aplicação por um prazo entre seis e 12 meses (caso da leitora) terá de entregar à Receita 20% dos rendimentos. A outra é a taxa de administração, que os bancos cobram em todos os seus fundos de investimento.
O valor é importante justamente por causa da taxa de administração. Quem tem mais dinheiro na conta pode conseguir tarifas mais amigáveis com o banco. "Uma boa tarifa é de, no máximo, 2% ao ano", diz Ana Paula. Tem banco por aí cobrando mais do que o dobro.
Nos últimos oito meses (de 4 de julho de 2008 até ontem), o CDI, que serve de referência para a renda fixa, rendeu 8,77%. Como as taxas de juros estão em queda, pode-se esperar um pouco menos para os próximos oito. Daí tem de tirar ainda a tributação e a tarifa. Por isso mesmo, se o valor a investir for menor do que R$ 5 mil, a opinião da professora Ana Paula é que o dinheiro fica mais seguro na caderneta de poupança, que é isenta de Imposto de Renda e não tem tarifa nenhuma.
Uma outra opção para a leitora seria a aplicação em CDBs "desde que a remuneração seja de pelo menos 85% do CDI", opina Ana Paula Cherobim. Há dois meses, isso seria bem simples, mas a rentabilidade andou caindo. Aqui mesmo, nesta página, tem uma matéria contando tudo.
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