A retração da economia pode ter desanimado empresários brasileiros, mas não diminuiu o ímpeto de investidores estrangeiros em adquirir novos negócios e criar raízes por aqui. Enquanto o total de fusões e aquisições diminuiu, devido à baixa nas transações envolvendo empresas locais, a participação de companhias de fora nestes negócios aumentou e chegou a metade das operações, no maior patamar dos últimos anos.
INFOGRÁFICO: Veja mais dados sobre fusões e aquisições de empresas brasileiras em 2015.
Segundo a consultoria KPMG, das 589 fusões e aquisições registradas no país até setembro, 50% envolveram empresas estrangeiras comprando companhias brasileiras –tanto as controladas por empresários locais quanto as detidas por outros investidores de fora do país. Apesar dos números variarem, o cenário é reforçado por outros estudos, como o da PwC. Pesquisa da companhia de assessoria mostra que, pela primeira vez em 14 anos, o número de transações de janeiro a novembro envolvendo estrangeiros foi maior do que os negócios entre brasileiros – 311 contra 299.
Para a PwC, o fato de os estrangeiros estarem à frente dos investidores nacionais no interesse em ativos brasileiros é um reflexo do atual momento vivido pela economia do país, cercada por incertezas políticas e com o real fortemente desvalorizado – desde o início do ano, o dólar subiu mais de 40% e deve terminar o ano no patamar dos R$ 4. “O câmbio é um fator que se soma a outros, mas é importante. Para quem realmente pôs o Brasil no seu plano estratégico, seja porque quer entrar neste mercado ou incrementar sua atuação aqui, é um atrativo a mais. É um bom momento porque a aquisição, seja em dólares ou euros, fica mais barata”, destaca o sócio da PwC Brasil Fábio Niccheri.
Consultores são unânimes em afirmar, porém, que os planos dos investidores estrangeiros são construídos na grande maioria a médio e longo prazo, o que descarta “aventuras” para aproveitar a alta recente do dólar.
Conta ainda a favor do Brasil o fato do país seguir como uma das principais economias da América Latina, com um mercado consumidor visto como estratégico para os negócios de grandes empresas – percepção que não deve mudar por enquanto, mesmo com a turbulência política e econômica.
“O mercado ainda está aquecido, vamos continuar vendo esse interesse das empresas estrangeiras por mais que o cenário local deteriore. O Brasil tem um grande potencial de consumo e é um país aberto a novas tecnologias, o que acaba facilitando a atuação de empresas inovadoras. Fatores como esses atraem investidores externos”, destaca o diretor da área de consultoria da KPMG no Brasil, Eduardo Navarro.
US$ 64,29 bilhões
É o valor envolvido em operações até o dia 15 de dezembro em que companhias brasileiras foram adquiridas ou se juntaram a corporações do exterior, conforme levantamento da consultoria espanhola Transactional Track Record (TTR), que registrou 272 transações deste tipo. No ano passado, a TTR contabilizou 288 transações entre empresas brasileiras e estrangeiras, que somaram US$ 63,95 bilhões. Em 2013, foram 273 operações, que movimentaram US$ 33,3 bilhões.
Setor de TI se destaca entre os negócios mais visados
Desde janeiro de 2014, segundo estudo da PwC, as empresas de Tecnologia da Informação (TI) são as de maior interesse de investidores em fusões e aquisições, tanto entre os empresários locais quanto estrangeiros – o setor de TI foi responsável sozinho por 17% das transações neste ano, até novembro, seguido por serviços auxiliares, que contabilizou 11% das operações no país.
O “boom” dos negócios de TI pode passar despercebido do grande público porque geralmente são transações envolvendo quantias menores em comparação a outros setores e que, muitas vezes, não têm os valores anunciados. Para o sócio da PwC Brasil Fabio Niccheri, o interesse dos investidores pelas empresas de Tecnologia da Informação não deve esfriar tão cedo. “Um dos motivos para isso é que é um setor com possibilidade de expansão muito forte. A tecnologia hoje é muito dinâmica e é importante para as empresas conseguirem eficiência. E também é um setor muito pulverizado e as oportunidades de consolidação (em que uma grande empresa adquire concorrentes) acabam sendo relevantes”, destaca.
Reforma tributária promete simplificar impostos, mas Congresso tem nós a desatar
Índia cresce mais que a China: será a nova locomotiva do mundo?
Lula quer resgatar velha Petrobras para tocar projetos de interesse do governo
O que esperar do futuro da Petrobras nas mãos da nova presidente; ouça o podcast