Para quem cresceu acostumado com a estabilidade do Plano Real, a crise atual tem um quê de novidade. Inflação alta, falta de empregos e alto endividamento são anomalias econômicas que o país tinha superado – com alguns tropeços no meio do caminho, é verdade. Justamente esses jovens que cresceram na calmaria econômica é que mais têm sofrido com os solavancos do país.
Dados do IBGE mostram que no primeiro trimestre de 2016, 24,1% dos jovens entre 18 e 24 anos estavam desempregados, um crescimento de 6,5% em relação ao mesmo período do ano passado. Para a população geral, a taxa de desocupação no início deste ano foi de 10,9%.
Não consigo pagar o cartão porque não tenho emprego e não consigo emprego porque as empresas não contratam negativados.
Manoel Pereira, de 19 anos, e sua namorada Laira Caroline Pereira, 20, sentem o impacto destes dados no dia a dia. Ele está desempregado há três meses e ela há um ano. Na manhã da última quinta-feira (2), ambos enfrentaram seis horas de fila para pleitear uma das 350 vagas anunciadas pelo supermercado Festval, em Curitiba. Laira, que é técnica em meio ambiente, conta que nunca tinha sido tão difícil encontrar um emprego. “Nunca tinha ficado tanto tempo desempregada. Apesar da minha formação, estou tentando a vaga no supermercado. A gente tem que optar pelo que tem”, diz.
Manoel, que começou a trabalhar aos 13 anos fabricando cadeiras de vime, já trabalhou em oito empresas diferentes, apesar da pouca idade. Ele conta que em outros momentos chegou a pedir demissão por não vislumbrar possibilidades de crescimento dentro da empresa, atitude que hoje não repetiria.
Eline Kullock, presidente do grupo Foco e especialista no estudo de gerações, conta que a troca frequente de empregos é uma das características da geração atual. “Esses jovens foram criados com uma resistência baixa à frustração. Então, quando as coisas não estavam boas, pediam demissão e conseguiam emprego na empresa ao lado”, afirma.
A dificuldade em conseguir emprego também atinge jovens com formação superior. Quando Lanaha Gapski entrou no curso de engenharia civil, a promessa era de que a demanda do país por engenheiros era enorme e uma colocação no mercado de trabalho era certa. Seis meses depois de formada e sem conseguir uma colocação em Curitiba, a jovem voltou a morar com a família, em Guarapuava, e hoje trabalha na empresa do pai. “Achei que o mercado estaria melhor. Estou tentando concursos públicos no Paraná e pretendo fazer uma especialização”, diz.