Com o a redução de vagas públicas federais, os concurseiros Gilmar Domingues e Glauciany Staskoviak se preparam para concursos estaduais| Foto: Antônio More/Gazeta do Povo

A profunda crise fiscal pela qual passa o país fez secar a fonte de concursos públicos federais, que englobam algumas das carreiras mais desejadas do país. Até 2013, a União autorizava, em média, a abertura de mais de 20 mil vagas por ano. No ano passado, foram apenas 7 mil, até a equipe econômica decidir que o corte de gastos só seria possível com um congelamento nos concursos. Neste ano, foram apenas 26 novas vagas.

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Em setembro do ano passado, o então ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, e o ex-ministro da Fazenda, Joaquim Levy, propuseram a suspensão de concursos públicos para os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário no intuito de conter gastos. Em junho de 2016, o ministro interino do Planejamento, Dyogo Oliveira, reafirmou a decisão, destacando que a oferta de seleções estaria suspensa até 2017.

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A notícia pegou de surpresa quem almejava uma vaga no âmbito federal. A suspensão dos concursos públicos mais concorridos do país fez com que concurseiros e cursinhos preparatórios precisassem se reinventar. O coordenador pedagógico do Cursinho Solução, em Curitiba, João Viana, conta que, diante da medida, muita gente passou a focar em oportunidades estaduais e municipais. Além disso, os mais determinados, se adiantando ao fim da crise, têm aproveitado a baixa nas ofertas para adiantar os estudos na esperança de que em 2018 as contratações vão voltar.

Estabilidade

Algo que tem se mostrado comum, segundo alguns cursinhos, é a procura por empregos permanentes no setor público em decorrência da situação econômica, mesmo que não seja nas carreiras mais concorridas. Em busca de segurança em um período tão inconstante, Glauciany Staskoviak, 39 anos, começou a estudar diariamente para concorrer a um emprego no governo doeEstado e entrou para o rol dos concurseiros no exato período de cortes em vagas públicas federais. “Nesta época de crise, procuro estabilidade. E enquanto aparecerem concursos, eu vou tentar”.

É o caso do tecnólogo em automação industrial Gilmar Domingues, 30 anos. Concurseiro há 5 anos, espera ser chamado para um dos processos seletivos em que já passou, mas não deixou as apostilas de lado. Confiante de que as reduções sejam apenas reflexo de uma fase ruim, acredita que o problema passará em breve e quer estar preparado para quando melhores oportunidades voltarem. Por enquanto, se planeja para concursos estaduais.

A oferta de vagas estaduais também não tem sido grande. Segundo a Casa Civil do governo do paraná, que integra a Comissão de Política Salarial, responsável pela autorização de concursos públicos, existe um grande esforço para evitar novas contratações por conta da queda da arrecadação. Em nota, o órgão também informou que tem realizado chamadas regulares de candidatos aprovados em concursos anteriores e mantém abertas inscrições para um processo seletivo na área da saúde. Há 969 vagas e os salários variam entre R$ 1.826,09 e R$ 3.892,60.

O coordenador geral do Curso Preparatório para Concursos Públicos em Curitiba (Cenpre), Wolmar Brasil, também defende que o momento é propício para potencializar a aprendizagem. O professor conta que, embora o corte tenha desanimado muitos alunos, a retomada da procura por aulas de preparação tem sido gradual e, entre os motivos desse movimento está a tese de que esta é uma boa hora para estudar. “Se você sai da fila, perde a vaga”.

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O cenário de cortes que agora traz dificuldades está ligado ao processo de crescimento e retomada da economia. E é ele que trará novas vagas daqui a um tempo .

José Matias-Pereira Professor de Administração Pública da Universidade de Brasília

Esta não é a primeira vez que os concurseiros precisam lidar com cortes em seleções públicas. João Viana conta que, em 33 anos de atuação na área, muitos altos e baixos na economia afetaram as expectativas de quem estuda. O país passou por cortes pesados no orçamento no início do Plano Real, por exemplo, e depois da crise cambial de 2002.

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Contenção deve se prolongar com ajuste fiscal

O professor de Administração Pública da Universidade de Brasília, José Matias-Pereira, prevê que o freio nas contratações deva continuar forte pelos próximos 18 meses.

Mas ele defende que a trava momentânea com possíveis impactos negativos também sobre o desempenho dos serviços prestados pelo Estado é um mal necessário num momento em que o déficit público para este ano ficará acima dos R$ 170 bilhões. “A adoção de medidas restritivas como essa é importante para que o país reorganize as contas públicas e volte a crescer”, diz Matias-Pereira.

O professor compara o atual cenário caótico às dificuldades encaradas pelo governo na década de 1980, quando o crescimento do país degringolou.

Durante a chamada década perdida, a redução de vagas públicas foi acompanhada de diminuições nos salários dos servidores, que levaram muitos deles a abandonarem seus cargos, conforme conta o professor.

A reorganização da máquina estatal no início da década de 1990 melhorou a situação no serviço público. “Não se pode perder a esperança. O cenário de cortes que agora traz dificuldades está ligado ao processo de crescimento e retomada da economia. E é ele que trará novas vagas no futuro”, diz o professor.