“Nenhuma pessoa sozinha pode fazer milagres”, diz a economista italiana Teresa Ter-Minassian.| Foto:

A economista italiana Teresa Ter-Minassian conta que, como fã do Brasil, vê a retração da economia com tristeza. Atual consultora do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e ex-diretora do Departamento Fiscal do Fundo Monetário Internacional, ela chefiou a missão brasileira do FMI entre 1997 e 2001 e reconhece que o Brasil terá mais dificuldade para sair da atual crise do que em 1999. O principal motivo? A crise política. E, referindo-se ao ministro da Fazenda, Joaquim Levy, Teresa diz que “nenhuma pessoa sozinha pode fazer milagres”.

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Como a senhora viu o resultado do PIB brasileiro?

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Esperava um resultado negativo, mas os números são um pouco piores do que eu previa. O que é muito desolador é a composição da queda: há uma redução muito forte nos investimentos, que deveriam ser a esperança para o futuro do país. E as exportações caíram em termos reais. É difícil, para o próximo ano, alguma recuperação no consumo das famílias, que ainda enfrentarão dívidas elevadas, juros altos e perspectivas ruins para o mercado de trabalho. A única esperança seria uma recuperação do investimento, se o quadro político melhorar. Não sou a primeira a dizer isso, mas, com tanta incerteza sobre a continuidade do governo e o rumo da política econômica, é muito difícil conseguir uma recuperação do investimento.

A abertura do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff pode levar o Brasil a perder o grau de investimento e piorar o cenário econômico?

Os acontecimentos políticos não são um fator determinante para as agências de rating. Elas olham variáveis econômicas, como crescimento, inflação, balança de pagamentos, déficit orçamentário, dívidas pública e externa. Mas essa decisão pode ser influenciada pela evolução e as perspectivas políticas e sociais. Além disso, na medida em que um processo de impeachment seja prolongado e controverso, aumenta muito a incerteza, afetando a economia de forma adversa e reduzindo a confiança das famílias. Isso torna ainda mais difícil para o governo tomar as medidas de ajuste necessárias e realizar as reformas, o que pode contribuir para a piora da economia e, indiretamente, para um rebaixamento do rating soberano do país.

O Brasil está em recessão ou em depressão?

Uma queda do PIB de 3%, que pode ser ainda maior neste ano dependendo do quarto trimestre, claramente, é uma recessão forte. Depressão só ocorre com um período muito prolongado de recessão. Ainda não estamos lá, e oxalá não vamos estar, embora acredite que será difícil evitar dois anos de queda do PIB.

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A recessão em 2016 será muito forte?

Não vejo, da parte de nenhum analista, qualquer otimismo no futuro próximo, ao menos para 2016. O ano que vem depende muito do contexto político e social. Se as incertezas sobre o quadro político continuarem, vai ser difícil para as empresas tomarem decisões de investir, mesmo se houver, como há, boas perspectivas para obter lucros a médio prazo, quando a economia começar a se recuperar.

A senhora acompanhou de perto o Brasil na turbulência do fim dos anos 1990...

A situação em 1999 era muito diferente. Os problemas macroeconômicos eram menores: havia um problema de balanço de pagamentos, mas havia uma política fiscal e de orçamento razoavelmente restritiva e ajustada, com uma política monetária forte e crível com a nova gestão do Banco Central (Arminio Fraga) e com a desvalorização muito forte do câmbio. Os agentes econômicos estavam mais otimistas que no momento atual. Também havia um problema no governo, mas Fernando Henrique nunca chegou aos níveis de desaprovação de Dilma. E o entorno político era mais estável que agora. Joaquim Levy está encontrando resistência por todas as partes, e isso não ajuda a criar confiança nos agentes econômicos.

De certa maneira, então, a crise de agora é pior que a de 1999? Mesmo com as reservas internacionais, é mais difícil para o Brasil sair da crise agora do que daquela vez?

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Eu acho que sim, porque os problemas fundamentais do Brasil hoje em dia não são de falta de liquidez internacional, como em 1998/99, pois o câmbio mais ou menos flutuante resolve isso. E temos uma política monetária mais institucionalizada que em 1999, com metas de inflação. O problema maior hoje em dia são as finanças públicas e a credibilidade sobre a capacidade de manejar a economia.

Levy não está conseguindo dominar a economia?

Não há São Sebastião. Nenhuma pessoa sozinha pode fazer milagres. Levy está enfatizando a necessidade do ajuste a curto prazo para criar uma situação macroeconômica mais controlável. Eu concordo com o que ele está fazendo, mas nem todo mundo concorda e o apoia. Há uma incerteza política institucional neste momento no Brasil que não permite que as políticas econômicas sejam implementadas. O Brasil precisa ter uma política de gastos mais racional, menos engessada e com maior eficiência. E precisa de reformas estruturais, que necessitam de um mínimo de coesão política para serem implementadas.

O que o Brasil precisa fazer para sair da crise? O setor exportador pode ser motor de crescimento?

Eu acho que as exportações vão se recuperar se a política de câmbio continuar razoavelmente flexível. Mas as exportações são parcela bastante pequena da demanda no Brasil, um país ainda muito fechado, e não serão o motor da economia. Para mim é fundamental que alguns componentes da demanda interna, principalmente os investimentos, se recuperem ao longo de 2016. Continuo dizendo que isso depende muito do contexto político e da capacidade do governo de fazer reformas estruturais.

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