A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) já está investigando o uso de informação privilegiada nas operações com ações da Ipiranga na última sexta-feira, antes do anúncio da venda as empresas do grupo a Petrobras, Braskem e Ultra, em um negócio de US$ 4 bilhões.
No último pregão da semana passada, as ações ordinárias (com direito a voto) da Distribuidora Ipiranga dispararam 33,33%, as da Refinaria Ipiranga, 8,31%, sendo que estes papéis têm pouca liquidez e passam dias sem negociações. Um dia antes, as ações da Companhia Brasileira de Petróleo Ipiranga subiram 9,96%.
A CVM já está identificando os envolvidos nas operações feitas na sexta-feira e, caso seja confirmado o uso de informação privilegiada, a autarquia abrirá um inquérito administrativo para apontar quem lucrou com a operação.
- Há indícios fortíssimos de que houve uso de informação privilegiada nas operações com papéis da Ipiranga - disse Marcelo Trindade, presidente da autarquia.
Em Brasília, o presidente da Comissão de Minas e Energia da Câmara dos Deputados, José Otávio Germano, também defendeu uma discussão sobre o assunto entre os deputados .Preferencialistas questionarão preço pago por papéis
A pedido dos minoritários, a autarquia também deverá avaliar se o valor acertado na reestruturação acionária das empresas do grupo Ipiranga é justo. O Ultra fará uma Oferta Pública de Ações aos minoritários detendores de papéis ordinários, dando a eles 80% do prêmio pago aos controladores, o correspondente a R$ 106,28147 (Distribuidora), R$ 112,06937 (Companhia Brasileira de Petróleo Ipiranga, ou CBPI) e R$ 58,1 (Refinaria).
A notícia fez com que as ações da Distribuidora Ipiranga disparassem 67,4% na Bovespa nesta segunda-feira, para R$ 100,44. As da Companhia Brasileira de Petróleo Ipiranga subiram 69,8%, para R$ 52,30, e as da Refinaria ganharam 20,4%, encerrando os negócios a R$ 96,50.
O presidente da Federação das Indústria do Rio (Firjan) Eduardo Eugênio Gouvêa Vieira, integrante de uma das cinco famílias até então acionistas da Ipiranga, disse que a oferta foi feita depois na sexta-feira, depois do fechamento do mercado:
- Recebemos a oferta na última sexta-feira, depois de o mercado estar fechado e tivemos 48 horas para decidirmos. Assinamos o contrato nesta madrugada (de segunda-feira).
Já os acionistas preferencialistas irão receber, na operação, papéis do grupo Ultra e reclamam da relação de troca estipulada. Segundo o analista Felipe Cunha, da Brascan Corretora, estes ativos foram avaliados em R$ 20,55 (Distribuidora), R$ 29,57 (CBPI) e R$ 38,93 (Refinaria). Os valores estão bem abaixo do fechamento destes papéis na semana passada, de R$ 34,60, 23,35 e R$ 45,70, respectivamente.
Para Eduardo Roche, analista de investimentos do banco Modal, as ações ordinárias devem continuar subindo até alcançarem o valor fixado na oferta. Já as preferenciais tendem a cair até o preço ofertado pelo grupo Ultra.
Em uma conferência com os presidentes da Petrobras, Ultrapar e Braskem, um representante dos preferencialistas reclamou:
- Percebemos que a Ultrapar ficou super-avaliada e as empresas do grupo Ipiranga sub-avaliadas. Gostaríamos de pedir uma nova avaliação. Essa maneira de tratar o minoritário preferencialista não é muito adequada à situação da bolsa de valores de hoje e ficamos muito descontentes - disse.
Os executivos, no entanto, alegaram que este foi o preço oferecido também aos preferencialistas donos do controle do grupo Ipiranga. E que foi calculado com base no critério de valor econômico, utilizando-se o fluxo de caixa descontado.
O minoritário preferencialista retrucou:
- É muita discrepância. Nunca houve isso em nenhum cenário da Bovespa e acho que os preferencialistas controladores só aceitaram este preço porque iriam ganhar muito mais com suas ações preferenciais.
Em seu relatório, Cunha alerta para o risco de os preferencialistas criarem problemas com a operação na CVM. Além disso, pede detalhes sobre o preço avaliado para cada uma das empresas do grupo Ipiranga.