A relação de trabalho para os brasileiros e latino americanos é, de maneira geral, de amor e ódio. Estas pessoas tomam para si o trabalho como algo íntimo, pessoal, familiar praticamente. Por isso, é normal ouvirmos dizer por aí, com entusiasmo, que as pessoas dão o sangue pela empresa quando necessário, que se esforçam o quanto podem quando ela precisa de suas forças. Todavia, esse vigor também tem um lado negativo. Quando alguém é obrigado a se afastar - quando é demitido -, o efeito não poderia ser outro: culpa, sentimento de tristeza, por vezes até depressiva.
Suavizando o trauma
Apesar de a demissão não ser, nem significar, um acontecimento bom na vida de ninguém, há maneiras de fazer com que esta "passagem" seja menos dolorosa de aceitar. Algumas empresas decidiram reconhecer o lado humano e sensível da rescisão de contrato de trabalho e elaboraram, então, regras e normas para suavizar, e não deixar tão odioso, o impacto da demissão de um profissional, que pode ter dedicado anos do suor de seu trabalho a uma empresa.
Um bom exemplo disso é o fato de algumas empresas não demitirem ninguém em sextas-feiras. Já outras não demitem funcionários em períodos que antecedem grandes feriados e festividades. Outra mudança, essa já mais difundida e praticada há algum tempo, tem sido treinar e orientar os próprios gestores para realizarem o desligamento de seus funcionários. Aquela velha história de "o RH precisa conversar com você, e leve a carteira de trabalho" é coisa do passado. Aliás, não há nada mais impessoal e frio do que terceirizar a culpa da demissão ao profissional de RH. É o superior direto do profissional que deve executar o ato demissório, olhando nos olhos do subordinado. Pessoalmente.
Porém, talvez mais importante que a pessoa certa faça o desligamento da maneira correta, seja fazer com que o demitido compreenda totalmente as razões que levaram a empresa ao ultimato. As causas, afinal, podem ser muitas: atrasos recorrentes, mau relacionamento com colegas e clientes, incompetência, resultados ruins, criação frequente de problemas, falta de comprometimento, corte de custos, crise no mercado, entre outros. Apesar de ser duro admitir, a reunião demissória pode, inclusive, ser muito produtiva. Ao pontuar o feedback final do profissional naquela empresa, o gestor está alertando e fazendo a sua parte para evitar que a pessoa não repita os erros que o levaram a ser demitido na próxima relação de trabalho que ele vier a ter.
Aos que ficam, há algo importante para relembrar. O gestor deve explicar a razão pela qual o colega foi afastado. Deixar os motivos por trás das cortinas pode criar fofocas e até mesmo uma má reputação do gestor, que pode ser visto como "carrasco" do setor. Por isso, a transparência, mesmo que seletiva, é tão importante.
Demissão não deve ser uma surpresa
Aqui é preciso fazer um desabafo: acho um ato de tremendo mau caráter realizar uma demissão de maneira inesperada e inadvertida. Logo explico. Primeiro, precisamos colocar de lado as situações de justa causa. Essas, como o próprio nome diz, não têm hora nem lugar para acontecer, pois se justificam. Das tantas pessoas que me procuraram ao longo dos anos, já ouvi por várias vezes as "surpresas" desagradáveis que os profissionais acabam passando. Dentre outras razões mais bobas, foram demitidas após entregarem um projeto importante que daria muito lucro a empresa, após retornarem de uma cirurgia ou afastamento medico e, a pior a todas, após as férias.
O ideal é que a demissão seja a ultima opção, o último e decisivo ato que conecta uma série de fatos e acontecimentos àquele desfecho. É após os sucessivos feedbacks, falhas e erros que se cria uma condição favorável e justa ao afastamento de um profissional. Por isso é mais que importante fazer atas em todas as reuniões de feedback. Desta maneira, constrói-se um histórico e fica claro no ato da demissão o que foi dito, quando foi dito, quantas vezes aconteceu, porque aconteceu e assim por diante. Isso legitima e torna inquestionável a decisão final, por estar embasada em fatos de um documento formal produzido com o consentimento de ambas as partes.
Fim de ano e as demissões
Para terminar este artigo, um apelo final: se for demitir, que seja antes das férias. Essa história de "deixar a pessoa descansar para aceitar a notícia com menos impacto" é pura balela. Já ouvi casos angustiantes de pessoas que, se soubessem que seriam demitidas ao voltarem das férias, não teriam gasto horrores na viagem, não teriam feito dívidas durante o período de descanso, comprado presentes e realizado aquele sonho imaginado tantos anos antes.
Além disso, é justamente após a rescisão que o profissional precisará queimar suas reservas financeiras. Os profissionais que passam por essa situação ficam, de fato, magoados com a antiga empresa e seu gestor, que provavelmente não tiveram a sensibilidade e empatia suficientes de compreender a importância que os recursos financeiros terão dali em diante.
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