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Não conheço nenhum profissional que ficou feliz após a demissão. É um divórcio – entre empresa e funcionário – e, portanto, precisa ser encarado com o mesmo cuidado de qualquer outra separação. É um momento frágil e delicado para ambos os lados e ninguém nunca está 100% preparado para ouvir uma notícia difícil como essa. Entretanto, utilizando algumas estratégias, é possível amenizar o impacto. Por exemplo, não abordando o profissional de "surpresa" – afinal, o ser humano tem uma queda por alegrias inesperadas e aversão por aquelas negativas que nos desconcertam e tiram o nosso chão. Portanto, trata-se de uma questão de respeito e consideração ao próximo, seja ele quem for.

Conheço um caso que me impressionou muito – pela falta de cuidado e compromisso com o funcionário. Lilian trabalhava como supervisora de uma gráfica em São Paulo. Ela tinha 42 anos na época, se não me engano, mas já era viúva. Morava com sua mãe e seus dois filhos, que não passavam dos 10. Lilian sustentava toda a família com seu trabalho na gráfica e sua mãe a ajudava cuidando da casa e das crianças. Não era muito fácil, mas conseguia manter um bom padrão de vida para a sua família, aliando à sua rotina um excelente controle de gastos – que sempre apertava no final do mês, mas era administrável.

Já era início de dezembro, seus filhos estavam em férias e Lilian decidiu fazer o mesmo. Tirou o mês inteiro de folga, coisa que não fazia há muito tempo. Planejou levar as crianças para conhecer o Rio de Janeiro na época de Natal e deu-se o direito de fazer uma extravagância, pois achava que sua família merecia depois da tristeza de Jorge, seu marido, falecer repentinamente.

Lilian planejou tudo. Comprou as passagens, reservou o hotel e, inclusive, fez um itinerário de pontos turísticos que visitariam. No trabalho, deixou tudo certo para que não houvesse problemas durante sua ausência. Pegou seu 13.º e uma parte de suas economias e viajou. Passeou muito, brincou muito e comprou mais ainda. Sabia que o cartão de crédito viria pesado no mês seguinte, mas que nos próximos a despesa já estaria contida e quitada. Pelo menos era o que ela esperava.

Quando retornou ao trabalho em janeiro, recebeu uma bela surpresa do setor de RH: estava demitida. As verdadeiras razões por trás disso foram muito mal explicadas, o que deixou Lilian ainda mais inconsolável e sem chão. Ela, com 42 anos, uma família para sustentar e contas da viagem a pagar, ficou desempregada.

Não sei como que ela fez para contornar a situação, mas tenho certeza de que não foi uma batalha fácil. E é justamente por isso que chamo a atenção dos gestores para essa questão do "como, quando e o porquê" da demissão.

É preciso, sim, cuidar de todos esses detalhes para diminuir ao máximo o impacto causado na vida das pessoas. Saber "como" transmitir a mensagem e quais palavras utilizar. Saber "quando" falar para não atrapalhar de vez a vida do funcionário, como no caso de Lílian. Além disso, outro dos principais fatores é o "porquê". Ninguém gosta de levar um "não" sem entender o motivo. Por isso, o gestor (isso mesmo, não o setor de RH) deve explicar as razões da demissão. No melhor dos mundos, o ideal seria que a empresa tivesse como política a elaboração e manutenção de um histórico de feedbacks para que o profissional não seja "pego de surpresa".

Se você quiser saber mais sobre esse assunto, não deixe de conferir a coluna de terça-feira. Até lá!

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