Cerveja, café, hambúrgueres, ketchup e agora salgadinhos: o apetite do bilionário brasileiro Jorge Paulo Lemann não tem limites. O caçador de ativos mais agressivo da América Latina se juntou a Warren Buffett, da Berkshire Hathaway, para adquirir a Kraft Foods, a gigante do ramo de lanches com sede em Illinois (EUA), para depois combiná-la com sua fabricante de condimentos H.J. Heinz.
Ex-tenista profissional, Lemann é obstinado por resultados
O modelo de negócio de Jorge Paulo Lemann — baseado na meritocracia e em objetivos de produtividade — era tão simples quanto exato. Cortes de custos e racionalização não eram as metas, e sim as consequências. No Brasil, dominado por empresas ineficientes e familiares, “a obsessão de Lemann pelos resultados é a exceção”, disse Sérgio Lazzarini, professor de Administração da Universidade Insper, de São Paulo.
No início de 2013, por exemplo, a Heinz tinha um resultado nada firme e 31.900 funcionários. Até dezembro passado, sob a gestão da 3G, a empresa havia se desprendido de quase um quarto de sua folha de pagamento, reduzindo os custos anuais em cerca de US$ 80 milhões.
Atleta bem-sucedido, Lemann poderia nunca ter se tornado um caçador corporativo. Nascido no Rio de Janeiro, filho de pais suíços, ele foi um surfista ávido, praticou pesca submarina e jogou tênis profissionalmente, chegando a disputar Wimbledon, até que finalmente se estabeleceu no jogo muito maior da criação de riqueza. “Negócios, negócios, negócios. Esse é Jorge Paulo, 12, 16 horas por dia”, disse Teixeira da Costa sobre seu amigo.
Adquirir uma gigante internacional — e depois torná-la ainda maior — é exatamente o que Lemann e seus sócios da 3G Capital, uma firma de private equity com sede no Brasil, têm feito melhor nas últimas duas décadas. A Kraft soma outra marca histórica à vasta lista da 3G e também consolida a improvável reputação de Lemann de bilionário mais discreto da América Latina. “Eu não diria que ele tem vergonha de ser rico, mas é a última pessoa que você vai ouvir se vangloriando disso”, disse Roberto Teixeira da Costa, amigo de longa data de Lemann e ex-presidente da Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
O brasileiro mais rico do mundo na atualidade edificou um império sem estardalhaço, planejando cuidadosamente suas abordagens a alvos famosos nos EUA e na Europa. Juntamente com os sócios de longa data Beto Sicupira e Marcel Telles, também do Brasil, Lemann orquestrou as aquisições de alguns dos maiores nomes do setor de alimentos e bebidas. Em 2008, comprou a Anheuser-Busch, depois engoliu a Burger King e a rede canadense de cafeterias Tim Hortons.
Apetite sem fim
A equipe de Lemann treinou o apetite em casa, nos selvagens anos 1980 e 1990, quando a inflação era galopante e minava algumas das marcas mais conhecidas do Brasil. No comando da primeira empresa de private equity do Brasil, a equipe de Lemann abocanhava empresas varejistas em dificuldades, incluindo as fabricantes de bebidas nacionalmente conhecidas Brahma e Antarctica, que possuíam participações de mercado invejáveis, mas planos cheios de furos. O resultado foi a criação da Ambev, maior empresa de bebidas da América do Sul.
Do Brasil, ele se voltou para a Europa, combinando a Ambev com a Interbrew, da Bélgica, que possuía a marca de cerveja butique Stella Artois. O conglomerado AB Inbev é, agora, a maior cervejaria do mundo. Com isso, ele atraiu a atenção de Buffett e deu o salto para os EUA.
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