A disparada do dólar sobre o real, para R$ 1,989 no dólar comercial e R$ 2,09 no turismo, estragou a festa de quem viaja ao exterior e já inflacionou os gastos com alimentos e bebidas neste ano. A moeda americana acumula valorização de 6,42% no ano.

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Pelas estimativas do economista Fábio Kanczuk, da Universidade de São Paulo (USP), essa alta já deixou 0,45 ponto percentual de contribuição para a inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Para cada 10% de alta do dólar sobre o real, distribuída em reajustes de produtos importados ou influenciados pelo mercado internacional, contribui em pelo menos 1 ponto percentual para a inflação do ano, segundo as estimativas de Kanczuk. "Se o real começar a valorizar de novo, cancela esse efeito", diz o economista.

Alguns produtos já tiveram aumento de preços, por influência direta ou indireta do dólar, destaca o economista Paulo Padilha, da Federação de Comércio do Rio de Janeiro (Fecomércio-RJ). O aumento do trigo no mercado internacional é um exemplo de influência direta na inflação, nos preços da farinha de trigo e do pão francês no mercado brasileiro, destaca ele. De maneira indireta, Padilha cita que a carne bovina e o óleo de soja tiveram o preço elevado no Brasil em decorrência de maior valorização no exterior, que estimulou a exportação e diminuiu a oferta interna.

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Por outro lado, bens duráveis com componentes importados - como eletrodomésticos - estavam até o fim de abril com os preços em queda, mas podem ter o custo estabilizado ou até voltar a subir também por efeito do dólar, segundo os economistas.

Naturalmente os reajustes de produtos nas gôndolas e prateleiras não acompanham imediatamente a escalada da moeda americana. Dependem da liquidação de estoques no comércio e da demanda do consumidor. Mas, mantido o patamar da moeda americana perto de R$ 2, a pressão sobre a inflação fica mais acentuada, acredita Padilha. "Se o dólar mantiver esse patamar de R$ 2 e a economia retomar o aquecimento, deve ter um repasse mais forte de preços, o que pode gerar uma pressão inflacionária mais forte", avalia.

Viagens adiadas

Viajar para o exterior também ficou mais caro para o turista brasileiro. Com o dólar turismo acima de R$ 2, executivos de agências de viagem preveem redução na procura por outros países. O gerente da agência de turismo Hall Mark, Márcio Macedo, afirmou que o preço dos pacotes aumentou cerca de 0,06% desde o início de maio. Para ele, alguns consumidores estão com receio de adquirir um pacote diante da instabilidade da moeda americana, enquanto outros antecipam compras para fugir de uma eventual valorização ainda maior do dólar.

"Algumas pessoas estão adiando suas viagens, mas outras estão comprando com medo que o preço aumente", afirma. Thomaz Rossi, diretor da Decatur Turismo, diz que os pacotes para julho já estão, na maioria, comprados, o que mostra que esses clientes já minimizaram os efeitos da alta do dólar e garantiram passagens aéreas mais baratas.

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As viagens de dezembro costumam ser compradas entre setembro e outubro, mas ele acredita que algumas pessoas devem antecipar as compras este ano com receio de que o real fique ainda mais desvalorizado.

Para Rossi, mesmo com a disparada do dólar, "ainda está barato" viajar aos Estados Unidos e à Europa. "Ainda há oportunidade de viajar, porque ainda está barato. Mas não se deve gastar no cartão de crédito", diz Rossi.

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