Atualizado em 28/03/2006 às 21h15
O mercado financeiro se acalmou um pouco no final do dia, mas o dólar não escapou de subir novamente, pelo segundo dia consecutivo, repercutindo a troca de Antônio Palocci por Guido Mantega no Ministério da Fazenda e a decisão do Banco Central americano, o Fed, de elevar a taxa de juro em 0,25 ponto percentual, para 4,75% ao ano.
A decisão do Fed acertou em cheio Wall Street, levando também para baixo a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). O Ibovespa fechou em queda de 2,54% e voltou para os 36.682 pontos (volume financeiro de R$ 2,785 bilhões).
Dólar
A moeda americana fechou a terça-feira em alta de 1,75%, cotada a R$ 2,207 na compra e R$ 2,209 na venda. Na máxima, chegou a ser vendida logo pela manhã a R$ 2,235, com alta de 2,94%. O mercado ficou apreensivo com a possibilidade do novo ministro Guido Mantega não seguir à risca a atual política econômica. Guido, que estava na presidência do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), já criticou várias vezes Palocci pela política de juros altos.
O nervosismo somente diminuiu um pouco depois que o atual ministro deu várias declarações reafirmando a continuidade da política econômica no Brasil. No discurso de posse nesta tarde, Guido defendeu um desenvolvimento responsável e avesso a aventuras e ao entusiasmo infantil - ontem, ele já tinha afirmado que era favorável à redução das taxas de juros, mas sem prejuízo à inflação. Em entrevista coletiva à imprensa, o novo ministro reafirmou que não haverá mudanças no câmbio, que continuará flutuando. Segundo ele, essa política é adequada e não haverá retrocesso.
- Eu não acredito em grandes mudanças. A política deve ser mantida pelo menos até o final desse mandato. Luiz Inácio Lula da Silva entendeu que a política econômica do ministro Antônio Palocci produziu efeito e não vai deixá-la mudar por nada - disse Alessandra Ribeiro, analista da Tendências.
Segundo ela, o governo conseguiu com a atual política econômica melhorar o perfil da dívida externa e doméstica, aumentar o interesse pelos títulos pré-fixados, elevar o crédito e recuperar a renda do trabalhador, ajudando bastante o comércio.
- O problema é a idéia desenvolvimentista de Mantega, com redução do superávit primário e taxa de juro. O mercado sempre precifica essas incertezas e, por isso, fica volátil - disse Alessandra.
A saída de vários componentes de peso do ministério deixou o mercado apreensivo. Além de Palocci, deixaram o governo o secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Murilo Portugal, o secretário do Tesouro Nacional, Joaquim Levy, o secretário-adjunto do Tesouro, José Antonio Gragnani, e Marcos Lisboa, que pediu demissão do Instituto de Resseguros do Brasil (IRB).
A outra dúvida é com relação ao Banco Central nesse nova gestão, ou seja, que tipo de relacionamento Mantega terá com Henrique Meirelles, presidente do BC. Se houver mudanças, a curva de juros, com certeza, não será a mesma de hoje, segundo os economistas.
- Eu não vejo um cenário dramático no Banco Central. A autonomia deve prevalecer. O status de ministro faz o presidente do BC se reportar diretamente ao presidente Lula, garantindo a permanência da política atual. Agora, é claro, que é preciso rapidez para a definição da equipe do Ministério da Fazenda, já que cargos importantes foram esvaziados - disse Alessandra.
O primeiro teste de Mantega será na quinta-feira na reunião do Conselho Monetário Nacional que definirá a nova TJLP. Como presidente do BNDES Mantega havia sugerido redução dos atuais 9% ao ano para 7%. A expectativa é que agora, com direito a voto, seja mais comedido na definição.
Bovespa
Nesta terça-feira, a bolsa paulista já teria um grande ingrediente para cair, com a substituição do ministro Antônio Palocci pelo presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Guido Mantega, no Ministério da Fazenda. Mas foi mesmo o comunicado do Fed que deixou mau humor nos investidores.
- A informação do Comitê de Mercado Aberto do Fed de necessidade de aperto degringolou a bolsa, que teve uma queda expressiva no final da tarde - disse Luiz Antônio Vaz das Neves, diretor de análises da Planner.
Segundo ele, uma mudança que traria um cenário negativo para o mercado acionário seria a saída do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. Mas o novo ministro da Fazenda fez questão de dizer que a atribuição sobre o Banco Central é exclusivamente do presidente da República.
- Nisso o mercado se anima, pois enquanto Mereilles for presidente da República permanecerá a queda gradual das taxas de juros - disse.
Entre as ações mais negociadas na Bovespa estiveram Petrobras PN, Bradesco PN e Sid Nacional ON. As principais quedas foram de Light ON (9,44%), Cesp PN (8,31%) e Net PN (7,47%). Entre as altas estiveram Telesp PN (4,79%), Embraer PN (1,62%) e Embraer ON (1,59%).
Risco
O risco-país subiu 5 pontos nesta terça-feira, para 241 pontos centesimais. Na máxima, o EMBI+ brasileiro chegou a 246 pontos-base e na mínima, a 237. Na Argentina, o risco teve alta de 2 pontos, para 355 pontos-base. Os títulos brasileiros negociados no exterior caíram. O Global 40 teve queda de 1,54%, para 128% do valor de face. O A Bond caiu 1,03%, para 108,38% do seu preço.
Juros
Os juros futuros terminaram o dia em queda na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F). As taxas chegaram a subir durante o pregão, repercutindo a chegada de Guido Mantega no Ministério da Fazenda, mas acabaram recuando à tarde.
O Depósito Interfinanceiro (DI) de abril de 2006 registrou queda de 0,12%, passando de 16,50% para 16,48%. O contrato de julho deste ano apresentou queda de 0,19% (de 15,75% para 15,72%) e o de outubro teve redução de 0,33% (de 15,36% para 15,31%).
Para janeiro de 2007, o contrato mais negociado, a queda foi de 0,20%. Nesse caso, a taxa passou de 15,15% para 15,12%. O DI de abril de 2007 terminou a terça-feira em queda de 0,13%, passando de 15,06% para 15,04%.
Os investidores também trabalharam hoje de olho na decisão do Federal Reserve, o Banco Central americano, sobre as taxas de juros nos Estados Unidos. O Fed elevou a taxa em 0,25 ponto percentual, para 4,75% ao ano, como esperava o mercado. Agora, resta saber se o aperto na política monetária vai continuar.
Paralelo
O dólar paralelo em São Paulo acompanhou o comercial e fechou em alta de 1,75%, a R$ 2,220 na compra e R$ 2,320 na venda. O dólar turismo em São Paulo subiu 2,90%, cotado a R$ 2,155 na compra e R$ 2,305 na venda.
Mercado
O mercado financeiro vê com reticência o novo ministro da Fazenda, Guido Mantega, que tomará posse nesta tarde, em Brasília. Para o economista-chefe da Sul América Investimentos, Newton Rosa, a volatilidade continuará enquanto os investidores não conhecerem exatamente como será o governo Mantega.
A outra dúvida é com relação à equipe econômica e como vai ficar o Banco Central nesse nova gestão, ou seja, que tipo de relacionamento Mantega terá com Henrique Meirelles, presidente do BC. Se houver mudanças, a curva de juros, com certeza, não será a mesma de hoje, segundo o economista.
- Enquanto isso não se definir, o mercado ficará desconfiado e terá uma postura conservadora - disse Rosa.
Silvio Campos Neto, economista-chefe do Banco Schahin, disse que fica a incerteza sobre a continuidade da política econômica e a expectativa sobre a recomposição da estrutura da equipe, de assessores diretos de Antônio Palocci. No entanto, ele não acredita em uma mudança muito drástica, principalmente com a proximidade das eleições. Segundo Neto, haverá volatilidade, mas não tumulto nos mercados.
- O desafio que se coloca ao novo ministro Guido Mantega é a conquista da credibilidade. Por isso, não é razoável imaginar mudanças significativas na condução da política econômica, mas, pelo contrário, maior rigor na gestão pelo novo titular - disse Sidnei Moura Nehme, diretor da Corretora NGO.
Para Nehme, a conquista da credibilidade pode impor ao novo ministro menor condição de flexibilizações que seriam aceitas por parte do seu antecessor. A preocupação é que Mantega era nos últimos meses, durante a sua gestão no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) um grande defensor do afrouxamento da política monetária.
- A postura dos gestores depende muito do lugar onde estão no momento. Mantega não era crítico da política econômica quando era ministro do Planejamento. Isso aconteceu depois que ele foi para o BNDES - disse Nehme, acrescentando que a agilidade na montagem da nova equipe será fundamental neste momento.
O primeiro teste de Mantega será na quinta-feira na reunião do Conselho Monetário Nacional que definirá a nova TJLP. Como presidente do BNDES Mantega havia sugerido redução dos atuais 9% ao ano para 7%. A expectativa é que agora, com direito a voto, seja mais comedido na definição.
Mesmo sabendo que Guido Mantega é favorável ao relaxamento monetário, o que significa queda das taxas de juros, o mercado vai primeiro, segundo analistas, ajustar os índices futuros para depois trazer as taxas para baixo novamente.