O dólar subiu pela sexta sessão seguida nesta quinta-feira (6), chegando a ser cotado a R$ 3,57 durante o pregão, reagindo ao cenário político conturbado no Brasil e a expectativas de alta de juros nos Estados Unidos.
O dólar fechou em alta de 1,39%, a R$ 3,5374 na venda, maior cotação desde 5 de março de 2003, quando fechou a R$ 3,555. A valorização acumulada em seis sessões é de 6,25%.
Na máxima da sessão, o dólar subiu 2,35%, a R$ 3,5709, mas perdeu força após o diretor de Política Monetária do Banco Central, Aldo Mendes, afirmar em entrevista ao ValorPro, serviço do jornal Valor Econômico, que o preço do dólar ante o real “está claramente esticado” e que ele entende que “os agentes estão agindo aparentemente com pouca racionalidade”.
“O mercado entendeu os comentários do Aldo como uma mensagem que o Banco Central não está satisfeito com o atual patamar da moeda e pode aumentar o ritmo de rolagem (dos contratos de swap cambial)”, disse o especialista em câmbio da Icap Corretora, Italo Abucater.
Swaps
A escalada recente do dólar fez o Banco Central voltar a intervir no mercado de câmbio. Pouco após o fechamento dos negócios, a autoridade monetária divulgou que irá elevar a rolagem dos contratos de swap, que equivalem a uma venda de moeda aos agentes financeiros.
O BC anunciou que está aumentando o volume de contratos rolados de 6 mil para 11 mil, o que deve elevar o volume de rolagens no mês para quase 100% dos vencimentos – antes, a rolagem estava em torno de 60%.
Até o anúncio do aumento da rolagem, os agentes do mercado financeiro não tinham certeza de que a intervenção de fato ocorreria ou se as declarações do diretor do BC seriam apenas um sinal de alerta.
“O BC tem até reserva de gordura, das reservas, para queimar, mas não acho que entraria em uma queda de braço com o mercado. Isso me surpreenderia, dado o discurso da instituição”, disse Marcelo Castello Branco, economista da Saga Investimentos.
Uma das formas da autoridade monetária intervir seria o aumento da rolagem dos contratos de swap cambial, que equivalem a uma venda de moeda. A rolagem está em torno de 60% dos vencimentos. No entanto, BC e o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, já sinalizaram que o ideal seria reduzir essa exposição, que está em mais de US$ 100 bilhões. A outra forma seria a venda direta de moeda, uma vez que as reservas internacionais estão em US$ 370,6 bilhões, mas essa possibilidade é vista como pouco provável, embora já utilizada em outras ocasiões.
Crise política
Pesquisa Datafolha mostrou nesta quinta-feira que a impopularidade da presidente Dilma Rousseff é recorde entre todos os presidentes desde 1990 e dois terços da população acreditam que o Congresso deveria abrir processo de impeachment contra a petista.
Nenhum dos operadores consultados pela Reuters nesta sessão trabalha com o cenário de afastamento da presidente como base, mas o mercado já embute alguma chance de isso se acontecer, segundo eles. Somava-se a isso outras turbulências políticas, com atritos entre o Legislativo e o Executivo gerando entraves para a aprovação de projetos importantes para o governo no Congresso.
“Eles (Congresso) estão atropelando a Dilma”, disse o gerente de câmbio da corretora BGC Liquidez, Francisco Carvalho. “Enquanto a situação estiver confusa como agora, o dólar não vai parar de subir.”
A rebeldia da base aliada também tem atraído a atenção dos operadores. Na noite passada, PDT e PTB anunciaram independência em relação ao governo na Câmara dos Deputados, deixando a base aliada e ampliando as dificuldades enfrentadas pela presidente Dilma no relacionamento com o Legislativo.
Juros nos EUA
A perspectiva de que os juros norte-americanos subam no mês que vem também tem contribuído para elevar o dólar globalmente. Juros mais altos nos EUA podem atrair para a maior economia do mundo recursos aplicados no mercado local.
Por isso, operadores aguardam a divulgação, na sexta-feira, do dado de geração de vagas no mercado de trabalho norte-americano para calibrar suas apostas sobre a política monetária da maior economia do mundo.
“O cenário interno é o que está chamando atenção agora, mas no médio prazo, independentemente do que acontecer aqui, o dólar vai subir”, afirmou o operador de uma corretora internacional.
A Bradesco Corretora elevou nesta manhã suas projeções para o câmbio no Brasil, estimando dólar a R$ 3,60 no fim deste ano e R$ 3,90 no fim de 2016, contra R$ 3,25 e R$ 3,40, respectivamente.