Medidas mais duras do governo para frear a queda do dólar surtiram efeito nesta quarta-feira, intensificando um movimento global de recuperação da moeda e interrompendo uma série de seis baixas seguidas.
O dólar à vista fechou em alta de 1,35%, a 1,5595 real para venda. É a maior valorização diária desde 29 de junho de 2010.
A alta tirava o dólar das mínimas em mais de 12 anos. Na terça, a taxa de câmbio fechou a 1,5388 real.
A valorização do dólar foi mais intensa no Brasil do que em outros países. Em relação a uma cesta com as principais moedas, o dólar subia 0,81 por cento, devolvendo parte da queda dos últimos dias mas ainda mostrando volatilidade por causa da preocupação com a dívida norte-americana.
O mercado local reagiu à imposição de um imposto de 1 por cento sobre operações com derivativos cambiais que resultem em um aumento das posições líquidas vendidas. Uma fonte do governo já havia mencionado à Reuters há duas semanas que uma ação nos derivativos cambiais estava sendo preparada.
"As medidas cambiais anunciadas pelo governo devem, no curtíssimo prazo, reduzir drasticamente a componente especulativa da apreciação do real frente ao dólar", afirmou Luciano Rostagno, estrategista-chefe da CM Capital Markets.
O novo imposto sobre derivativos afeta principalmente as posições vendidas dos estrangeiros na BM&FBovespa, que chegaram ao recorde de quase 25 bilhões de dólares em contratos futuros e de cupom cambial (DDI). Essas posições podem servir tanto como uma proteção quanto como uma aposta na queda do dólar.
A liquidez no mercado de câmbio diminuiu, especialmente no começo do pregão, enquanto os operadores analisavam as medidas. Mas, no fim do dia, o volume de contratos negociados no mercado futuro já estava dentro da média recente, com 321 mil papéis negociados no vencimento mais curto até as 16h40.
A maioria dos comentários convergiu no sentido de que as operações de câmbio ficarão mais caras no Brasil, incentivando negócios no mercado de balcão no exterior.
"A medida provavelmente vai tirar liquidez da bolsa local, com uma mudança provável para o mercado de NDF (contratos a termo sem entrega física, mais negociados no exterior) e para outras bolsas, como a CME (de Chicago)", escreveu o analista Paulo Leme, do Goldman Sachs, ecoando opinião do presidente da BM&FBovespa, Edemir Pinto, em entrevista à Reuters há duas semanas.
"Na mesma linha, a diferença entre o mercado local e o mercado 'offshore' deve se ampliar", afirmou Leme.
A medida foi considerada pela Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB) como a "mais eficaz" já tomada até agora pelo governo para frear a queda do dólar e, para muitos analistas, a mera possibilidade de que o governo adote novas restrições deve ser suficiente para sustentar a moeda acima de 1,55 dólar nas próximas semanas.
"O anúncio de hoje indica uma intolerância maior do governo com o nível do real e pode aumentar a preocupação dos investidores a respeito de controles futuros", afirmou Henrique Caldeira, analista do Barclays.
Alguns, no entanto, ainda trabalham com a previsão de que o real continuará a se valorizar. "Medidas desse tipo não devem afetar o equilíbrio de longo prazo da taxa de câmbio real", afirmou Leme, do Goldman Sachs.
A taxa Ptax, calculada pelo BC e usada como referência para derivativos e contratos futuros, teve alta de 1,92 por cento, a 1,5639 real para venda.
O BC fez um leilão de swap cambial reverso, mas não efetuou a rolagem de todos os contratos em vencimento na virada do mês. O lote que expira no fim de julho é de cerca de 1,3 bilhão de dólares, mas o BC vendeu apenas 499 milhões de dólares.
O BC fez ainda dois leilões de compra de dólares no mercado à vista. No Rio de Janeiro, o presidente da instituição, Alexandre Tombini, disse que a política de atuação do BC não muda após o novo imposto sobre derivativos.