As medidas de incentivo à economia anunciadas na noite desta segunda-feira (21) pelo Ministério da Fazenda - redução de IPI para automóveis e de juros para algumas linhas de financiamento do BNDES - podem não gerar o impacto esperado, segundo economistas. Para eles, o governo pode até gerar alguma melhoria de curto prazo, mas isso não será duradouro e pode, inclusive, aumentar o risco de aumento da inadimplência no futuro.

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O professor Armando Castelar, da UFRJ, acredita que, dado os fracos números da atividade econômica, o governo acerta em propor estímulos à economia. Ele, contudo, acredita que a repetição do modelo de corte de IPI e redução dos juros de algumas linhas do BNDES podem não surtir a eficácia esperada. "Acredito que estamos perto da exaustão de um modelo que teve grande sucesso entre 2005 e 2010, com o incentivo ao consumo baseado no aumento do financiamento. As famílias estão muito endividadas. Este modelo pode gerar problemas futuros de inadimplência, que já está preocupante mesmo com emprego e renda e alta. O governo precisava se perguntar o motivo da economia continuar patinando, mesmo com juros tão baixos, e rever o modelo, buscar uma forma de se incentivar o investimento", afirmou o professor.

Ele acredita que medidas mais horizontais, como redução na burocracia e de impostos de forma mais linear, poderiam surtir mais efeitos. Castelar questiona, inclusive, a redução de juros do BNDES. "Essa redução impacta mais as grandes empresas. E os empresários não lamentam a falta de financiamento, mas a burocracia, problemas tributários e trabalhistas. O governo precisa melhorar o ambiente de negócios. Os resultados podem demorar um pouco mais, mas é algo mais duradouro", disse.

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Carlos Langoni, professor de economia da FGV e ex-presidente do BC, concorda que as medidas poderão gerar algum alívio de curto prazo, mas que isso não será suficiente. Em sua opinião, o governo deveria aproveitar o momento para retomar uma agenda de reforma audaciosa, focada principalmente na reforma tributária. "O governo está usando incentivos pontuais e seletivos, que têm efeito positivo, porém limitado. Além disso, o esforço total do governo tem sido na redução dos juros. Eu não acho que o problema esteja na demanda, mas na oferta. O governo precisa incentivar o investimento, mas o Brasil atualmente pune o investimento, a poupança e o emprego formal. O governo poderia aproveitar o momento da economia mundial, de uma longa estagnação das economias desenvolvidas e de uma forte desaceleração dos grandes emergentes, como a China, para votar a reforma tributária, o que teria grande apoio da sociedade", disse.

O professor Fábio Kanzuc, da USP, afirma que o impacto positivo destas medidas que se repetem são cada vez menores. "A população está muito endividada, medidas como esta ficam cada vez mais ineficientes. E, além do limite do endividamento das famílias, há o limite das cidades, que já estão lotadas de carros", disse.