Com excesso de oferta e aposta de que a demanda da China deve desacelerar ainda mais, o preço do minério de ferro recuou na terça-feira (8) ao menor nível desde 2009, arrastando para baixo as ações das siderúrgicas e da mineradora Vale, que vive um inferno astral desde o rompimento de uma barragem de rejeitos de sua controlada Samarco, em Mariana (MG), há um mês.
O minério de ferro já respondeu por 16,3% das exportações brasileiras. Mas com a recente queda de preços a participação caiu para 7,3% do total.
Nesta terça-feira, 8,, a cotação recuou 0,3% e fechou a US$ 38,80 a tonelada, conforme o preço negociado no Porto de Tianjin, na China, após a divulgação de dados negativos da balança comercial chinesa. Com isso, as ações de mineradoras e siderúrgicas afundaram nas principais bolsas do mundo.
Em São Paulo, os papéis da Vale recuaram 4,59% (ON, com direito a voto) e 5,28% (PNA, sem voto). A ação da Bradespar, que cuida dos investimentos do Bradesco e é acionista da mineradora, caiu 6,93%. Já entre as siderúrgicas, caíram Usiminas (-5,26%), Gerdau (-5,85%) e CSN (-6,38%), ajudando o Ibovespa a recuar 1,72%.
Desde o início de 2011, quando as cotações do minério e das ações estavam no pico, a Vale perdeu R$ 247 bilhões em valor de mercado, medido pela multiplicação da cotação pelo total de ações. Em fevereiro de 2011, a tonelada do minério chegou a ser negociada a US$ 191,70. Desde então, o preço do minério caiu 79,7%, e as ações da Vale foram junto. Ontem, a mineradora brasileira encerrou o pregão valendo R$ 55,452 bilhões, em comparação a R$ 302,811 bilhões, na máxima de janeiro de 2011, segundo dados da consultoria Economática.
85 mil demissões
Com o minério abaixo de US$ 40, as mineradoras deflagraram seus “planos B”. A anglo-sul-africana Anglo American anunciou ontem um programa de reestruturação com 85 mil demissões, venda de ativos, redução de investimentos e congelamento dos dividendos. Agora, o projeto Minas-Rio para produção no Brasil, um dos maiores da companhia, não é mais prioritário.
Quem também pisou no freio foi a anglo-australiana Rio Tinto. A companhia anunciou que o orçamento terá novo corte nos investimentos de US$ 1,5 bilhão em dois anos. Investidores não gostaram e houve uma forte onda vendedora das ações. Em Londres, a ação da Anglo American caiu 12,3% e a da Rio Tinto perdeu 8,4%. Outras mineradoras como a Antofagasta e BHP Billiton caíram mais de 5,0%.
Para o analista Pedro Galdi, do blog WhatsCall, a Vale vive uma “tempestade perfeita”. Analistas da corretora especializada em commodities Investec apostam que a Vale pode ser a próxima a anunciar um plano de reação. “A queda para o patamar de US$ 30 parece ser um ponto de inflexão. O tombo do minério ameaça os grandes produtores porque os preços se aproximam dos custos de equilíbrio”, dizem os analistas.
Nesse quadro, a Vale vem reduzindo despesas administrativas, vendendo ativos que não sejam ligados às suas principais atividades, como embarcações de transporte, e modernizando minas antigas.
Ontem, a mineradora brasileira anunciou a conclusão da venda de quatro navios com capacidade de 400 mil toneladas, por US$ 423 milhões para o ICBC Financial Leasing, uma subsidiária do Banco Comercial e Industrial da China.
Barragens
A “tempestade perfeita” descrita por Galdi soma o cenário negativo para a produção de minério de ferro com o rompimento das barragens de rejeitos da Samarco. “Nos últimos pregões, as ações da Vale e da BHP caíram mais do que as demais mineradoras por causa da Samarco”, afirmou Galdi.
A Samarco, especializada na produção de pelotas - “bolinhas” de minério usadas na siderurgia -, é controlada, meio a meio, pela Vale e pela anglo-australiana BHP.
Os analistas da Investec dizem que a queda do minério se deve à desaceleração da demanda chinesa e, ao mesmo tempo, ao aumento da oferta. “A resposta tradicional da indústria de mineração para a queda dos preços é aumentar a produção em vez de reduzir custos. Esse comportamento só serve para aumentar a fogueira que está fora de controle.”