| Foto: Daniel Derevecki/Arquivo/Gazeta do Povo

Mudança de hábito, grandes redes engolindo pequenos negócios e recessão provocaram queda forte no número de lojas de equipamentos de informática. São 18,4 mil lojas a menos nesse ramo em um ano, recuo de 10,3%, mais intenso que no varejo em geral, que foi de 7,2%, com o fechamento de 144 mil lojas, de acordo com levantamento da Confederação Nacional do Comércio (CNC). Foi a primeira redução no número de lojas desde 2005. As famílias estão deixando de lado os microcomputadores e adotando tablets e smartphones, o que afeta diretamente o setor.

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As vendas cresciam mais de 30% em 2006 e a expansão de dois dígitos se manteve até 2011. Depois, as altas foram ficando mais tímidas, até que no ano passado, as vendas começaram a cair (1,7%). E não foi culpa da alta do dólar, pois a inflação do setor ficou menor. O preço do computador caiu 5% no ano passado.

Relação custo-benefício faz computador perder espaço para celular

Um fator que impacta as vendas de PCs é o custo-benefício. Um smartphone pode custar um terço do valor de um notebook. “O smartphone já ganhou ares de escova de dentes: cada um tem o seu e não se empresta pra ninguém”, compara Gerino Xavier, vice-presidente de Comunicação e Marketing da Federação das Associações das Empresas Brasileiras de Tecnologia da Informação (Assespro).

Na avaliação do diretor executivo da Associação Brasileira dos Distribuidores de Tecnologia da Informação (Abradisti), Mariano Gordinho, o computador de mesa envelheceu. “A tendência é cada vez mais usarmos o smartphone. Por centavos ou sem custo algum você baixa aplicativos que, em seu computador, teria de pagar a licença para usar.”

O próximo aparelho que deve ganhar mercado, diz Gordinho, é um híbrido de smartphone e tablet que chegou ao Brasil no ano passado: o phablet. Ele reúne recursos dos dois e tem tela maior do que um smartphone convencional.

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“Houve mudança no padrão de consumo, trocaram o computador por outro tipo de aparelho, e na estrutura nesse varejo: grandes redes abocanharam os pequenos que não conseguiram sobreviver diante da concorrência e da mudança de hábito”, explicou Fabio Bentes, economista da CNC.

No Rio de Janeiro, onde quase mil lojas (927) fecharam as portas nos últimos doze meses encerrados em setembro, os comerciantes que conseguiram sobreviver tiveram que se adaptar. No Shopping Avenida Central, no Centro do Rio, que reúne cerca de 50 lojas de equipamentos de informática, Márcio Eduardo Neves, gerente comercial da Edimaq, passou a vender smartphones. Máquinas de mesa, apenas para empresas. “Praticamente ninguém entra aqui para comprar computador de mesa, que ficou restrito ao mundo corporativo. Passamos a vender smartphones e acessórios para continuar no mercado.”

O movimento de troca dos desktops pelos computadores de mão apareceu na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad/2014). A inclusão digital pelo computador de mesa estacionou. A proporção de lares munidos de computador ligado à internet parou em 42%. O aparelho que invadiu as casas nos últimos anos dez anos (em 2004 apenas 12% dos lares tinham computador ligado à internet) deixou de ser vedete. A participação dos desktops na produção total de computadores (mesa, notebooks e tablets) caiu de 35% em 2012 para 20,1% em 2014. E a de tablets cresceu de 17,4% para 47,8%.

Para o vice-presidente de Comunicação e Marketing da Federação das Associações das Empresas Brasileiras de Tecnologia da Informação (Assespro), Gerino Xavier, a migração para os aparelhos sem fio é sem volta. “Os tablets e smartphones proporcionam o conforto da mobilidade e da funcionalidade, pois fazem tudo o que um computador ou notebook faz e ainda permitem a comunicação gratuita pelo WhatsApp, tirar fotos e gravar vídeos. São mais leves e cabem no bolso ou na bolsa.”

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“Há uma mudança no mercado que afeta tanto os consumidores quanto os dispositivos que usamos para acessar a internet e os serviços que ela oferece. Há pouco tempo, era comum comprar ou baixar músicas e filmes para os computadores e ouvir a partir das cópias armazenadas. Hoje, serviços de streaming oferecem essa facilidade sem precisar armazenar o conteúdo. O mesmo acontece com arquivos de texto, planilhas e fotos, que podem ser guardados na nuvem. Isso abre a possibilidade de termos equipamentos mais leves e portáteis, independentes de fontes de energia, e baratos.”

Luiz Moncau pesquisador e cogestor do Centro de Tecnologia e Sociedade da Fundação Getulio Vargas do Rio.