Apesar da ampla oferta de produtos e serviços para pequenas e médias empresas, os empreendedores ainda têm dificuldades no relacionamento com instituições financeiras. A explicação, de acordo com estudo elaborado pela empresa de consultoria Bain & Company, está na falta de combinação de produtos financeiros, como concessão de crédito, com serviços não financeiros, como orientação para crescimento e desenvolvimento do negócio.
Faixas de faturamento
As faixas de faturamento ainda são um empecilho para o relacionamento de pequenas empresas e instituições financeiras. Enquanto a Lei Geral da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte estabelece que o faturamento do negócio de pequeno porte é de até R$ 3,6 milhões por ano, os bancos trabalham com valores bem mais elevados. O Banco do Brasil classifica como micro e pequena empresa os empreendimentos com faturamento bruto anual de até R$ 25 milhões. E o Santander considera como pequena e média empresa quem fatura até R$ 200 milhões.
A pesquisa mostra que, em mercados emergentes como o Brasil, as pequenas e médias empresas (PMEs) representam um ramo de negócio bastante rentável e atrativo a grande parte das instituições do setor financeiro. Porém, o setor tem dificuldades para desenvolver modelos de negócio robustos para o segmento.
“Eles (instituições financeiras) precisam desenvolver combinações sustentáveis de crédito e produtos/serviços auxiliares, bem como um entendimento detalhado das necessidades dos consumidores. Além disso, os bancos também devem demonstrar para donos de negócios que podem fornecer processos rápidos e de baixo custo a fim de conquistar a confiança deles”, relata a consultoria.
No país, algumas instituições financeiras estão tentando quebrar essa barreira ao desenvolver serviços específicos para pequenas empresas. O Santander lançou no ano passado a plataforma Santander Negócios & Empresas, que conta com cursos on-line para ajudar no desenvolvimento e internacionalização dos negócios.
Outro destaque do projeto são as palestras sobre temas de interesse ao mundo corporativo. As palestras acontecem em parceria com o Insper e são destinadas a clientes e não clientes. “Temos palestras de inovação, de gestão de pessoas. Isso ajuda muito os empresários a terem outra visão dos seus negócios”, diz Marcelo Aleixo, superintendente executivo de PME do Santander.
Já o Banco do Brasil apostou na criação de agências e escritórios específicos ao segmento de pequenos negócios. O banco possui 19 agências exclusivas para empresas com faturamento bruto anual a partir de R$ 1 milhão, com planos de chegar a até 50 unidades até o fim deste ano. Os escritórios estão presentes em seis cidades, incluindo Curitiba.
O diferencial desses estabelecimentos, segundo o banco, é contar com uma equipe de quase quatro mil gerentes especializados em atender os pequenos e médios empresários. Segundo informações do diretor de Micro e Pequenas Empresas do Banco do Brasil, Ilton Luís Schwaab, os gerentes passam por uma trilha de aprendizado que contempla treinamentos sobre mercado, crédito, produtos para o segmento, processos, soluções e gestão.
O consultor do Sebrae-PR e coordenador estadual de acesso a serviços financeiros, Flavio Locatelli Júnior, afirma que a principal dificuldade do empreendedor no relacionamento com o banco está no desconhecimento da gestão financeira do seu negócio. Os bancos que conseguirem fazer a leitura desse cenário, adequando os produtos e serviços, devem sair na frente.
Amigo PME
Para ajudar os micro e pequenos empresários a lidarem com o próprio negócio, a Barigui Companhia Hipotecária lançou o projeto Amigo PME, uma plataforma on-line que disponibiliza conteúdo e conceitos sobre gestão. A ideia surgiu após a empresa constatar que um dos erros mais comuns entre os pequenos empresário é o uso do cartão de crédito pessoal para abrir e manter o negócio. A plataforma visa esclarecer essas e outras dúvidas. Os conteúdos são produzidos pela FAE Centro Universitário e são gratuitos. Mais informações, no site do projeto.
Entender de gestão ajuda no relacionamento com instituições financeiras
A grande maioria (70%) das micro e pequenas empresas (MPEs) possui algum tipo de relacionamento com o banco. Para que essa relação seja vantajosa para o empreendedor, o consultor do Sebrae-PR e coordenador estadual de acesso a serviços financeiros, Flavio Locatelli Júnior, orienta o empresário a fazer uma leitura da gestão financeira do seu negócio antes de procurar ajuda.
“Às vezes, vemos empresários buscando crédito fora das suas capacidades de produção e receita”, conta Locatelli Jr. Ele afirma que as instituições financeiras devem ser vistas como fornecedores e que cabe ao empresário conhecer as suas demandas e quais entidades podem ajudar na inclusão.
As opções são várias e vão além dos tradicionais bancos públicos e privados. Agências de fomentos, cooperativas de crédito e banco setorizados também podem suprir as demandas dos pequenos negócios. Locatelli lembra que nada impede o empreendedor de manter relacionamento com mais de uma instituição.
“Primeiro, preciso entender quais são as principais necessidades do meu negócio. Se vou precisar de uma maquininha, preciso fazer uma busca dos fornecedores e comparar quais são as condições oferecidas”, diz o consultor.
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