Thiago Câmara, analista de logística da Renault: “Para quebrar paradigmas, é preciso ir além do óbvio”.| Foto: Hugo Harada/Gazeta do Povo

O que sai mais barato para uma montadora de São José dos Pinhais que importa peças da América do Sul e da Europa: desembarcá-las no Aeroporto Afonso Pena, a 12 quilômetros da fábrica, ou em Guarulhos (SP), tendo de bancar um transporte rodoviário de mais de 400 quilômetros?

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A Renault usava quase sempre a primeira opção. Mas foi convencida por um grupo de funcionários a optar pelo aeroporto paulista. O resultado foi uma economia de 35% nas despesas de frete, o que reduziu em quase R$ 50 o custo de produção de cada veículo.

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Iniciativas como essa nunca foram tão valorizadas. Se faturar mais parece fora de questão para grande parte das empresas, a alternativa para manter o equilíbrio das contas é promover uma caça aos custos – que vá além, é claro, de reduzir o quadro de pessoal, algo que a maioria já fez.

Entre as atitudes mais comuns estão as campanhas para baixar o consumo de água e luz, a terceirização de serviços e a renegociação de contratos de aluguel, vigilância e limpeza. Em alguns casos, as saídas são radicais, como deixar de oferecer certo produto ou serviço. “A crise obriga o empresário a analisar a fundo a estrutura de seu negócio, o que é deixado de lado quando as coisas vão bem”, diz Jerri Ribeiro, líder de gestão de riscos da consultoria PwC na Região Sul.

A crise obriga o empresário a analisar a estrutura do negócio, o que é deixado de lado quando as coisas vão bem.

Jerri Ribeiro, líder de gestão de riscos da consultoria PwC na Região Sul.

Algumas das tesouradas mais criativas são sugeridas pelos próprios funcionários. Recentemente, a Volvo coletou 600 propostas entre os seus, que agora estão sendo avaliadas. A Renault desenvolveu o hábito por meio de uma competição interna chamada de Copa Redução de Custos. Neste ano, um recorde de 1,8 mil funcionários, divididos em 491 equipes, recomendaram mudanças para baixar despesas. Quase metade das ideias pôde ser aproveitada. As melhores renderam prêmios – os primeiros lugares estão curtindo este fim de semana em um resort na Bahia.

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Juntos, os 228 projetos implantados vão proporcionar uma economia anual de mais de R$ 50 milhões, o equivalente a R$ 300 por veículo. A cultura da economia amadureceu rápido. No ano passado, a “Copa” havia resultado em um corte de R$ 100 por veículo. Na primeira edição, em 2013, foram mais ou menos R$ 50.

Além do óbvio

“Para quebrar paradigmas, é preciso ir além do óbvio”, diz o analista de operações logísticas Thiago Câmara, líder da equipe de seis pessoas que, depois de mapear do início ao fim as despesas envolvidas no frete aéreo da Renault, comprovou ser mais vantajoso deslocar para São Paulo o fluxo desse tipo de carga. “Depois da privatização, o aeroporto de Guarulhos ficou mais ágil. E, se no Afonso Pena temos três companhias de carga com seis voos semanais, lá são 40 empresas com voos diários”, explica.

Outro projeto premiado foi o do grupo de sete pessoas liderado pelo operador de carroceria Marcelo Marchaucoski. Ao observar o fluxo de produção previsto para a nova picape Oroch, ele constatou que o número de pinças de solda em sua área poderia ser reduzido de 20 para 11. Além de poupar nove pinças, que serão usadas em outros projetos, isso diminuiu o tempo de formação dos operadores e os custos de manutenção da área, gerando uma economia de R$ 3,55 por veículo.

COMPETITIVIDADE PARA PEQUENAS

Pequenas empresas não costumam ter dinheiro para pagar consultores que lhes ajudem a reduzir desperdícios e ganhar eficiência. Para elas, a solução pode estar na parceria com instituições como a Federação das Indústrias do Paraná (Fiep), que lançou um programa para elevar a competitividade do setor. A primeira edição terá a participação de 102 empresas. “O foco é em gestão financeira, layout do processo produtivo e eficiência energética”, explica Marcelo Percicotti, gerente de economia, fomento e desenvolvimento da Fiep. Segundo ele, um novo edital deve ser lançado no começo de 2016.

Menos gastos com frete e TI

 
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A Orbis do Brasil, instalada em Campina Grande do Sul (Região Metropolitana de Curitiba), atuou em várias frentes para reduzir suas despesas. Uma das medidas foi a terceirização das entregas de seus produtos. Antes, a empresa tinha um caminhão e uma picape; agora, contrata cada frete separadamente. “Além do combustível e do salário do motorista, tínhamos todo um conjunto de despesas para a manutenção desses veículos, que foram eliminadas, ao mesmo tempo em que geramos alguma receita com a venda deles”, conta Fabrizio Romanzini (foto), gerente comercial da empresa.

Fabricante de aquecedores a gás e eletrodomésticos para cozinha (cooktops, fornos e coifas), a Orbis é subsidiária de uma multinacional argentina. Antes, cada fábrica – duas na Argentina, uma no Brasil e outra no Chile – tinha seu próprio sistema de tecnologia da informação, com as respectivas necessidades de atualização e manutenção. Agora os softwares estão integrados, e as despesas de TI foram concentradas na matriz.

Outra redução de gastos foi com os catálogos de produtos. Os impressos ainda existem, mas a empresa está se concentrando nos eletrônicos. Nenhum desses cortes, no entanto, foi suficiente para evitar demissões. A queda da demanda levou a empresa a dispensar quase 30% de seu quadro, hoje em 40 pessoas.