Passada uma década desde as primeiras pesquisas com o etanol de segunda geração (E2G), a euforia em torno do biocombustível não se concretizou no Brasil.
O E2G tem como diferencial o fato de que sua produção pode ocorrer a partir de uma gama maior de biomassas. Por meio da decomposição da lignina (macromolécula) das plantas por enzimas combinadas industrialmente, pode ser fabricado a partir do bagaço da cana já utilizada na produção do etanol tradicional, mas também de madeiras, palhas de cana e milho, cascas de soja e até gramíneas ou partes não comestíveis de plantas.
Para se ter uma ideia, o novo composto (também chamado de celulósico) poderia aumentar em 50% a produção do biocombustível no país. Suas possibilidades de uso são idênticas às do biocombustível tradicional – de maquiagens à gasolina.
Algumas dificuldades, no entanto, atrasam o desenvolvimento e o ganho de escala do E2G: necessidade de aprimoramento tecnológico, custos elevados da produção e carência de apoio público nacional estão entre elas.
Projeções da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD) indicam que o Brasil tem potencial para produzir, pelo menos, 10 bilhões de litros de etanol de segunda geração até 2025. Segundo a instituição, a capacidade instalada do país atualmente para a produção de E2G é de 177,3 milhões de litros, mas o alto custo da tecnologia que faz a quebra da lignina ainda dificulta o alcance da marca. Hoje, apenas duas empresas – Granbio e Raízen – têm usinas de etanol celulósico em funcionamento no Brasil.
“A etapa de pré-tratamento, que remove a lignina da biomassa, é responsável por cerca de 30% dos custos de produção do etanol de segunda geração. Outro fator que encarece o processo é o custo das enzimas usadas na etapa de transformação dos polissacarídeos em açúcares simples, como os do etanol de primeira geração”, explica Patrícia Raquel Silva, pesquisadora da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Florestas.
A instituição trabalha desde 2008 no desenvolvimento do E2G a partir da madeira e outros resíduos florestais, como lodos gerados nas estações de tratamento da indústria de papel e celulose. A entidade quer ofertar a tecnologia às empresas, mas ainda lida com certa insegurança das companhias, receosas em aportar os recursos necessários para dominar o conhecimento.
Pesquisas estimam que, desde 2000, o desenvolvimento tecnológico do E2G já reduziu o preço do produto em 15%. “Para que os custos da produção diminuam, é necessário incentivar a pesquisa e baratear a produção. Políticas públicas que estimulem a fabricação do composto por aqui são fundamentais, mas ainda discretas”, diz Patrícia.