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O real teve a maior perda frente ao dólar nos últimos seis meses, quando se leva em consideração uma cesta com as dez principais moedas das maiores economias mundiais. A seleção das moedas analisadas foi feita pelo ranking das nações no PIB mundial, sendo que vários países europeus aparecem sob o "guarda-chuva" do euro.

Nos seis meses compreendidos entre 14 de maio - antes do início da fase mais aguda da crise financeira internacional - e 14 de novembro de 2008, a moeda americana teve alta de 37,34% frente ao real. Na Coréia do Sul, a cotação do dólar frente ao won local teve valorização de 36,15%, enquanto no Reino Unido o dólar ficou 31,37% frente à libra esterlina.

"O real tinha sido a moeda que mais tinha se valorizado frente ao dólar antes da crise. Então, é natural que haja um ajuste e ele se desvalorize mais nesse contexto", diz o professor de economia da PUC-SP Antônio Correa de Lacerda. Pelo levantamento, o real perdeu valor frente a todas as principais moedas mundiais.

"No semestre anterior, houve uma desvalorização excessiva do dólar frente ao real, o chamado ‘undershooting’. É um processo que está se revertendo no outro sentido agora, o chamado ‘overshooting’, com uma desvalorização excessiva do real", concorda o economista-chefe do Banco ABC Brasil, Luís Otávio Leal.

Pena dupla

Segundo os especialistas, o processo cambial brasileiro é penalizado de modo duplo. De um lado, explica Leal, o Brasil faz parte do grupo dos países emergentes, que "estão no bojo de uma estratégia de desalavancagem (retirada de ativos), por serem considerados como mercados de risco mais alto".

Além disso, ele faz parte de outro grupo dentro dos emergentes: aqueles que têm suas exportações fortemente atreladas a matérias-primas (commodities), cujo preço está caindo no mercado mundial. Outros países que se encaixam nesse grupo – México e Rússia, por exemplo – também têm registrado perdas na cotação de suas moedas frente ao dólar.

Segundo o professor Lacerda, a valorização do dólar frente ao real pode ser positiva para a economia brasileira. "Aumenta a competitividade de nossos produtos para concorrer com os importados e para ganhar espaços nas exportações", afirma.

Lacerda diz acreditar que o lado negativo da desvalorização cambial – maior pressão sobre os preços – deve ser compensada pela queda do preço tanto das commodities agrícolas dos produtos industriais.

Força asiática

Entretanto, o dólar ocupa apenas a terceira colocação na lista das moedas frente às quais o real mais perdeu valor, com queda de 26,66% da divisa nacional. À frente estão o iene japonês (perante a qual o real se desvalorizou 32,71% nos últimos seis meses) e o iuan da China (perdas de 28,97%).

Aliás, as duas moedas asiáticas são as únicas que ganharam valor frente ao dólar nos últimos seis meses. Isso é particularmente forte no caso do iene, frente ao qual o dólar teve queda de 7,79% no período.

Segundo Lacerda, a força do iene se explica pelo cancelamento das chamadas operações de "carry trade" devido à crise internacional. "Nessas operações, o especulador fazia empréstimos no Japão, aproveitando a baixa taxa de juros local, e aplicava os recursos em outros mercados, como o Brasil, que tinham juros mais altos. Essa diferença entre as taxas de juros era o lucro da operação", explica o professor da USP.

"Com a crise, houve uma desmontagem desse tipo de posições, especialmente pelos grandes fundos dos EUA. Houve necessidade de repatriar esse dinheiro para os EUA – uma operação que passa pelo mercado japonês –, o que gera uma forte valorização da moeda local, que passa a ser mais procurada", completa Leal.

Referência mundial

Normalmente, uma crise econômica em um determinado país provoca uma desvalorização na moeda local. Como explicar então o fato que a moeda americana se valoriza frente às demais divisas mundiais – com exceção das asiáticas –, mesmo com a crise que atinge o centro da economia mundial?

"O dólar ainda é a moeda de referência internacional: na dúvida, as pessoas correm para o dólar. O que vale mais na crise é a liquidez, e não a rentabilidade", responde o professor Lacerda. "O dólar, apesar da crise, ainda responde pela maior economia do mundo, e ainda é visto como reserva de valor em todo o planeta", acrescenta Leal.

De acordo com os analistas, em momentos de turbulências econômicas como as atuais os investidores "fogem" para o papel que ainda é considerado o mais seguro do mundo – o título do governo americano.

E o quadro não deve mudar, pelo menos a curto prazo. Para os economistas, ainda não existem moedas em condição de substituir o dólar como âncora financeira internacional.

"O euro hoje é uma alternativa, mas ainda muito distante. Se eu pego as reservas cambiais mundiais, é possível constatar que 65% são em dólar e apenas 15% em euro. O dólar ainda é o porto seguro da maioria dos investidores", explica Lacerda.

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