Boa parte dos investidores brasileiros não se aconselha com profissionais especializados para tomar decisões, aponta pesquisa divulgada no último mês pela gestora americana de investimentos Franklin Templeton. O levantamento, feito a partir de 500 entrevistas, com pessoas de 25 a 65 anos, também indica desconfiança quanto à solidez financeira das empresas que recebem as aplicações e pessimismo com as perspectivas de ganhos para este ano.
A tomada de decisão por conta própria é apontada por 41% dos investidores entrevistados como prática mais comum. A principal consequência desse comportamento é a formação de uma carteira de ativos generalista e com bastante alocação em produtos conservadores, já que o investidor “autossuficiente” tende a ser avesso ao risco, conforme análise do presidente da Franklin Templeton no Brasil, Marcus Vinícius Gonçalves.
Um dos propulsores desse movimento é a expansão da internet no país, que avolumou e acelerou a circulação de informações úteis a investidores. Percebendo a tendência, a XP Investimentos passou a priorizar o atendimento remoto, em que o cliente é orientado a distância, de forma a atrair potenciais clientes habituados a operar sozinhos. “Temos uma equipe de análise que trabalha em uma espécie de ‘sala virtual’, tirando dúvidas e comentando balanços e fatos relevantes, por exemplo”, conta Gabriel Leal, diretor da corretora.
Quando busca conselho técnico, a maioria (35%) o faz no próprio banco de varejo, orientando-se com o gerente, em atitude que nem sempre é a mais adequada. Professor da FGV/EAESP, o economista Samy Dana diz que há uma espécie de conflito de interesses, já que o funcionário do banco responsável pelo aconselhamento é o mesmo que precisa vender o produto.
Desconfiança
Outra característica revelada pela pesquisa é a desconfiança do investidor em relação à saúde financeira das empresas depositária e intermediadora da aplicação. Esses temores são apontados por 52% dos entrevistados como as maiores preocupações ao investir.
Gonçalves avalia que o receio está ligado ao histórico recente de instituições financeiras brasileiras. “Já vivemos muitas crises, inclusive bancárias. E isso faz com que o investidor tenha medo de deixar o dinheiro no banco e, amanhã, o banco não estar mais lá para honrar o compromisso.”
A lista de preocupações segue com a performance do produto oferecido (21%) e com as taxas embutidas nele (13%). O fato de esses fatores aparecerem em segundo plano é visto com preocupação. “Às vezes, a pessoa investe por meio de um banco que considera sólido, mas opta por um produto arriscado”, exemplifica Leal.
Pessimismo
A pesquisa deste ano também relevou crescimento do pessimismo quanto ao alcance de metas financeiras: o indicador subiu de 10%, em 2013 e 2014, para 29% neste ano – o quinto mais elevado, entre 23 países pesquisados, refletindo as dificuldades da economia brasileira.
Gonçalves pondera que o momento de maior pessimismo já passou – a pesquisa foi finalizada no início de março, quando eclodiam atos de protestos que levaram milhões às ruas do país contra a presidente Dilma Rousseff.
Menos da metade dos investidores tem aplicações no exterior
A pesquisa da Franklin Templeton também mostra que o nível de aplicações feitas por brasileiros no exterior é bastante reduzido: 56% dos investidores não tem nenhum negócio externo. Entre os que investem, 35% tem menos de 25% do capital aplicado em outros países, e somente 3% têm a maioria dos ativos internacionalizados.
Os fatores que explicam os números discretos são a cobrança de taxas (40%) e a falta de conhecimento do mercado global (27%), seguidos por câmbio (15%), taxas de juros locais mais atraentes (10%) e falta de oferta do produto no banco ou corretora.
Diretor da XP Investimentos, Gabriel Leal diz que o dado mostra uma grande oportunidade de mercado, pois aplicações no exterior são uma alternativa interessante e recomendada pela corretora.
“Ter parte do patrimônio em uma moeda forte é uma estratégia muito importante, especialmente em longo prazo. Ficar com ativos 100% em moeda local traz risco em uma eventual desvalorização cambial”, aponta. Professor da FGV/EAESP, Samy Dana concorda que a aposta é boa, mas ressalva que os custos elevados desse tipo de operação a restringem a donos de grandes patrimônio, em busca de diversificação, e não de rentabilidade.
O presidente da Franklin Templeton no Brasil, Marcus Vinícius Gonçalves, espera que a iminente entrada em vigor da Instrução 555 da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), que amplia a regulamentação de fundos de investimentos e tem um capítulo voltado a aportes internacionais, estimule esse tipo de negócio.