Embora seja a aplicação mais conhecida e popular do país, a caderneta de poupança guarda “pequenos segredos” que podem comprometer a rentabilidade, já reduzida diante da combinação de inflação e juros em alta. Atenção a esses detalhes, além de uma dose de método e disciplina, ajuda a caderneta a se tornar uma reserva financeira mais interessante.
O principal detalhe a que o poupador deve atentar é a data de aniversário da conta, que é o dia do mês em que o dinheiro foi aplicado. A remuneração de juros, que é mensal, ocorre toda vez que a data se repete, nos períodos seguintes. A exceção são os depósitos feitos nos dias 29, 30 e 31, que recebem juros no dia 1º. Sacar valores antes dessa data implica perda do rendimento acumulado no período anterior e, portanto, depreciação do montante aplicado.
O ideal é que o depositante se lembre dessas datas ou, então, que eleja determinado dia do mês para fazer as operações, de forma a vincular o rendimento a um único dia mensal. “É legal programar os depósitos para que aconteçam sempre no mesmo dia, porque, ao longo do tempo, é normal ir perdendo esse controle de datas”, diz a planejadora financeira Licelys Marques, certificada via IBCPF.
Outra armadilha é esperar o mês transcorrer para, ao final dele, realizar o depósito. A recomendação de Thiago Alvarez, fundador de aplicativo de controle financeiro GuiaBolso, é de que o aporte seja realizado logo após o recebimento do salário, de forma a evitar que despesas supérfluas consumam o dinheiro que seria destinado à caderneta.
Alvarez afirma que, para um bom orçamento doméstico, é preciso reservar para a poupança em torno de 15% da renda mensal, deixando 50% para gastos essenciais e os 35% restantes, para despesas especiais, conforme o padrão de vida que se almeja.
Também estão entre as recomendações de especialistas a realização de depósitos programados, em que o dinheiro é transferido da conta corrente para a poupança automaticamente, em dia escolhido e com valor previamente definido. A dica é especialmente útil para quem tem pouca disciplina para poupar voluntariamente.
Mau investimento
Embora seja interessante como reserva financeira, a caderneta é criticada pela ótica de investimento, já que tem rentabilidade excessivamente baixa – neste ano, inferior à variação da inflação. Um hipotético investimento de R$ 1 mil, feito no começo do ano, acarretaria prejuízo de R$ 28,20 até abril, consideradas a rentabilidade da caderneta (1,74%) e a inflação oficial (4,56%) do período.
“Quem investiu na poupança perdeu poder de compra, e isso é preocupante. Se, ao longo do tempo, você investir em produtos que perdem para a inflação, o dinheiro estará se descapitalizando”, diz Licelys.
A tendência é de que a caderneta só recupere rentabilidade – hoje, está em torno de 0,60% ao mês – à medida que a inflação recue e permita o relaxamento da taxa básica de Juros (Selic), em curva ascendente há três anos e meio e, hoje, em 13,25% ao ano. Até lá, a recomendação é usar a poupança apenas para fins de reserva emergencial, com atenção às dicas para elevar a discreta rentabilidade.