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conjuntura

Gestão Levy chega a 100 dias sem resgatar a confiança na economia

Joaquim Levy assumiu ele próprio a articulação política para aprovar o projeto de ajuste fiscal em um Congresso totalmente hostil: falta apoio no Palácio do Planalto. | Marcelo Camargo/Agência Brasil
Joaquim Levy assumiu ele próprio a articulação política para aprovar o projeto de ajuste fiscal em um Congresso totalmente hostil: falta apoio no Palácio do Planalto. (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

Joaquim Levy completa 100 dias à frente do Ministério da Fazenda nesta quarta-feira (15) ainda longe de alcançar seu primeiro objetivo: a reconquista da confiança de empresários e consumidores, tida como fundamental para uma retomada dos investimentos e, mais adiante, do crescimento econômico.

Os índices que buscam refletir os ânimos dos “agentes econômicos”, em queda desde o ano passado, pioraram após a posse do ministro. Em paralelo, houve uma deterioração de indicadores econômicos como a taxa de desemprego e a inflação – em parte, pelo efeito de políticas do próprio Levy, como a flutuação mais livre do câmbio e o “realismo tarifário” (veja quadro abaixo).

Para quem elogia o trabalho do ministro, o maior obstáculo está na hesitação do Planalto em apoiar as medidas da equipe econômica. A percepção de que Levy trabalha quase sozinho foi reforçada depois que a presidente Dilma encarregou ele próprio de fazer a articulação política da austeridade fiscal em um Congresso hostil como há muito não se via.

Para economistas de cunho desenvolvimentista, a missão de Levy está fadada ao fracasso pelo simples fato de que as premissas do ministro estariam erradas. Nessa hipótese, atitudes como o corte de gastos do governo vão levar a economia da estagnação à recessão, colocando em xeque o próprio ajuste fiscal, dada a possível queda da arrecadação de impostos.

“O ajuste é crível? Sim. As pessoas acreditam que ele de fato vá funcionar? Parece que não”, diz o economista Carlos Eduardo Soares Gonçalves, professor da Universidade de São Paulo (USP) e autor dos livros Economia sem truques e Pequenas estórias. “Levy veio apagar o fogo aceso e alimentado por quatro anos pelo antigo ministro [Guido Mantega]. Acho que ele dificilmente poderia ter feito mais até agora. Mas o ajuste representa uma contradição tão grande em relação ao que Dilma disse e fez por quatro anos que fica difícil vendê-lo para a sociedade e o Congresso.”

Para Luciano Nakabashi, professor de Economia da USP de Ribeirão Preto, é natural que, no curto prazo, o ajuste fiscal e a retirada de incentivos piorem a situação da economia. “Para sustentar o ajuste em um cenário de economia tão fragilizada, o ministro depende muito do apoio da presidente, mais até que do apoio do Congresso.”

Fracasso à vista

Pedro Paulo Zahluth Bastos, do Instituto de Economia da Unicamp, não vê possibilidade de recuperação via ajuste fiscal. “No primeiro mandato, Dilma tentou estimular o investimento privado com subsídios. Não funcionou. Agora Levy crê que a resolução do problema fiscal vai elevar a confiança dos empresários. É trocar subsídios por promessas”, avalia.

Bastos defende que o governo amplie o investimento público, ainda que à custa de mais endividamento. “Não sairemos da crise pelas exportações, porque a demanda mundial está fraca. Nem pelo investimento privado, porque as empresas já estão com capacidade ociosa e o consumidor teme gastar. Sairemos pelo investimento público, principalmente em infraestrutura de mobilidade urbana e gestão dos recursos hídricos.”

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