Ex-presidente do IBGE descarta ingerência em correção

O economista Sérgio Besserman, que presidiu o IBGE durante o segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso, disse nesta sexta-feira (19) que não acredita que a divulgação de dados alterados pelo instituto tenha ocorrido por "ingerência política". Ele foi informado de que o IBGE assumiu erros na divulgação da Pnad-2013 quando se preparava para embarcar para Nova York, onde participará da Conferência de Clima da ONU.

"Como não tenho os detalhes, não tenho comentário técnico a fazer. Mantenho minha confiança no instituto. Se houve erro, é lamentável. Mas é um erro. Por tudo o que conheço do IBGE, descarto a possibilidade de ingerência política", afirmou Besserman, que estava à frente do instituto quando foi realizado o Censo 2000.

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Escassez de recursos humanos afeta IBGE, diz sindicato

O erro admitido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) é resultado de uma fórmula que associa poucos recursos humanos e materiais a uma forte pressão por produtividade e cumprimento de prazos. A avaliação foi feita pela diretora executiva do Sindicato Nacional dos Trabalhadores em Fundações Públicas Federais de Geografia e Estatísticas (Assibge-SN), Ana Magni.

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Os resultados da Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílios (Pnad) de 2013, divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na quinta-feira (18), têm erros, disse nesta sexta-feira (19) o coordenador do estudo Cimar Azeredo, acrescentando que a concentração de renda no país caiu no ano passado, ao contrário do que tinha sido divulgado anteriormente. Segundo Azeredo, foi utiliza uma projeção de população incorreta em áreas que há mais de uma região metropolitana. "Em vez de colocar a projeção de população correta se colocou errada. Não percebemos o erro", disse Azeredo em entrevista coletiva na sede do órgão.

O índice de Gini domiciliar, que mede a concentração de renda, recuou em 2013 para 0,497 ante 0,499 em 2012. Na quinta-feira, o IBGE tinha informado que o índice tinha subido para 0,500. Pelos critérios do indicador, quanto mais perto de zero menor é a desigualdade de um país. "Houve uma desconcentração, reduziu a desigualdade", disse Cimar Azeredo. "Houve desconcentração de renda, ainda que pequena", completou. "No índice da renda total, houve queda (da desigualdade). Nos outros, houve estabilidade", afirmou Maria Lucia Vieira, gerente da Pnad.

Também mudou a estimativa da renda do trabalho, que passou de uma expansão de 5,7%, divulgada na quinta-feira (19), para uma alta menor, de 3,8%. A renda foi reestimada de R$ 1.681 para R$ 1.651. Já a taxa de desemprego não sofreu alteração e ficou em 6,5% no ano passado - acima do 6,1% de 2012.

Apesar de o percentual de pessoas que ganham até um salário mínimo ter ficado em 25,2% da população ocupada em 2013, e não 24,8%, a desigualdade diminuiu porque a taxa dos que ganham de cinco a 20 salários mínimos passou de 7,6% para 7,3% entre as duas análises e os que recebem mais de 20 salários mínimos permaneceu em 0,7%.

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De acordo com o diretor de Pesquisa do instituto, Roberto Luís Olinto Ramos, todos os dados puros estão corretos, mas houve um erro técnico que superestimou a população das regiões metropolitanas do país, o que influenciou em outros dados, como o índice de Gini. "Basicamente o que aconteceu foi um erro técnico que afetou alguns estados e algumas variáveis. A pesquisa é por amostra, não cobre a população inteira. Existe um processo onde você pega a amostra e projeta com um peso. Da amostra para o todo, houve um problema restrito às regiões metropolitanas de sete estados que têm mais de uma região metropolitana, onde foi considerado o peso da região metropolitana do estado inteiro, e não apenas o da capital".

O rendimento mensal do trabalho variou menos do que o estimado na quinta: 3,8%, e não 5,7%, com isso, o valor do rendimento médio mensal ficou em R$ 1.651, e não R$ 1.681. De acordo com o coordenador de Renda e Emprego, Cimar Azeredo, isso se explica pelo fato de a renda nas regiões metropolitanas ser maior do que no interior dos estados. "Rendimento é o que mais sofreu mudança, pois os dados da região metropolitana estavam inflados e os maiores rendimentos estão na região metropolitana. Pelo mesmo motivo, o analfabetismo aumentou, porque é maior no interior".

A taxa de analfabetismo em 2012 era 8,7% da população e caiu para 8,5%. O dado divulgado ontem foi 8,3%. A taxa de desocupação permanece a mesma divulgada ontem, de 6,3% da população, mas o contingente de pessoas é 6,637 milhões, e não 6,693 milhões. O nível de ocupação total ficou em 61,8% da população, no lugar de 61,2%. O trabalho infantil caiu 10,6%, e não 12,3% divulgado na quinta.

O motivo

Mais cedo, o IBGE confirmou erros em dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios. As alterações ocorreram em sete estados: Ceará. Pernambuco, Bahia, Minas Gerais, São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul. "A pesquisa continha erros extremamente graves. Nos cabe pedir desculpas a toda sociedade brasileira", afirmou a presidente do instituto, Wasmália Bivar.

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De acordo com o IBGE, os problemas nos dados da Pnad ocorreram porque a Coordenação de População enviou projeções incorretas de alguns Estados, nos que há mais de uma região metropolitana. A Pnad divulga resultados para cada unidade federativa e para nove regiões metropolitanas (Belém, Fortaleza, Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba e Porto Alegre). Nas unidades federativas dessas nove regiões metropolitanas, a calibração dos dados é feita considerando a projeção de população para a região metropolitana da capital e para o restante do Estado, separadamente.

No Estados afetados pelo erro existem outras regiões metropolitanas, além das localizadas nas capitais.Segundo comunicado divulgado no site do IBGE, no processo de expansão da amostra da pesquisa foi utilizada, equivocadamente, a projeção de população de todas as áreas metropolitanas em vez da projeção de população da região metropolitana na qual está inserida a capital.

No início do ano, Ipea retificou dados de pesquisa sobre estupro

Este ano, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), órgão subordinado à Secretaria de Assuntos Estratégicos, da Presidência da República, também retificou dados de uma pesquisa. Em 27 de março, o Ipea causou grande polêmica ao divulgar um levantamento que apontava que 65% dos brasileiros concordariam total ou parcialmente com a ideia de que mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser estupradas.

Mas, em 4 de abril, o Ipea informou que o número estava errado. O índice foi corrigido para 26%. O instituto afirmou que o erro foi causado pela troca dos gráficos relativos a quatro perguntas do levantamento. A pesquisa repercutiu bastante nas redes sociais e gerou até um movimento "Não Mereço ser Estuprada", em que mulheres posaram em fotos sem roupa ou seminuas com cartazes de protesto contra a violência sofrida por mulheres no Brasil.

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O diretor de Estudos e Políticas Sociais, Rafael Guerreiro Osório, pediu exoneração assim que o erro foi constatado. Além disso, o diretor Daniel Cerqueira compareceu a audiência pública no Senado, no início de abril, para falar sobre o episódio.

IBGE

O IBGE já teve outros problemas em pesquisas. Em novembro de 2011, o vazamento do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) referente a outubro detonou uma crise no instituto. Uma mudança no sistema de disseminação de informações deixou, ao longo de pelo menos cinco meses, dados confidenciais de pesquisas disponíveis para consulta antes da divulgação oficial. O IBGE abriu uma sindicância para investigar o episódio, que revelou a fragilidade no sistema do órgão.

No mesmo mês, o anúncio de uma mudança na metodologia de cálculo do IPCA sem aviso prévio gerou uma série de críticas por parte de analistas do mercado financeiro. Além das críticas em relação à transparência da divulgação, mudanças nos pesos de itens como educação também foram questionadas.

Antes, em novembro de 2009, o IBGE errou no cálculo no Censo Agropecuário, índice que mede a concentração de terra no País, divulgado no fim de setembro daquele ano. O primeiro dado divulgado mostrava que em 2006 o índice de Gini no sistema fundiário havia atingido 0,872, indicando piora na concentração de terras em uma década.

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O número correto (0,854), no entanto, levava à interpretação inversa: um pequeno recuo em relação ao resultado de 0,856 apurado no censo de 1995/1996. Pela escala de Gini, quanto mais o resultado se aproxima de 1, maior é a concentração. Na época o IBGE divulgou uma nota à imprensa e atribuiu o resultado incorreto a uma falha técnica no processamento dos dados apenas no cálculo do índice nacional.