As ações da Petrobras subiram na expectativa pelo balanço de 2014, que deve sair nesta semana.| Foto: Marcelo Andrade/Gazeta do Povo

Embora tenha se recuperado nas últimas semanas e viva o melhor momento desde o fim do ano passado, a Bovespa ainda é um investimento arriscado neste momento, opinam analistas do mercado. As boas notícias recentes podem ser insuficientes para segurar o ritmo de negócios, diante do cenário de economia em recessão e rodeada por incertezas.

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Termômetro dos negócios da Bolsa, o Ibovespa superou, na primeira semana do mês, a marca de 54 mil pontos pela primeira vez no ano, alcançando o maior patamar desde novembro de 2014. A alta no volume de negócios se deveu, sobretudo, ao arrefecimento da crise do governo, com a escolha de Michel Temer (PMDB) para a interlocução política; e ao trabalho de resgate da confiança do investidor conduzido por Joaquim Levy, focado em equilibrar as contas públicas e resgatar o superávit primário.

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Um dos problemas é justamente a incerteza quanto à capacidade de Levy seguir atuando nessa direção saneadora. “O mercado não conseguiu entender quanta autonomia o Levy tem e vai ter. Ele deu demonstrações de vontade de mudança, mas foi podado pela presidente e já colocou o cargo à disposição duas vezes”, lembra o sócio da corretora Elite, Rilton Brum.

O trabalho do ministro é considerado fundamental para inspirar em consumidores e no empresariado a convicção de que a economia vai se recuperar. Isso poria fim ao ciclo de retração de consumo e investimentos que afeta os resultados das empresas e, em consequência, os resultados da Bolsa. “Um ciclo de aperto de juros vai se traduzir em mais custos para as empresas e menos atratividade da bolsa”, projeta Bruno Gonçalves, analista fundamentalista da corretora WinTrade.

Este é um momento muito perigoso para entrar na Bolsa, especialmente se for para comprar ações da Petrobras. Sem o balanço, não dá para saber quanto ela vale.

Raymundo Magliano Neto, presidente da corretora Magliano.

Também há dúvidas sobre os números do balanço da Petrobras referente ao ano passado, que deve ser divulgado nesta quarta-feira (22). Embora as ações da companha tenham subido com força no último mês – o que fez a alta acumulada desde janeiro chegar perto de 40% –, os efeitos da Operação Lava Jato sobre a companhia são imprevisíveis. “Este é um momento muito perigoso para entrar na Bolsa, especialmente se for para comprar ações da Petrobras. Sem o balanço, não dá para saber quanto a companhia vale”, alerta Raymundo Magliano Neto, presidente da corretora Magliano.

Rating e juros nos EUA

O horizonte dos investidores contempla dois fatores de prazo mais longo: o iminente reajuste dos juros americanos pelo Federal Reserve (Fed), o banco central local; e a possibilidade de o Brasil perder a nota que lhe confere grau de investimento pelas agências de classificação de risco.

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O aumento dos juros dos EUA é esperado para este ano, mas sem data definida. Gonçalves diz que a medida deve ter como impacto principal na Bolsa a migração de investimentos para o mercado americano de renda fixa, que se tornará mais atraente. Também é esperada mais valorização do dólar.

O temor do rebaixamento da nota de crédito brasileira poderia ter sido diluído no último dia 9, com a manutenção de rating dada pela Fitch. A agência, porém, mudou a perspectiva da classificação, de neutra para negativa, o que preservou a preocupação de que isso ocorra e afete os investimentos feitos no país.

Com maior alta do ano, Petrobras ainda desperta desconfiança

A ação que mais se valorizou na Bovespa desde janeiro – considerando os 20 ativos mais negociados no período de 12 meses até março – foi a da Petrobras, com alta de quase 40%. Apesar disso, ainda há receio, no mercado, de apostar na empresa.

“A Petrobras é uma caixinha de surpresas. Há muitos fatores desconhecidos ao redor da empresa, como o tamanho do buraco da corrupção e o atraso na divulgação do balanço”, afirma Bruno Gonçalves, analista fundamentalista da WinTrade.

Completam a lista das cinco ações mais valorizadas no ano Ultrapar, BM&FBovespa, Ambev e BB Seguridade, com valorizações de 16% a 29%. Por outro lado, lideram as quedas as ações de Kroton, Oi, Vale e Estácio, com desvalorizações que oscilam de 13% a 28%.

As empresas que se beneficiam do dólar valorizado, como as exportadoras, são as mais indicadas para investimentos neste momento, apontam os analistas. Outro caminho é o de empresas cuja atividade é menos vulnerável ao momento ruim da economia, especialmente as de consumo básico.

Gonçalves destaca os setores de alimentos e bebidas, que dependem menos de crédito, cuja concessão está mais restritiva. Raymundo Magliano Neto, da corretora Magliano, vê potencial também nos setores de medicamentos e de meios de pagamentos, que costumam manter bons níveis de negócios. Entre as empresas que ele indica estão Ambev, Raia Drogasil e Cielo.

Apesar das sugestões, não há garantia de retorno e a estimativa é de um 2015 difícil. “Não é nada fácil selecionar ações num cenário de juros altos e recessão, com PIB em queda. Acho difícil a Bolsa subir mais do que já subiu”, diz Magliano Neto. (RC)