Se você assistiu ao filme “Ela”, de Spike Jonze, no qual o personagem de Joaquin Phoenix usa um software de inteligência artificial tão avançado que atua como um assistente pessoal quase humano, capaz de reservar uma mesa de restaurante ou ler e-mails a um simples comando de voz, talvez se frustre com Poncho. Bem mais limitado, o serviço informa a previsão do tempo via mensagem personificada por um gato que conversa com uma dose de naturalidade, quase como se fosse um amigo. “Devo sair de jaqueta?”, perguntei dia desses. “Sem chance, tá muito calor”, disse Poncho. Não é alguém respondendo, mas um robô. E você pode puxar papo com ele agora mesmo, direto no seu Facebook Messenger.
Sistemas como Poncho, ou o assistente virtual Siri, da Apple, com capacidade de “dialogar” por texto ou voz são empacotados com o termo chatbots. Não são exatamente uma novidade. “Bots são os novos apps”, já declarava em 2014 Satya Nadella, CEO da Microsoft, cravando que estes sistemas representam o que há de promissor para tornar a vida bem mais fácil, resolvendo com poucas palavras questões que, de outra forma, exigiriam abrir um website, um aplicativo de celular, pesquisar no Google ou (até) fazer uma ligação. Com o anúncio do Facebook, que nesta semana abriu o código do Messenger para que qualquer empresa interessada ofereça seus próprios bots diretamente no aplicativo de mensagem (como acontece com o Poncho), esse caminho parece mais curto.
“Acho esse um grande passo porque vai popularizar a ferramenta. Vai permitir que a padaria da esquina tenha acesso a um serviço de inteligência artificial. Esse é o ponto importante”, avalia Camila Porto, escritora e especialista em marketing e estratégia em redes sociais. Faz sentido em um serviço com 900 milhões de usuários ativos mensalmente. E mais, tudo vai acontecer no ambiente familiar do Messenger.
Pela quantidade de usuários, o Facebook sai na frente na corrida dos bots. Mas não está sozinho. Recentemente, o gadget Echo, da Amazon, arrancou elogios da crítica pela capacidade de entender, responder e realizar tarefas como ligar música, informar condições climáticas e de tráfego e tirar dúvidas sobre vários assuntos. A diferença é que ele não é um smartphone, uma rede social ou um aplicativo, mas um aparelho novo.
Da mesma forma, uma série de startups e grandes empresas (Google e KIK) estão, neste momento, desenvolvendo soluções parecidas. Algumas já disponíveis no mercado. E a avalanche vai se intensificar. “Isso aconteceu por conta de uma convergência de três coisas: penetração de aparelhos móveis; crescimento do uso de aplicativos de mensagens; e os recentes e rápidos avanços no desenvolvimento de inteligência artificial, que permite que esses robôs para chats possam ser mais detalhistas e parecerem mais humanos”, avalia David Wright, especialista em inovação da Kantar, empresa de pesquisa e consultoria.
O caminho para um sistema complexo, que lembre o filme de Jonze, ainda tem chão. Mas Mark Zuckerberg e outros gurus da tecnologia não parecem poupar esforços. Assim como o personagem de Phoenix, todos eles parecem perdidamente apaixonados pela inteligência artificial.