Na semana passada, o governo decidiu cobrar 2% de IOF dos investimentos estrangeiros. A medida foi bastante elogiada por entidades industriais, entre elas a poderosa Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), e muito criticada no mercado financeiro, em especial pela BM&FBovespa. Em entrevistas, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse que não esperava reverter a valorização do real com o imposto, e sim evitar a formação de uma bolha no mercado financeiro, inflada pelos dólares tomados a juro zero fora do país.
O economista Roberto Troster, sócio da consultoria Integral Trust, diz que o governo está perdendo tempo se espera evitar a desvalorização do real com o IOF. "A indústria tem razão em se preocupar, já que vai ter um recuo de 7% neste ano. Mas ela não pode depender do câmbio. O dólar vai continuar derretendo", afirma. Segundo ele, há um movimento estrutural na economia global com a busca de investimentos mais rentáveis do que os oferecidos no mundo rico. Como o Brasil apresenta bom potencial e risco baixo (o que é resultado das polpudas reservas), é um dos alvos preferidos.
Apesar de admitir que o efeito do IOF sobre o câmbio será marginal, o economista Giuliano Contento de Oliveira, professor da PUC-SP, diz que a medida era necessária. "O governo não poderia ficar sem fazer nada. Pelo menos ele desestimula um pouco a entrada de capital de curto prazo", afirma. "Levar a taxa de câmbio de volta para o nível de R$ 1,80 a R$ 1,85 é da alçada do Banco Central. Não podemos esperar uma taxa de câmbio mais favorável ao exportador somente com a criação do IOF."
Segundo Oliveira, porém, o BC tem limitações para influenciar o câmbio. A autoridade monetária tem comprado a moeda norte-americana para enxugar os excessos no mercado, e tornar essa política ainda mais agressiva tem custos altos, porque é financiada com títulos da dívida pública. "Elevar a cotação do dólar ainda poderia trazer algum ruído inflacionário. O BC tem seus limites."