O governo da Irlanda detalhou na terça-feira o Orçamento mais rigoroso já feito no país, visando 6 bilhões de euros em cortes de gastos e aumento de impostos.
A aprovação das medidas era crucial para evitar o aprofundamento da crise e ativar o fundo de resgate da União Europeia e do Fundo Monetário Internacional (FMI).
Em discurso ao Parlamento, o ministro das Finanças irlandês, Brian Lenihan, delineou medidas de austeridade para 2011, incluindo cortes a benefícios para crianças e aposentadorias do setor público, mas manteve previsões de crescimento que economistas - e até a Comissão Europeia - consideram muito otimistas.
O Parlamento aprovou o Orçamento na primeira de uma série de votações na noite de terça-feira, sugerindo que uma parte suficiente do Orçamento será aprovada para ativar o resgate ao país.
O sucesso do Orçamento se tornou duvidoso quando políticos independentes, de quem o governo depende, disseram que poderiam votar contra as medidas.
Mas a aprovação do Orçamento parece ter satisfeito o FMI, que marcou uma reunião de conselho na sexta-feira para considerar um empréstimo de 22,5 bilhões de euros para a Irlanda, parte do pacote de resgate de 85 bilhões criado em conjunto com a União Europeia.
"Nós saudamos a aprovação do Orçamento de 2011 pelo Parlamento irlandês", disse um porta-voz do FMI. "Esse é um sinal claro do forte compromisso da Irlanda para combater seus problemas e fortalecer o impressionante potencial de crescimento dessa economia aberta e dinâmica."
O estouro de uma bolha imobiliária na Irlanda transformou uma das economias mais promissoras da Europa em um país que se viu obrigado a buscar socorro do FMI e da UE para cobrir seus custos de financiamento e ajudar seus bancos.
Impacto do Orçamento
Se todas as resoluções que escoram o Orçamento tiverem sido aprovadas no início do ano que vem, o primeiro-ministro Brian Cowen - líder mais impopular da história recente irlandesa - prometeu convocar eleições antecipadas, em que ele pode ser derrotado.
Isso significa que um novo governo, provavelmente uma coalizão entre o oposicionista Fine Gael e os trabalhistas de centro-esquerda, terá de supervisionar os cortes de gastos.
O Orçamento de 2011 é o mais rigoroso previsto no plano quadrienal de austeridade, que pretende economizar 15 bilhões de euros - quase 10% da produção econômica anual - e deixar o pior déficit da zona do euro de acordo com os limites da UE até 2014.
Cowen quer cerca de 4 bilhões de euros em cortes de gastos ano que vem, com benefícios sociais, aposentadorias públicas e projetos de investimentos na mira.
"Eu tenho medo pelo futuro, eu tenho medo pelo país e por todos a minha volta", disse Maeve, 62, uma professora aposentada que começou a chorar enquanto falava das dificuldades econômicas no mercado Moore Street, no centro de Dublin.
Ajustes tributários representam mais 2 bilhões de euros do plano. Cerca de metade da receita adicional virá da redução dos limites do imposto de renda e de mudanças em deduções de taxas. O governo poderá receber imposto de renda de 45% dos trabalhadores de renda mais baixa, que eram isentos.
Todos os créditos tributários ligados a imóveis devem ser eliminados até 2014, encerrando políticas controversas que ajudaram a inflar a bolha imobiliária no país e que geraram acusações sobre a relação entre governo e grandes empresários do setor.