O governador de São Paulo, José Serra, afirmou que a economia brasileira melhorou nos últimos anos, mas está numa armadilha que envolve "juros excessivamente elevados, câmbio sobrevalorizado, déficit em conta corrente crescente" e despesas que sobem de forma vertiginosa. "O governo acelera os gastos, o Banco Central aumenta os juros, a moeda se aprecia. Aí se faz política industrial para se corrigir isso. O que entra com uma mão sai com a outra e isso conspira contra a elevação do investimento", comentou ao sair do evento que marca a celebração dos 40 anos da revista "Veja".
Serra destacou que sem investimentos não há crescimento, e a ampliação de formação bruta de capital fixo atingiu no Brasil, como proporção do PIB, patamares inferiores aos registrados por outros países da América Latina, como Argentina, Chile e Colômbia e a média mundial. "Governar para a próxima geração é governar para criar 21 milhões de empregos novos até 2020 (o que seria necessário) para manter a taxa de desemprego em 5%", destacou. "O País tem que procurar a saída dessa armadilha." Em palestra para empresários, políticos e jornalistas, na qual falou sobre os desafios para o desenvolvimento do País no futuro, o governador de São Paulo frisou que o governo federal elevou de forma expressiva as despesas correntes. "Os gastos reais do governo federal, principalmente os de custeio, devem em 2012 ser 130% mais altos do que (o registrado) em 2002", comentou. "Sem reduzir o superávit primário, isso vai exigir um aumento de receitas reais de 9% ao ano", disse.
Para José Serra, será necessário que o tripé que constitui a política econômica em linhas gerais desde 1999 - câmbio flutuante, regime de metas de inflação e austeridade fiscal - ganhe um reforço especial sobre a gestão dos recursos públicos. Ele destacou que a lei de responsabilidade fiscal não se aplica ao Poder Executivo federal, mas somente aos estados e municípios. O governador paulista ressaltou que é preciso redefinir o papel do Estado na economia, que não deve se caracterizar pelo "estatismo", especialmente pela produção de mercadorias, como ocorreu até a década de 1980.
"O Estado do passado deve ser substituído pelo Estado regulador e ativo. Devemos ter o ativismo governamental, como está em relatórios mais recentes do Banco Mundial", destacou. "Os órgãos estatais existentes devem ser estatizados, e não apropriados por partidos ou por grupos corporativos como vem acontecendo", criticou.
O governador afirmou que o Estado deve repensar as políticas públicas para potencializar o desenvolvimento do País no longo prazo. Ele mostrou-se cético em relação à expansão dos saldos comerciais que ocorreram nos últimos anos, em grande parte devido à alta demanda mundial por commodities, o que foi puxado sobretudo por países asiáticos, como China e Índia.
Para José Serra, trata-se de um "equívoco" imaginar que o Brasil vai crescer de forma sustentável ao basear suas vendas externas num "modelo primário exportador", o que é atacado pelo governador há quase 30 anos, quando escreveu textos sobre o tema, inclusive em parceria com a professora Maria da Conceição Tavares. "Formar e desenvolver uma nação é muito mais do que explorar recursos naturais", comentou.
Serra defendeu que as receitas obtidas com o petróleo que será extraído da camada do pré-sal devem ser aplicadas com sabedoria pelos governantes, pois tais reservas devem trazer benefícios para o País. "A Venezuela e o México tiveram a favor dois choques do petróleo nos anos 1970 e quebraram", comentou. O governador não quis se pronunciar se é preciso criar uma nova empresa estatal para administrar as reservas do pré-sal, como é cogitado pelo governo, mas destacou que as autoridades do Poder Executivo precisam "adotar um planejamento adequado", para que essa riqueza mineral beneficie a sociedade por muitos anos.
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