A alta inesperada dos juros na China contribuiu para a intenção do governo brasileiro de frear a queda do dólar ante o real, colocando a moeda norte-americana em alta de mais de 1 por cento no primeiro dia de vigência do imposto maior sobre a entrada de capital estrangeiro para renda fixa.
O dólar subiu 1,26 por cento nesta terça-feira, para 1,687 real. Na máxima do dia, a divisa chegou a ser cotada a 1,700 real, maior nível deste mês.
Na véspera, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, elevou de 4 para 6 por cento a alíquota do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) em aplicações de estrangeiros em renda fixa. A mesma taxa foi adotada sobre a conversão de dólares em reais para depósitos de margem de garantia na bolsa.
Mas, antes de o mercado avaliar o efeito imediato do IOF maior sobre o dólar, a China surpreendeu analistas ao subir os juros pela primeira vez desde 2007, em uma tentativa de limitar as pressões inflacionárias .
"Ele (Mantega) deu sorte", disse o operador de um banco 'dealer', que preferiu não ser identificado, ao comentar a alta do dólar no mercado internacional --cerca de 1,7 por cento ante uma cesta com as principais moedas às 16h30.
O próprio ministro saudou a decisão da China de elevar os juros. O país tem sido criticado em fóruns internacionais por manter o iuan desvalorizado e, com isso, baratear suas exportações. "Eles estão colaborando", comentou Mantega.
Foi um roteiro inverso ao de duas semanas atrás. Quando o governo elevou o IOF de 2 para 4 por cento, a primeira reação do dólar foi cair. À ocasião, a surpresa foi protagonizada pelo banco central japonês, que cortou o juro para praticamente zero.
IOF DEVE PESAR MAIS ADIANTE?
A indiferença do mercado à primeira alta do IOF deste mês corroborava os cálculos de Tatiana Pinheiro e Alexandre Schwartsman, ex-diretor do Banco Central, de que a medida tem efeito inócuo sobre a taxa de câmbio.
"Nossos resultados sugerem que o aumento do imposto sobre a entrada de capital (e medidas similares) é equivalente a atirar pedras no meio de uma guerra", escreveram os analistas.
Mas a rapidez com que o governo publicou um novo decreto para taxar o capital especulativo deixou outros investidores cautelosos com a possibilidade de que novas medidas ainda sejam anunciadas. Com políticas menos previsíveis, aumenta o risco e, consequentemente, diminui a perspectiva de alta do real.
Sandro Serpa, subsecretário de tributação da Receita Federal, afirmou a jornalistas que "a gente está observando o mercado, observando a consequência da medida para ver qual a eficácia dela."
Segundo ele, o Banco Central "vai acompanhar a medida e ver quais são os próximos passos, se é que haverá próximos passos."
EXPORTADORES
A breve subida do dólar a 1,70 real atraiu exportadores para o mercado, afirmou Mario Battistel, gerente de câmbio da Fair Corretora. "Eles estavam com dinheiro parado lá fora. Muita gente já aproveitou e vendeu dólar", disse, dando apoio à visão de outros dois operadores ouvidos pela Reuters.
O volume de operações registradas na clearing (câmara de compensação) da BM&FBovespa até perto do fechamento era de 3,6 bilhões de dólares, pouco além da média diária do mês.