O setor da madeira fechou 10 mil empregos formais nos últimos quatro anos no Paraná metade deles nos últimos 12 meses. O corte equivale a duas vezes o volume de empregados de uma montadora como a Renault, que tem 5 mil funcionários em São José dos Pinhais, na região metropolitana de Curitiba. A queda no volume de construções nos Estados Unidos a partir de 2006 e a crise internacional deflagrada em setembro do ano passado derrubaram as exportações do setor. De janeiro a agosto os embarques da indústria da madeira no Paraná caíram 46% na comparação com mesmo período do ano passado e somaram US$ 343 milhões.
Em 2005, o estoque de empregos na indústria madeireira paranaense era de 58.326 vagas. Em junho deste ano, ele era de 47.858, uma queda de 18%, de acordo com levantamento da Consufor Advisory & Research, empresa de consultoria especializada no mercado florestal. Os dados cruzam informações da Relação Anual de Informações Sociais (Rais) e do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE).
O desemprego atinge principalmente municípios do interior do estado, onde estão concentrados os polos produtores de Bituruna, Guarapuava, Ponta Grossa, União da Vitória e Jaguariaíva.
Uma pesquisa realizada pela Consufor com 253 indústrias do setor florestal no estado abrangendo fabricantes de papel e celulose, compensados, serrados, chapas e painéis identificou que o nível de ociosidade chega a 47%. "O ano de 2009 foi o fundo do poço para o setor", diz Ederson de Almeida, diretor executivo da consultoria.
Estados Unidos
A situação é especialmente crítica entre as fabricantes de compensados e serrados, que tinham nos EUA o principal mercado. Desde 2006, quando o mercado imobiliário norte-americano começou a dar sinais de desaceleração, as vendas de madeira vêm caindo. O ritmo de construção nos EUA passou de 2 milhões de casas por ano para algo em torno de 350 mil casas por ano e hoje está em 530 mil casas por ano. No caso do compensado, os EUA, que chegaram a representar 60% das encomendas, hoje são destino de apenas 7% da produção. Entre 2005 e 2008 as vendas externas de madeira serrada caíram de 536 mil toneladas para 300 mil toneladas em 2008 e as de compensados passaram de 1,021 milhão de toneladas para 588 mil toneladas na mesma base de comparação.
A situação forçou as empresas a diversificar mercados. A Guararapes, de Palmas, no Sul do estado, que chegou a exportar 100% da produção para os Estados Unidos, hoje tem na Europa e no Caribe seus principais mercados, segundo o gerente de exportação, Luis Carlos Reis de Toledo Barros. Atualmente, a empresa ocupa 75% da sua capacidade de produção, mas vem mantendo o volume de vendas nos últimos dois anos, o que impediu demissões. A Guararapes emprega, somente em Palmas, 1,5 mil pessoas. "Paramos de exportar para os EUA em junho. Os preços ainda estão muito defasados em relação aos da Europa", afirma. Para driblar as dificuldades no mercado de compensado de pinus, a empresa também diversificou a linha de produtos e inaugurou uma fábrica de MDF em Caçador (SC), com capacidade para produzir 16 mil metros cúbicos por mês.
De acordo com a Consufor, a produção do setor deve cair 23% em 2009 em relação a 2008 e será 37% menor do que em 2005.
Preços
O corte abrupto por parte das fabricantes foi um fenômeno mundial e conseguiu elevar a cotação dos produtos no mercado internacional. O preço da madeira compensada mais vendida pela indústria paranaense ao exterior subiu de US$ 170 no início do ano para US$ 200 por metro cúbico. Apesar disso, as empresas alegam que a rentabilidade continua em baixa por causa da valorização do real.
De acordo com o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Madeira Processada Mecanicamente (Abimci), Antonio Rubens Camilotti, o setor vem tentando convencer o governo a adotar políticas de incentivo, como desoneração de tributos para a construção de casas de madeira dentro do projeto Minha Casa, Minha Vida. "Mas esbarramos no lobby das empresas de cimento e de aço", afirma. De acordo com ele, muitas companhias do setor passaram a apostar no mercado interno. Hoje 60% da produção de compensados abastece clientes dentro do Brasil.
Para Toledo Barros, da Guararapes, não há sinais de recuperação consistente para o mercado norte-americano antes do segundo semestre de 2011. "A demanda inicialmente será atendida pelas fábricas locais. Só depois o Brasil vai retomar exportações", afirma.