Os mercados começaram o ano assustados – e ninguém consegue apontar uma única e grande razão para isso. Aparentemente, os investidores ligaram as pontas de vários fenômenos, novos ou nem tanto, e concluíram que a economia mundial voltou a ser um lugar perigoso para se investir. Some-se a isso o potencial explosivo dos movimentos de especuladores e está feito o estrago.
Alguns veem o risco de uma crise financeira tão grave quanto a de 2008/09. Não seria tão surpreendente. Os trilhões de dólares e euros que os governos injetaram no setor financeiro para evitar uma quebradeira generalizada impediram que a crise cumprisse seu papel de depurar o sistema, e hoje ninguém sabe quantos bancos-zumbis estão por aí, nem que títulos podres eles escondem eu seus balanços.
Não há uma cadeia de acontecimentos perfeitamente interligados, mas dois movimentos acompanhados de perto pelo menos desde 2014 – a desaceleração da China e a queda dos preços do petróleo – aparecem no início de boa parte das tentativas de explicação da queda das bolsas e da piora das projeções para a economia real.
O que mais chama atenção é a reação da economia global à baixa dos preços do combustível fóssil. No passado, petróleo barato era sinônimo de redução nos custos de transporte e produção. Hoje, o lado ruim da queda das cotações – suspensão de investimentos, falência de fornecedores e queda na arrecadação – parece pesar mais.
O mau humor chegou a tal ponto que até os juros negativos, no Japão e na Europa, foram mal recebidos. A percepção é de que eles são uma espécie de última tentativa de reanimar a economia. Se falharem, ninguém sabe o que fazer depois. Veja a seguir os principais “medos” dos mercados mundiais:
CHINA FREANDO
Dona de 17% do PIB mundial, a economia chinesa cresce cada vez menos. Depois de décadas apostando no investimento e nas exportações, o país tem capacidade produtiva de sobra e tenta se voltar para o consumo doméstico, em uma transição das mais acidentadas. A pouca transparência das estatísticas só aumenta as dúvidas sobre o tamanho da freada; alguns indicadores sugerem que a situação é mais grave que a apresentada pelo PIB oficial. Com a bússola quebrada, o mundo treme a cada tombo do mercado de ações chinês ou relaxa ao mais tênue sinal de que o governo local prepara medidas para estimular a economia. Mas o sentimento predominante, de 2015 para cá, é mais pessimista que otimista.
PETRÓLEO BARATO
Se a China pisa no freio, o mundo também vai mais devagar. Assim, cai a demanda por matérias-primas, e o preço delas. O curioso, no caso do petróleo, é que a produção não parou de crescer. Insanidade das petroleiras? Não exatamente. Liderados pela Arábia Saudita, grandes exportadores viram na queda das cotações uma chance de minar a “revolução do xisto”, que reduziu a dependência norte-americana de combustíveis importados. Mas a estratégia – que ajudou os preços a cair 70% em um ano e meio – não vai durar para sempre. A queda da renda petroleira esfarelou economias como as da Venezuela e da Rússia. Nesta semana, esses países e também a Arábia Saudita e o Catar concordaram em congelar a produção, para “equilibrar o mercado”.
BANCOS DOENTES
A queda das cotações do barril derruba as receitas de petroleiras e países produtores e compromete a expansão dessa indústria. Segundo a consultoria britânica Wood Mackenzie, em 2015 foram suspensos ou cancelados 68 grandes projetos, avaliados em US$ 380 bilhões. Neste ano, esse cenário começou a afetar bancos, não só porque eles financiaram petroleiras e fornecedores que podem dar calote, mas porque carregam montanhas de ações e títulos vinculados ao petróleo – fundos soberanos de países exportadores, que estariam liquidando ativos para levantar dinheiro, estão entre os suspeitos pela derrocada das bolsas nas últimas semanas. Em efeito comum nos momentos de pânico, a desconfiança despertou uma série de temores adormecidos sobre a saúde financeira dos bancos.
EMERGENTES SUBMERGINDO
Como ninguém esperava grande coisa de emergentes como a Rússia e o Brasil, eles aparecem mais como vítimas da turbulência do que como culpados por ela. O Brasil já colecionava problemas (PIB em retração, desemprego e inflação em alta, rombo nas contas públicas), causados mais por questões internas que pelo fim do superciclo das commodities. Mas a situação piorou com a continuidade da queda do barril, que aprofundou o corte de investimentos da Petrobras. E o eventual agravamento do mercado externo cortaria o fio de esperança representado pelas exportações, que têm a alta do dólar como estímulo.
RECESSÃO AMERICANA
O tombo dos mercados financeiros reacendeu o temor de recessão nos Estados Unidos, algo fora do radar até poucos meses atrás, e esse medo realimentou as perdas das bolsas mundo afora. Pesquisa do Wall Street Journal com economistas indicou que a chance de recessão no país chegou a 21% – ainda pequena, mas a maior desde 2012. Uma série de indicadores têm causado apreensão, entre eles os resultados empresariais: a Thomson Reuters estima que os lucros das companhias reunidas no índice S&P 500 recuaram 4% no último trimestre de 2015. Nesse contexto, até a leve alta dos juros de dezembro, a primeira em quase uma década, passou a ser vista como prejudicial.
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