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Imposto

Mercado relativiza papel de IOF em dólar acima de R$1,70

Quase um mês após o início da cobrança de IOF sobre o capital estrangeiro para ações e renda fixa, o dólar mantém-se acima de 1,70 real. Sucesso do governo? Pode ter sido somente uma coincidência.

Profissionais do mercado creditam ao Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) apenas uma parte da tarefa de segurar a queda do dólar. O aumento da incerteza sobre a postura do governo, que mostrou disposição de atuar contra uma valorização acentuada do real, deixou investidores cautelosos.

Mas, não fosse a mudança no comportamento dos mercados internacionais, o dólar já poderia ter abandonado o nível de 1,70 real, ampliando a queda de mais de 25 por cento em relação à moeda brasileira neste ano, segundo os analistas.

"(O IOF) gerou um ruído no curto prazo. Por esse aspecto, funcionou", disse Roberto Padovani, estrategista-chefe do banco WestLB do Brasil.

"Agora, o fato é que nesse primeiro mês os efeitos foram muito contaminados pela realização (de lucros) no mercado internacional. Houve uma piora na aversão a risco global, em todas as moedas. Não dá para dizer que todos os movimentos no câmbio sejam causados pelo IOF", ressalvou.

Nesta quarta-feira (18), com a ajuda do cenário externo, o dólar ameaçava novamente o nível psicológico de 1,70 real, cotado a 1,716 real às 15h56.

José Francisco de Lima Gonçalves, economista-chefe do banco Fator e professor de História Econômica da FEA-USP, também relativiza o efeito do IOF sobre o câmbio, mas avalia que a intenção do governo foi bem-sucedida.

"Como previsto, não acabou com a tendência, mas se você pegar este mês o dólar ficou mais de lado do que caindo", afirmou. "A maior parte do sucesso é o fato de que as pessoas se convenceram de que o câmbio é visto como um problema. Não só aqui no Brasil, mas no mundo inteiro", acrescentou.

Outros países emergentes discutiram a adoção de medidas de controle cambial, como Taiwan, que implantou limites para a entrada de recursos. Além disso, a questão foi abordada, ainda que sem muita ênfase, na reunião do G20 no começo de novembro.

Dólar estagnado em todo o mundo

A taxação de 2 por cento sobre a entrada de capital para ações e renda fixa foi anunciada em 19 de outubro, e entrou em vigor no dia seguinte.

À ocasião, o índice do dólar em relação às principais moedas estava em 75,51 pontos, queda de 6,95 por cento em relação ao início do ano e de 5,8 por cento no segundo semestre. Nesta quarta-feira, esse termômetro mantinha-se em nível semelhante ao do início do IOF, a 75,09 pontos.

O índice Reuters-Jefferies de commodities, outro indicador que serve de bússola para o real devido ao peso que as matérias-primas têm no comércio do país, exibia em 19 de outubro alta de 21,83 por cento em 2009 e de 11,88 por cento no segundo semestre, a 279,65 pontos.

Nesta quarta-feira (18), o indicador estava em 277,79 pontos, baixa de 0,67 por cento em relação ao dia do anúncio do IOF.

Quanto ao fluxo cambial, houve alguma mudança, mas é preciso considerar que o mês passado foi marcado por fortes operações pontuais, como a oferta inicial de units do Santander Brasil.

Em outubro, a média diária de entrada bruta de recursos no segmento financeiro caiu de 2,32 bilhões de dólares antes do dia 20 --contando a megaoferta do Santander-- para 1,32 bilhão de dólares até o final do mês. Em novembro, essa média está em 1,17 bilhão de dólares.

Mas, ainda assim, o saldo financeiro continua positivo --de 2,39 bilhões de dólares entre 20 de outubro e 13 de novembro--, e o mercado espera continuidade dos ingressos, principalmente por conta de captações como a de 2,5 bilhões de dólares planejada pela JBS.

"A exuberância irracional do real veio para ficar. Isso advém dos fundamentos da economia brasileira, do investment grade", avaliou Nathan Blanche, sócio-diretor da Tendências Consultoria, que vê o IOF como "paliativo".

Além disso, a queda na média diária dos ingressos tampouco pode ser isolada do contexto de maior aversão a risco.

Para muitos, isso teve mais impacto do que o imposto, já que as entradas vinham sendo alimentadas, principalmente, por investimentos mais duradouros como emissões de dívida, e não por movimentos especulativos como o carry-trade --alvo declarado da cobrança do IOF.

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