A crise financeira mundial teve contribuição significativa para o cenário benigno da inflação brasileira neste ano e, mesmo com a retomada da economia, a perspectiva continua sendo favorável para 2009 e também 2010.

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O quadro deste ano deve-se ao fato de que a recuperação é gradual, um ano após o agravamento da turbulência com o colapso do Lehman Brothers. Em 2010, a tranquilidade resulta da inércia inflacionária baixa e das commodities comportadas.

Os últimos dados mostraram que os Índices Gerais de Preços (IGPs) interromperam as deflações vistas durante meses, começando a registrar inflação modesta no fim de agosto. As taxas no varejo, que apontaram o menor patamar em três anos em agosto, tiveram aceleração na abertura de setembro, mas devido a pressões pontuais de alimentos.

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Os números foram divulgados às vésperas do aniversário de um ano da quebra do Lehman, em 15 de setembro, que detonou uma onda de pessimismo nos mercados e foi seguida por problemas em outras instituições financeiras, pacotes de governos, demissões em grande escala e queda de produção em todo o mundo.

Apesar de alguns índices terem surpreendido para cima, não mudaram as expectativas de analistas de que a inflação deste ano e do próximo ficará abaixo do centro da meta de 4,5 por cento.

"A tendência de desaceleração da inflação como um todo segue consolidada. Deve haver alguma aceleração nas taxas mensais (a partir de agora), mas não é nada perigoso no sentido de definição de política monetária ou previsões do ano", disse Francis Kinder, analista da Rosenberg & Associados.

"Temos um hiato (capacidade ociosa) bastante aberto. No cenário de 2010, temos os preços administrados e os serviços baixos, porque serão reajustados com os IGPs baixos deste ano."

Câmbio e commodities

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O alívio da crise na inflação veio da queda dos preços das commodities, da baixa do dólar ante o real, de um menor consumo de alguns bens e de incentivos fiscais a vários setores.

O relatório Focus de 12 de setembro de 2008, divulgado exatamente no dia 15, mostrou que o mercado previa antes da quebra do Lehman inflação brasileira em 2009 de 4,99 por cento. O Focus desta semana apontou previsão de 4,30 por cento.

"A crise veio acompanhada de uma pressão cambial, mas ela foi muito aquém da de 2002. Nós (América Latina) não fomos o foco da crise desta vez, o Brasil tem uma economia mais sólida agora... E depois houve uma apreciação (do real)", disse Zeina Latif, economista-chefe do ING.

"Outra questão foi uma queda profunda das commodities. O efeito líquido câmbio/commodities foi deflacionário... os vetores da crise foram no sentido de desinflar a inflação."

Entre janeiro e agosto, os preços de alimentos medidos pelo IPCA acumularam alta de 2,56 por cento, a menor desde 2006.

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O Itaú Unibanco lembrou, em relatório a clientes, que as commodities continuarão ajudando a inflação em 2010.

"Apesar do crescimento mais acelerado, nossas projeções de inflação não se modificaram, em virtude da menor pressão dos preços das commodities no ano que vem. A elevação que esperávamos para esses preços já ocorreu sem maiores impactos sobre os preços domésticos, em função da apreciação do real."

Preços como de automóveis e eletrodomésticos da linha branca também caíram, devido a isenções fiscais concedidas pelo governo para estimular o consumo.