A retração que afeta a economia brasileira chegou também às micro e pequenas empresas. Levantamento realizado pelo Sebrae Nacional com base nos dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED) registrou, em outubro, o fechamento de 49,7 mil vagas com carteira assinada nas Micro e Pequenas Empresas (MPEs). No mesmo período do ano passado, o segmento havia criado 52,7 mil novos postos de trabalho.
O corte é uma tendência desde o mês passado, quando a pesquisa apurou a perda de 23,4 mil registros em carteira. O segmento que encabeça o movimento é a indústria de transformação, que eliminou 19,5 mil vagas em setembro, seguido pela construção civil (14 mil). O comércio, que vê neste período uma janela para faturar mais com as vendas de fim de ano, precisou cortar 2 mil empregados formais.
Dificuldades
A empresária Ana Simões, dona da loja A&S, que importa produtos de decoração, papelaria e cozinha, sentiu ao longo do ano dificuldade para manter intacta a equipe de cinco pessoas. A saída foi, em julho, demitir um funcionário, reposto dois meses depois por uma pessoa que aceitou remuneração bem inferior.
“As poucas entrevistas com candidatos que fizemos esse ano foram com pessoas demitidas, que não conseguiram outro emprego no mesmo nível e precisaram ceder e aceitar salários menores, receber por comissão acima de desempenho, ou contratos por pessoa jurídica”, relata Ana.
A empresária não espera que haja uma recuperação do seu negócio com as vendas de fim de ano. Tanto que Ana suspendeu na sua loja as contratações temporárias, típicas desse período. “Se estivéssemos com uma demanda maior teríamos, desde outubro, pelo menos três ou quatro funcionários a mais. Pelo menos dois deles em vendas. É a última chance que temos para salvar o ano”, pontua.
Saldo positivo
No acumulado do ano, porém, o saldo ainda é positivo. As MPEs criaram até outubro 65,8 mil vagas, mas a tendência aponta para um índice bem abaixo dos 775,6 mil empregos criados pelas micro e pequenas no ano passado. Para o professor de MBA do Insper Otto Nogami, os cortes em postos de trabalho devem perdurar até, pelo menos, o ano que vem. “Estamos vivendo um fenômeno de retorno às condições de produção de aproximadamente oito anos atrás”, pontua o especialista. “É irreversível e o período de festas talvez não seja suficiente para retomar o fôlego” analisa.
Saída
Para o presidente do Sebrae Nacional, Guilherme Afif Domingos, a queda na criação de empregos pode ser consequência do acesso dificultado ao crédito para as MPEs. “Quem segura o emprego no Brasil são os pequenos (empresários). É a economia real e o caminho para a saída da crise. Eles precisam ser livres para serem criativos”, pontua o representante do segmento.
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